Situação econômica do país coloca Paulo Guedes na mira do Congresso

Críticas ao titular da Economia têm crescido, inclusive, nos partidos do Centrão; parlamentares avaliam que ministro não tem ‘tato político’ e desconhece a realidade das classes mais pobres do país

  • Por André Siqueira
  • 06/09/2021 15h24
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MATEUS BONOMI/AGIF - AGÊNCIA DE FOTOGRAFIA/ESTADÃO CONTEÚDO O ministro da economia, Paulo Guedes No último trimestre, PIB do Brasil recuou 0,1%, mas Guedes minimizou o resultado e afirmou que o país segue em ritmo de crescimento

A escalada dos preços do combustível e dos alimentos, somado ao número de desempregados no país e o desempenho da economia brasileira no segundo trimestre deste ano, período no qual o Produto Interno Bruto (PIB) recuou 0,1%, colocou o ministro da Economia, Paulo Guedes, na mira do Congresso Nacional. Embora ainda goze de prestígio junto ao presidente Jair Bolsonaro, ao menos publicamente, parlamentares não têm poupado críticas à atuação do “Posto Ipiranga”, escolhido para comandar um superministério formado pela unificação das pastas da Fazenda, Planejamento, Indústria, Comércio Exterior e Serviços.

Ao longo das duas últimas semanas, a reportagem ouviu deputados e senadores de diversos partidos, da oposição e de legendas que dão sustentação ao governo Bolsonaro no Congresso, para colher impressões sobre a gestão de Paulo Guedes. Como a Jovem Pan mostrou, a insatisfação com o ministro da Economia tem crescido, inclusive, nas siglas que compõem o Centrão. Presidente do Partido Liberal (PL) no Rio de Janeiro, o deputado federal Altineu Côrtes (PL-RJ) afirma, em um vídeo que circulou no WhatsApp, que Guedes “zombou do povo brasileiro” e “está atrapalhando o governo Bolsonaro”. Na gravação, o parlamentar rebateu a declaração do ministro sobre o aumento na conta de luz. “Qual o problema agora que a energia vai ficar um pouco mais cara porque choveu menos?”, questionou o auxiliar presidencial na quarta-feira, 25, no lançamento da Frente Parlamentar do Empreendedorismo.

Guedes é constantemente criticado desde o início do governo Bolsonaro, mas, nos últimos meses, o Congresso tem subido o tom contra o titular da Economia. Na avaliação dos parlamentares, o ministro tem pouco “tato político” e não tem sensibilidade para tratar de assuntos que atingem a classe pobre do país. Nas conversas com a reportagem, os parlamentares citaram algumas declarações do economista que repercutiram desde o início de sua gestão, entre elas, a de que o dólar alto “é bom para todo mundo” porque, com a moeda mais baixa, “todo mundo” estava indo para a Disney, inclusive, “empregada doméstica”. “Uma festa danada”, afirmou, em fevereiro de 2020. No fim do mês de agosto deste ano, o vice-presidente da Câmara dos Deputados, Marcelo Ramos (PL-AM), escreveu, em seu perfil no Twitter, que o ministro está descolado da realidade. “Não tenho nenhum desapreço pessoal pelo ministro Paulo Guedes, pelo contrário, o respeito e quero bem, mas é impressionante a desconexão dele com a realidade do povo. Desemprego, fome, inflação, juros não o incomodam. O sonho do brasileiro era morar no discurso do ministro”, diz a publicação.

Segundo o senador Carlos Viana (PSD-MG), vice-líder do governo no Senado, a relação da Casa com o ministro se deteriorou no último ano. “A relação dos senadores com o governo está muito desgastada, muito por conta do ministro Paulo Guedes. Ele, hoje, é um ministro que tem dificuldade na relação com as bancadas”, afirmou à Jovem Pan. “Logo no início da pandemia, os senadores começaram a se queixar de que não eram recebidos pelo Guedes, ou que ele recebia apenas um pequeno grupo de parlamentares. Os colegas também reclamam que não são cumpridos os acordos fechados nas votações. O líder do governo propunha [um encaminhamento], os partidos se reuniam, os líderes acertavam, fechavam o acordo, e o governo modificava [a proposta] na Câmara. De lá para cá o relacionamento se esgarçou de maneira profunda”, prossegue o membro do PSD, segunda maior bancada do Senado. Pedindo reserva, o presidente nacional de um partido de centro fez o seguinte diagnóstico: “O ministro vive dizendo que o Congresso precisa ajudá-lo com as reformas. Mas nada do que ele propõe resolve os problemas. Muito pelo contrário: às vezes, piora o que já está ruim”.

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