Protestos continuam na Venezuela, porém, com menos intensidade
Nélida Fernández.
Caracas, 25 fev (EFE).- Os protestos que há quase duas semanas ocorrem na Venezuela contra o presidente Nicolás Maduro continuaram nesta terça-feira em vários pontos do país, mas com menor intensidade e menos incidentes violentos, depois que a semana começou com duas mortes e saques.
As barricadas voltaram em algumas regiões no 14º dia de protestos em Caracas, Maracaibo, Táchira, Carabobo e Aragua, mas desta vez e ao contrário de ontem, deixaram espaço para a circulação dos veículos.
No entanto, o clima de tensão se mantém. A procuradora-geral, Luisa Ortega, disse ontem que até o momento havia um total de 13 mortos por consequência dos protestos, um número que a imprensa local elevou para 15, após duas mortes que ocorreram ontem e que foram vinculadas com incidentes relacionados com os protestos.
Dois homens entraram na lista das mortes ligadas aos protestos: Jimmy Vargas, que caiu de um edifício em Táchira, no oeste do país, quando a polícia supostamente atirava bombas de gás e balas de chumbo, e Wilmer Carballo, que supostamente foi atingido por um disparo em um protesto em Aragua, no centro do país.
O prefeito opositor Delson Guarate, do município Mario Briceño no estado de Aragua, denunciou que “grupos armados” aproveitaram ontem o clima de protestos para iniciar uma onda de saques em lojas dessa comunidade, vizinha da capital estadual Maracay.
Os incidentes, segundo o prefeito, também deixaram um saldo de pelo menos três militares e sete manifestantes feridos, a maioria por balas de chumbo.
Também houve o assassinato de uma pessoa que supostamente participava hoje dos saques e que morreu com nove tiros em um crime que, segundo as primeiras pesquisas policiais, poderia estar relacionado com um acerto de contas.
Em Caracas, dezenas de estudantes e simpatizantes opositores marcharam hoje até a embaixada cubana para entregar um comunicado no qual exigem o fim da “intromissão”, que, segundo dizem, o governo de Havana exerce nas questões internas do país.
“Não permitiremos mais intromissão, que continuem controlando nossos meios de comunicação e determinem o que podemos ver e quando, não permitiremos que determinem nossas operações militares nem doutrinem nossos filhos”, disse a líder estudantil Gaby Arellano ao ler o “Comunicado à ditadura de Cuba”.
Nas cercanias da embaixada cubana, fortemente protegida por efetivos da Guarda Nacional e da polícia, os jovens entregaram a carta a um oficial policial que a levou à embaixada para retornar posteriormente com ela assinada e datada.
Por sua parte, o governo reuniu trabalhadores da companhia telefônica “Cantv” para apoiar Maduro.
“Vamos controlando e amansando os grupos violentos”, disse o chefe de Estado em uma nova rede obrigatória de rádio e televisão.
O presidente disse que existem “dois modelos de Venezuela”, a do progresso, do socialismo, da paz, “do orgulho de ser venezuelano” e a da “destruição, do capitalismo, do racismo e da intolerância”.
No mesmo ato, Maduro lamentou o assassinato do ex-campeão de boxe Antonio Cermeño, encontrado morto hoje depois que foi sequestrado ontem, e assegurou que seus assassinos são “matadores de aluguel”.
Também disse que “na mesma hora” o presidente do canal estatal “TVES”, Winston Vallenilla era agredido em sua casa no leste de Caracas e acusou os “grupos violentos”, “fascistas” e “guarimberos” (que fazem barricadas) de serem os responsáveis por esse ataque.
Por sua parte, o vice-presidente da Venezuela, Jorge Arreaza, aproveitou seu discurso de prestação de contas diante do Parlamento para pedir a participação da oposição na Conferência Nacional de Paz, convocada para amanha por Maduro, e que não cometa os “erros” do passado.
Os bispos da Conferência Episcopal da Venezuela (CEV) rejeitaram hoje o uso da força por parte das forças de segurança do Estado que – afirmaram -“extrapolaram” na repressão de várias manifestações nos últimos dias.
Opinaram que a promotoria “deve investigar esses casos e pôr nas mãos da justiça os membros dessas forças que tenham abusado de sua autoridade” e lembraram que as autoridades policiais e militares “são obrigadas a respeitar os Direitos Humanos, principalmente o direito à vida”. EFE
nf/rpr
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