Quase 100 civis morrem em um dos atentados mais sangrentos do Afeganistão
Cabul, 15 jul (EFE).- Quase cem civis morreram e 42 ficaram feridos em um atentado suicida cometido nesta terça-feira com um veículo carregado de explosivos em um movimentado mercado no sudeste afegão, em um dos ataques mais sangrentos registrados no país.
O ataque, no qual faleceram pelo menos 89 pessoas, ocorreu por volta das 10h30 local (3h, em Brasília) em um mercado abarrotado de gente no distrito de Orgun, na província de Paktika, afirmou à Agência Efe o porta-voz do Ministério da Defesa afegão, Zahir Azimi.
O porta-voz explicou que entre os mortos havia muitas crianças e mulheres e acrescentou que os feridos foram evacuados em helicóptero a um hospital.
O governador do distrito de Orgun, Mohammed Reza Kharoti, disse à Agência Efe que o mercado estava repleto de gente que fazia compras do Ramadã e se preparavam para a festa de Eid al-Adha ou Festa do Sacrifício, a maior festividade para os muçulmanos.
“A explosão foi muito potente e sacudiu toda a zona. Havia sangue por todos lados”, acrescentou Kharoti, que assegurou que entre os mortos havia, além de civis, dois policiais, contou à Agência Efe um agente que se transferiu ao mercado.
“Vi os cadáveres de dois dos meus companheiros em uma poça de sangue e pó”, manifestou o agente local Urban Ali.
As imagens recolhidas pela imprensa local mostraram a área do atentado completamente destruída, com carros carbonizados, lojas destruídas e dezenas de pessoas tentando resgatar os sobreviventes.
“Os inimigos do Afeganistão pagarão um duro preço por matar afegãos. Não podem nos deter. O país seguirá adiante”, sentenciou em sua conta do Twitter o ministro do Interior afegão, Mohammed Umar Daudzai.
Este atentado é um dos piores cometidos no país asiático nos últimos anos.
Mais de 60 morreram em dois atentados contra a minoria xiita em 2011 e outras 41 perderam a vida em outro ataque suicida na Festa do Sacrifício em 2012.
Além disso, o ataque coincide com um período de instabilidade no país à espera da divulgação dos resultados das eleições presidenciais depois que os dois candidatos, Ashraf Gani e Abdullah Abdullah, chegaram a um acordo para a auditoria de todos os votos.
Abdullah denunciou uma fraude maciça na apuração de votos por parte da comissão eleitoral e tinha ameaçado se retirar da carreira eleitoral e formar um governo paralelo até que no fim de semana passado, e sob a mediação do secretário de Estado americano John Kerry, foi acordado revisar 100% das cédulas.
“Minhas mais sinceras condolências para os familiares das vítimas”, afirmou em sua conta no Twitter Gani, que liderava a primeira apuração preliminar do segundo turno de 14 de junho com 56,44% das cédulas.
Um porta-voz dos talibãs, Zabiula Mujahid, rejeitou o envolvimento dos insurgentes no atentado, já que “sempre buscam o modo de proteger os civis e não é sua intenção perpetrar esse tipo de ataques”, recolhe o meio local “Khaama”.
No entanto, o analista afegão Ahmad Sayidi assegurou à Efe que os talibãs são os autores do ataque, já que -afirmou- “ao não poder atentar contra a polícia ou os (soldados) estrangeiros, optaram por seu segundo alvo habitual: os civis”.
“Não se importam com nada e nem ninguém. A única coisa que desejam é trazer a todo custo a insegurança” ao Afeganistão, recalcou Sayidi.
Os atentados suicidas são, junto aos artefatos explosivos improvisados (IED, segundo sua sigla em inglês), os métodos mais recorrentes dos talibãs para atacar as forças afegãs e internacionais, embora na prática causem um elevado número de vítimas civis.
Hoje, em outro atentado, dois empregados do Palácio Presidencial morreram e sete ficaram feridos na explosão de uma bomba durante a passagem do veículo no qual viajavam nos arredores de Cabul.
Nos seis primeiros meses deste ano, no Afeganistão perderam a vida 1.564 civis, 17% a mais que na primeira metade de 2013, enquanto os feridos foram 3.289, 28% a mais.
Os dados mostram uma preocupante situação no Afeganistão depois que no ano passado as forças de segurança afegãs se responsabilizaram pela segurança após a retirada paulatina da missão da Otan (Isaf), que terminará definitivamente no final de 2014.
Os Estados Unidos anunciaram que manterão cerca de 9,8 mil soldados em território afegão até o final de 2016. EFE
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