Radicais da Ucrânia reivindicam mérito da vitória sobre Yanukovich

  • Por Agencia EFE
  • 25/02/2014 16h03

Arturo Escarda.

Kiev, 25 fev (EFE).- Os ultranacionalistas da Ucrânia estão atribuindo a eles mesmos todo o mérito da vitória na revolução que acabou com o regime de Viktor Yanukovich, e advertem que a classe política ucraniana terá que conviver com eles na nova configuração do país.

“Nós, o Setor de Direitas, exercemos um papel fundamental na revolução. Só em nosso grupo, dois dos nossos desapareceram nos enfrentamentos, e o mesmo acontece em outros grupos. Dizem que os antidistúrbios esconderam os corpos que ficavam em seu território”, disse à Agência Efe Igor, um dos líderes desta organização.

Principal força de combate dos manifestantes nos confrontos da semana passada na capital Kiev, o Setor de Direitas é uma organização que aglutina vários grupos de ultradireitistas, incluídos torcedores fanáticos de times de futebol.

Ainda eram contados os mortos nos conflitos quando o então presidente Yanukovich e os três líderes da oposição no Parlamento assinaram em 21 de fevereiro um acordo de paz que contemplava a criação de um governo de união nacional, sem vencedores e perdedores.

Nessa mesma noite, o Setor de Direitas e as facções mais combativas das chamadas autodefesas de Maidan (como se conhece o movimento popular de protestos e resistência popular contra o regime), fizeram um ultimato aos líderes políticos: não haverá acordos com Yanukovich e seus aliados ou sangue voltará a ser derramado.

No dia seguinte, Yanukovich já tinha fugido para o leste do país, entregando todo o poder aos opositores, e o recém-nomeado ministro do Interior, Arsen Avakov, convidava os líderes e militantes do Setor de Direitas a se integrar às novas forças da ordem ucranianas.

Muitos reagiram incrédulos à oferta, mas como ficou nítido na noite de 21 de fevereiro, as novas autoridades ucranianas se sentem fracas diante dos radicais, aos quais abriram as portas das instituições do Estado por sua determinação de lutar.

“Nenhum deles – nem Batkivschina, nem UDAR nem Svoboda – participaram realmente da revolução, somente alguns de seus simpatizantes. A cúpula não fez mais que frear a revolução com suas negociações com Yanukovich”, opinou Igor, em referência aos principais partidos da oposição.

Não são apenas os políticos que temem. Muitos cidadãos comuns também veem em sua ascensão a capitulação da política moderada perante facções violentas com ideias próximas ao nazismo.

“Somos acusados de extremistas, que queremos derramamento de sangue. O que queremos é uma mudança no poder. Gostaríamos de conseguir isso pela via pacífica, mas nos atacam, e não nos resta outra alternativa que não seja reagir”, comentou Igor.

Ele garante que o que define ideologicamente a organização é um “nacionalismo ucraniano autossuficiente”, que não tem necessidade e nem quer impor ideologias do passado.

“Não é fascismo nem nazismo. A questão dos fascismos é para os historiadores, porque tudo o que haverá no futuro será diferente”, declarou, respaldado por uma dezena de companheiros armados e com o rosto escondido por capuzes.

Estabelecidos na Rada Suprema (Parlamento) da Ucrânia, eles exigem a libertação dos nacionalistas detidos durante os três meses de protestos populares contra Yanukovich.

“Continuam presas 23 pessoas, todas elas líderes das organizações que fizeram a revolução. Agora, poderiam liderar a Maidan (praça da Independência), que não tem um líder, porque a maioria de seus verdadeiros dirigentes segue na prisão”, disse Igor.

Eles buscam reconhecimento social e representação política na nova Ucrânia, “não como um grupo de jovens que quer sangue”, mas como pessoas que querem “mudanças no país” e uma renovação completa no Parlamento.

“Todos os que estão agora na Rada, tanto os que estiveram com Yanukovich quanto a oposição”, que assumiu agora o comando, “são os mesmos que estiveram sempre”, concluiu Igor. EFE

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