Seleção do Taiti pode ter trazido zika vírus ao Brasil durante Copa das Confederações

  • Por Jovem Pan
  • 24/03/2016 15h05
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Uruguai bate Taiti por 8x0 e está nas semifinais da Copa das Confederações EFE/Srdjan Suki Uruguai bate Taiti por 8x0 e enfrenta o Brasil na Copa das Confederações

O zika vírus pode ter sido o pior legado que a Copa das Confederações deixou no Brasil. Um estudo inédito feito pelo Instituto Evandro Chagas, no Pará, em parceria com a universidade de Oxford, na Inglaterra, rastreou o mapeamento genético do zika. Hoje são mais de 4 mil casos suspeitos de microcefalia associados ao vírus no País.

Descobriu-se que o zika está no Brasil há mais tempo do que se imagina. O vírus entrou no País entre maio e dezembro de 2013, um ano antes, portanto, da primeira confirmação de diagnóstico oficial.

Os resultados foram publicados às 15h, horário de Brasília, na revista científica Science, e obtidos antecipadamente pela repórter Jovem Pan Carolina Ercolin.

Pedro Fernando da Costa Vasconcelos, diretor do Instituto Evandro Chagas e um dos maiores especialistas em dengue e arboviroses, explicou em entrevista exclusiva os métodos e os resultados do estudo.

“Comparamos os vírus que estavam circulando na Polinésia Francesa e em outros países da Ásia e da África com as cepas (ou estirpe, que reúne grupos da mesma variação genética) que nós isolamos do vírus zika no Brasil”, explica Vasconcelos.

Foi comparada também a evolução do vírus com dispersão geográfica no território brasileiro.

“Essa análise filogeográfica e evolutiva nos mostrou um cenário em que o vírus da zika possivelmente entrou entre maio e dezembro de 2013 no Brasil. E o evento de grande porte que ocorreu neste período foi em junho, a Copa das Confederações. Daí a hipótese maior, com uma probabilidade de 95% de chance de acerto, de que o vírus foi introduzido no Brasil durante a Copa das Confederações”, disse.

A seleção do Taiti participou da competição e ficou no Brasil entre 9 e 24 de junho daquele ano. O país asiático é a maior ilha da Polinésia Francesa, na região do Oceano Pacífico que também apresentou epidemia do zika vírus entre 2013 e 2014, com 32 mil habitantes apresentando sintomas da doença (cerca de 12% da população local).

Pedro Fernando da Costa Vasconcelos diz que tem alertado o ministério da Saúde para possível entrada de novas doenças durante as Olimpíadas do Rio (Divulgação/ Kelvin Souza – assessoria)

A presença da equipe na Copa “reforça essa possibilidade” de a introdução do vírus ter ocorrido durante o evento esportivo. O time do Taiti sofreu três goleadas durante os jogos (6×1 da Nigéria, 8×0 do Uruguai e de 10×0 da Espanha).

O último jogo do Taiti no Brasil foi em Recife (em 23 de junho de 2013), capital de Pernambuco, que tem registrado os índices mais altos de zika. Uma das hipóteses é que os taitianos possivelmente infectados se concentraram por lá. A outra é de que havia maior quantidade de mosquitos Aedes Aegypti em Recife era mais abundante por lá, “e as pessoas que chegaram em fase de viremia, quando o vírus circula no sangue foram picadas”.

Método

Foram analisadas sete amostras isoladas do vírus zika em diferentes estados do Brasil, associadas a diversos quadros clínicos (sintomas) – desde casos de microcefalia, zika “clássico” (com febre e dores pelo corpo) até contágio por transplante de sangue e intensidade “leve” de sintomas.

“O sequenciamento nos mostrou que o vírus zika que ocorreu e ocorre no sudeste da Ásia e na região do pacífico não (se) alterou praticamente nada aqui no Brasil”, exlica o diretor do Evandro Chagas. As cepas asiáticas têm 99,8% de similaridade com os conjuntos genéticos do vírus em território brasileiro.

“Isso nos permite concluir que a introdução do vírus se deu de uma única vez, muito provavelmente durante a Copa das Confederações”.

Aplicação

Com o mapeamento realizado, abrem-se as portas para novos estudos patogênicos para avaliar se as pequenas variações filogenéticas entre o zika brasileiro e asiático (de 0,2%) “podem justificar a alteração dos quadros clínicos mais severos que nós estamos vivendo no Brasil, de microcefalia”, afirmou Vasconcelos.

Parte do material genético desvendado pode também ser utilizado para o desenvolvimento de provas e de vacinas, avalia.

Sobre as pesquisas em gera, Vasconcelos comenta: “A gente está descobrindo mais condições que o vírus causa”, como casos de cegueira, surdez, comprometimento cardíaco das crianças que nascem após a contaminação e também “mais casos graves de zika em adultos”, algo desconhecido até então na literatura médica.

“Quanto maior conhecimento nós tivermos, mais as informações são úteis par as ações de controle, mas também nos dá a ideia de um quadro mais amplo e grave do que se pensava antes de se ter todo esse conhecimento”, afirmou.

Rio 2016

Se a entrada do zika no Brasil realmente se deu durante um grande evento futebolístico, como o país pode se precaver durante as Olimpíadas e Paraolimpíadas no Rio de Janeiro, que devem receber representantes de mais de 200 países no meio do ano.

O diretor do Instituto Evandro Chagas recomenda: “Precisamos fortalecer de forma intensa o controle vetorial (presença do mosquito transmissor, Aedes aegypti) a partir de maio, até o fim das Paraolimpíadas (que termina em 18 de setembro) no Rio de Janeiro”, a fim de diminuir de forma “dramática e intensa” o nível de infestação vetorial e o número de vírus circulando durante as Olimpíadas.

Pedro Vasconcelos, que ajudou a firmar parceria entre o Instituto, o governo brasileiro e a Universidade do Texas em fevereiro (anunciada em primeira mão pela Jovem Pan), diz que tem conversado com o ministro da Saúde

Ele pede a união dos governos municipal, estadual e federal. “O controle vetorial é importante não só por causa do zika, mas pela possibilidade de introdução de outros vírus transmitidos por Aedes ou por Culex, que também tem muitos, como a encefalite japonesa, vírus grave transmitido na Ásia”, exemplifica.

Segunda foto do texto: Venilton Kuchler/ANPr

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