Sem-teto retirados de prédio na zona sul do Rio temem ficar na rua
Com duas malas e um cobertor nas mãos, Janaína Rocha, de 45 anos, caminhava desorientada pela Avenida Ruy Barbosa, zona sul do Rio de Janeiro, no fim da manhã de hoje (14), depois da reintegração de posse no Edifício Hilton Santos, que pertence ao Clube de Regatas Flamengo e está arrendado para a empresa REX, do Grupo EBX.
“Estão querendo levar a gente para o abrigo. Estou vendo o que eles estão resolvendo. Isso me assustou. Fiquei nervosa. Não estou nem conseguindo falar direito”, disse ela, enquanto tentava manter de pé uma das malas, com a rodinha quebrada.
Janaína estava na ocupação com a filha e os netos. Ela foi para o prédio, no bairro do Flamengo, depois de ser expulsa de um terreno da Companhia Estadual de Abastecimento de Água (Cedae), no mês passado. A família acompanhou o grupo que acampou na Cinelândia, no centro do Rio, e chegou ao prédio do Clube de Regatas Flamengo no último dia 7.
“Eu morava na casa de uma prima, que já é de idade, mas tinham mais cinco pessoas lá, que eram os filhos dela, netos. Ficava em Benfica. Agora que eu saí, já não dá mais para voltar para lá. Já tem outra pessoa”, diz Janaína.
Quando viu a fumaça do incêndio – iniciado no interior do prédio, no momento da desocupação –, outra sem-teto que se identificou apenas como Michele, apertou o passo de mãos dadas com a filha para se afastar do local. Carregando as roupas em sacolas, ela contou sua preocupação: “Não sei o que vai acontecer. Não temos casa. Vamos para a rua”.
Depois da desocupação, alguns sem-teto ficaram na Praça Cuauhtémoque, ao lado do prédio, esperando para reaver os bens que deixaram no prédio, por terem saído às pressas. “Ninguém aqui quer ir para o abrigo. A gente sabe que lá não é bom”, disse um dos ocupantes, que não quis se identificar.
Uma ala do abrigo da prefeitura, no bairro de Santa Cruz, na zona oeste do Rio, foi oferecida pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social aos sem-teto como moradia provisória, mas o defensor público João Helvecio, um dos mediadores do acordo, disse que os sem-teto desconfiam das condições do abrigo. “Todo mundo questiona a qualidade do abrigo. A gente não impõe solução, só esclarece e informa”, acrescentou.
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