Entenda o bloqueio do Telegram e relembre casos polêmicos

Suspensão foi pedida pela Polícia Federal e determinada pelo ministro do Alexandre de Moraes, do STF; aplicativo teve problemas em outros países e dono da plataforma chegou a ser alvo de Vladimir Putin

  • Por Jovem Pan
  • 18/03/2022 17h16 - Atualizado em 18/03/2022 17h18
Pixabay Mão com celular mostra tela de início do Telegram Telegram foi suspenso após não atender determinação judicial das autoridades brasileiras

Após meses de ameaças por parte das autoridades brasileiras, o Telegram foi suspenso na tarde desta sexta, 18, por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). O magistrado atendeu a um pedido da Polícia Federal (PF). De acordo com a corporação, o aplicativo não cumpriu a ordem anterior de Moraes de suspender canais utilizados para espalhar notícias falsas e incitar o ódio por meio de “milícias digitais”, alguns dos quais mantidos pelo jornalista Allan dos Santos. Além disso, a empresa também não teria respondido aos contatos da PF. A ordem foi encaminhada aos provedores de internet e plataformas digitais, que devem adotar os mecanismos para inviabilizar a utilização da plataforma no país.

Não é a primeira vez que o Telegram deixa de responder a contatos oficiais de autoridades brasileiras. A empresa também não atendeu a um pedido de cooperação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para combater notícias falsas na eleição de 2022 – a Corte chegou a enviar uma carta para a sede do aplicativo, que fica em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, já que não há representação oficial no Brasil. O Ministério Público Federal de São Paulo (MPF-SP) questionou as plataformas digitais quais medidas seriam adotadas para evitar o espalhamento de notícias falsas no período eleitoral; Facebook, YouTube, Twitter, WhatsApp, Instagram e TikTok fizeram promessas de agir em relação ao tema. O Telegram, em contrapartido, não deu qualquer tipo de resposta. Por conta de problemas assim, o aplicativo fundado pelo russo Pavel Durov já havia sofrido ameaças de ser suspenso em território nacional pelo ex-presidente do TSE, Luis Roberto Barroso, e pelo próprio Alexandre de Moraes. Em um despacho anterior, o magistrado foi taxativo ao dizer que, se a determinação de suspensão de canais não fosse atendida, o aplicativo seria tirado do ar.

O problema não é exclusivo do Brasil. O Telegram está fora do ar em países como China, Bahrein e Irã, mas, nestes lugares, a plataforma segue sendo utilizada através de redes privadas de outros países (VPNs). Rússia, Cuba, Tailândia e Paquistão bloquearam o aplicativo temporariamente em algumas ocasiões, mas liberaram novamente sua utilização. Já Belarus, Indonésia, Azerbaijão e Índia determinaram o bloqueio de alguns canais que consideram extremistas ou terroristas, de acordo com os parâmetros de cada governo. A Alemanha, após grande esforço, conseguiu ter contato com representantes da empresa (também sob ameaça de suspensão) e garantir a suspensão de determinados canais considerados desinformativos ou que agregavam discursos de “ódio e incitação”.

Durov costuma colocar seu aplicativo como um bastião da liberdade de expressão, e que busca excluir canais usados por grupos terroristas como o Estado Islâmico. O empresário já teve problemas com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, após outra rede social fundada por ele, o VK, ser usada para organizar protestos contra o mandatário em 2010. Na ocasião, ele renunciou ao cargo de CEO da VK, mas manteve o Telegram e deixou a Rússia. O aplicativo de troca de mensagens foi suspenso no país natal de Durov entre maio de 2018 e junho de 2020, e órgãos oficiais justificaram a situação com a alegação de que era usado para terrorismo e atividades ilegais. Quando voltou a funcionar, o Roskomnadzor, órgão do Executivo russo responsável pelo controle dos meios de comunicação, disse que avaliou “positivamente a vontade expressa pelo fundador de combater o terrorismo e o extremismo” e suprimiu “as exigências para limitar o acesso às mensagens”

Em termos de espalhamento de informações, o Telegram tem muito menos limitação que seu principal concorrente, o WhatsApp. Este último permite grupos com no máximo 256 membros, e uma mensagem não pode ser encaminhada para mais de cinco conversas ao mesmo tempo; caso seja uma mensagem marcada como “encaminhada com frequência”, ela só pode ser repassada para mais uma conversa. O Telegram, por sua vez, não tem restrições desta natureza: os grupos criados no aplicativo podem ter até 200 mil membros e, caso a intenção seja atingir um número maior de destinatários, é possível abrir um canal sem limite de participantes. O canal do presidente Jair Bolsonaro, por exemplo, tem aproximadamente 1,1 milhão de seguidores.

Por causa disso, a mudança afeta também o cotidiano da internet. Canais usados para grupos de estudos, por torcedores de futebol para verem gols ou mesmo os utilizados por fãs que acompanham reality shows como o ‘BBB 22’ também serão afetados pela decisão de Moraes. O Telegram também é usado por professores para dar aulas ou por apresentadores e youtubers para receberem perguntas diretamente da audiência, entre outras possibilidades abertas pela plataforma. Com a decisão, os usuários precisarão trilhar outro caminho, que deve ser a escolha por outros aplicativos de mensagem, uma vez que o ministro impôs uma multa diária de R$ 100 mil para qualquer cidadão que usar VPN para acessar o Telegram (veja abaixo).

Trecho da decisão do ministro Alexandre de Moraes, que determinou a suspensão do Telegram em todo o Brasil

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