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Para onde vai o BeReal? Twitter está em crise? Confira projeções para as redes sociais em 2023

Instagram, Facebook e TikTok são hoje as maiores redes sociais de relacionamento do Brasil

Desde a chegada do Facebook, juntamente com os smartphones, diferentes redes sociais têm estabelecido certo domínio do mercado, com elevado número de usuários e grande poder financeiro advindo das gigantescas verbas de publicidade. Entretanto, fenômenos recentes têm colocado em xeque o domínio intacto de algumas das principais plataformas. O maior exemplo deste processo é o do Twitter, que passou por um cenário de crise após ser comprado pelo bilionário Elon Musk, que tem feito mudanças radicais na plataforma e mais recentemente anunciou que sairá do posto de CEO, sem ainda indicar um sucessor. Na contramão deste processo, outras redes sociais como Koo e Mastodon tentaram ocupar o espaço do passarinho azul no mercado em 2022, mas sem sucesso. De maneira diferente, o BeReal conquistou popularidade ao fazer exatamente o contrário – se opor à lógica tradicional das redes sociais. Para analisar este cenário, o site da Jovem Pan entrevistou consultores do ramo em uma reportagem especial dividida em duas partes (confira aqui a primeira) para analisar as tendências das diferentes redes sociais para 2023.

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É hora de ser real?

Com uma proposta totalmente diferente das redes sociais tradicionais, o BeReal ganhou popularidade em 2022 e, no seu segundo ano de existência, chegou à marca de 53 milhões de usuários, de acordo com uma estimativa da consultora Sensor Tower. A ideia, como o próprio nome diz, é promover uma experiência mais real para o usuário. Por isso, a rede não aceita edições ou o uso de filtros e a dinâmica funciona de outra maneira, pois para ver o conteúdo dos seus amigos, é obrigatório postar uma imagem. Além disso, só é permitida a postagem de uma foto por dia, possível após uma notificação do próprio aplicativo. Alexandre Inagaki, que é diretor da PEPN Comunicação Digital, tenta explicar o fenômeno: “Tem esse aceno muito bem-vindo à vida real, para as pessoas que já estão fatigadas da superprodução que muitas vezes envolve uma megaselfie de alguma publicidade publicada no Instagram”.

“No BeReal, você recebe uma notificação em algum horário caótico e você é desafiado a postar alguma imagem naquele exato momento, tendo só esses dois minutos de prazo para você publicar aquilo. E só depois você tem acesso aos conteúdos que seus contatos criaram. É uma proposta diferente, é uma proposta que vai na contramão do que as redes sociais oferecem hoje em dia”, explica. O especialista também destaca que, ao contrário de todas as principais redes sociais, o BeReal não tem a estratégia de adotar uma “linha do tempo infinita”, com milhares de conteúdos sugeridos a fim de prender o usuário o máximo de tempo: “No BeReal, você não tem tantas coisas que te prendem e que fazem você ficar consumindo conteúdos por horas a fio. A junção dessas duas qualidades fez com que o BeReal alcançasse o sucesso atual”.

Apesar das novidades, Inagaki tem dúvidas a respeito do potencial de crescimento desta nova rede social: “Não vejo muito como fazer com que o BeReal se torne uma plataforma monetizável. Eu não sei até que ponto a falta de um modelo de negócios mais bem estruturado inviabiliza um crescimento constante do BeReal como uma plataforma financeiramente viável a médio prazo”. Para ele, a inserção de publicidades ou a criação de abas de conteúdo pago não combinam com as características que fazem o BeReal ser um fenômeno. Já Rafael Kiso, fundador e diretor de Marketing da mLabs, aposta no declínio certeiro da mais nova rede social de fotos, pois seu formato já foi copiado por outras plataformas: “Muito rapidamente o Instagram copiou e o TikTok copiou. O TikTok é o que mais ficou próximo ao BeReal, onde tem o TikTok Now, que você tem que fazer também um post para ver os outros e só pode postar uma vez, com as duas câmeras. O Instagram lançou isso no próprio Stories, com as duas câmeras”.

“O BeReal foi, na minha opinião, vetado já no início. Não é um formato que agrada a todos você postar aquilo que está realmente acontecendo na hora, você só pode postar uma vez e tem que postar para ver o dos outros. Não é uma coisa que agradou. A maioria dos usuários nas plataformas de mídias sociais só olha os posts e não cria conteúdo, então é forçar um pouco a barra para a galera criar conteúdo para poder ver o dos outros. E isso geralmente não tende a funcionar. Eles estão forçando um processo, forçando um comportamento, e isso nunca deu certo em nenhum momento da história. Na minha visão, está com seus dias contatos, apesar de ter chamado atenção”, argumenta. A opinião de Kiso corrobora o estudo da Sensor Tower que apontou, no final de 2022, que apenas 9% dos usuários ativos da rede social estavam de fato abrindo o aplicativo todos os dias.

Mesmo em crise, ninguém supera o Twitter

Em 2022, Elon Musk, tido como o homem mais rico do mundo, concretizou a compra do Twitter por US$ 44 bilhões. Entretanto, o sonho declarado do bilionário de adquirir a rede social com o objetivo de aumentar a liberdade de expressão na plataforma não tem sido confortável. Diante de mudanças, como a cobrança para ser verificado na plataforma, e demissões em massa, diversas controvérsias a respeito do comando de Musk surgiram. As polêmicas foram tantas que o bilionário chegou a anunciar seu afastamento da posição de CEO, mas ainda não determinou seu sucessor. Fato é que, no Brasil, com cerca de 26 milhões de usuários ativos, o Twitter está muito longe de plataformas como Instagram (123 milhões de usuários), Facebook (112 milhões de usuários) e TikTok (85 milhões de usuários). Contudo, segue como a única rede social voltada para o debate entre usuários.

Neste contexto, possíveis concorrentes, como o Koo e o Mastodon, ainda engatinham na tentativa de absorver usuários do site do pássaro azul, apesar da crise causada por Musk: “O Twitter é uma plataforma que está vivendo dias péssimos. Elon Musk aparentemente quis comprar o Twitter como se fosse seu novo brinquedinho, mas tomando uma série de decisões muito erráticas que fizeram, por exemplo, com que quase metade dos funcionários do Twitter fosse demitido ou pedisse as contas. Qualquer usuário comum já percebeu que a plataforma anda mais instável de fato. O algoritmo também anda estranho, anda indicando alguns perfis duvidosos. Não vejo com otimismo o futuro do Twitter, se continuar desse jeito. Houve um esvaziamento tecnológico, os principais engenheiros do Twitter acabaram se desligando do site”, analisa Alexandre Inagaki.

O especialista também citou o banimento de contas de jornalistas feito por Musk como outro fator de desgaste no comando da plataforma, já que vai na contramão das posições ideológicas do bilionário, que se diz um defensor ferrenho da liberdade de expressão. Contudo, o diretor da PEPN Comunicação Digital ainda não vê um futuro em que redes sociais concorrentes, como Koo e Mastodon, consigam absorver usuários do Twitter: “O Koo, por exemplo, é um mero clone indiano do Twitter, basicamente com as mesmas funcionalidades. Não há nada de novo. Ao longo desses anos de redes sociais, o que a gente tem visto é que uma rede social, para conseguir se destacar no meio de um cenário extremamente competitivo, precisa apresentar alguma inovação interessante, algo que faça com que usuários adotem aquela plataforma por algo mais do que ‘eu quero um plano B ao Twitter’”.

“O problema do Mastodon está no fato de que não é uma rede social para principiantes. Existe uma certa dificuldade em você entrar lá, escolher em qual servidor você vai ter conta, como você vai dialogar com os usuários que pertencem a servidores distintos do seu, como é que você encontra seus amigos, já que não tem alguma plataforma para que você encontre os seus contatos no Mastodon com facilidade. Eu vejo o Mastodon como uma alternativa mais segmentada, que pode atender a um determinado nicho de público, mas sem viabilidade de, por exemplo, ocorrer um fenômeno que você tem no Twitter de dialogar com celebridades, políticos e jornalistas”, analisa.

Rafael Kiso segue a mesma opinião, mas pondera que o Twitter passou por um bom momento no Brasil durante as eleições de 2022: “O Twitter nunca foi tão forte aqui no Brasil, apesar de ser forte em vários outros países. Teve um crescimento aqui no Brasil em função da política, em função das eleições. Saiu de 19 milhões de usuários ativos em outubro de 2021 para 26 milhões em novembro de 2022. Na prática, ele estava estagnado antes da própria eleição. Estava estagnado, não crescia e sempre foi uma dificuldade para as próprias marcas estarem lá (…) Os fenômenos que colocam uma luz no Twitter são os fenômenos de ‘second screen’, quando você tá assistindo um programa de televisão, como Masterchef e Big Brother, e você tem ali em tempo real muita gente no Twitter falando sobre aquele assunto. Em alguns momentos como esse ele ganha uma relevância. Acaba pautando muita coisa”.

O diretor de marketing da mLabs também não vê futuro nas alternativas como Koo e Mastodon por questões de instabilidade dessas plataformas e uma falta de migração efetiva dos usuários do Twitter: “O Mastodon cresceu muito no começo, quando o Elon Musk entrou. E o Koo só pegou no Brasil. Nem ficaram sabendo do Mastodon no Brasil, não foi o mesmo fenômeno. Tanto que teve uma injeção grande de usuários brasileiros aí no Koo. Mas quando começou a ter essa migração, ele não estava em português, agora já está em português, e estava cheio de bugs, não tem a mesma experiência de outras redes. Foi uma onda, na minha opinião. Só uma onda porque, enquanto a grande maioria, a grande massa, de fato não migra, a coisa não acontece”. Nesse sentido, Alexandre Inagaki aposta que a Meta, empresa comandada por Mark Zuckerberg e que é dona do Facebook, Instagram e WhatsApp, seria a única capaz de criar um competidor capaz de alçar os mesmos voos do pássaro azul.

“Recentemente, o New York Times publicou uma matéria a respeito do interesse da Meta em criar alguma plataforma que seja ‘Twitter like’ [como o Twitter]. De repente, a Meta entra nesse jogo e finalmente cria algum concorrente à altura do Twitter, lembrando que o Zuckerberg já tentou adquirir o Twitter há alguns anos e não conseguiu. Mas, aproveitando esse momento de fragilidade, quem sabe a Meta cria algum concorrente que realmente acabe por desbancar o Twitter como a rede social de predileção de formadores de opinião”, especula o diretor da PEPN Comunicação Digital.

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