Ninguém prejudica tanto a educação brasileira como os sindicatos de professores

Margaret Thatcher enfrentou os sindicatos ingleses para poder modernizar o país; precisamos de alguém com a mesma coragem para libertar as escolas dessas associações

  • Por Leandro Narloch
  • 04/02/2021 13h56 - Atualizado em 04/02/2021 14h18
Elineudo Meira/@fotografia.75 - 28/08/2020 Apeoesp organizou vigília contra a volta às aulas no último mês de agosto; para sindicatos, educação não é essencial

Se alguém tinha alguma dúvida, a quarentena provou: os sindicatos de professores são o grupo de pressão que mais prejudica a educação pública brasileira. A insistência em manter as escolas fechadas mostrou que eles não consideram a educação um serviço essencial. Não se preocupam com o desempenho dos alunos, não ligam para a necessidade das crianças conviverem entre si. Enquanto a Europa e a Ásia fecharam bares e mantiveram escolas abertas, o Brasil fez o contrário. Foi o país que mais interrompeu as aulas presenciais – ao lado de Angola e Iraque. Casos de depressão infantil explodiram, mães tiveram que largar o trabalho porque não tinham com quem deixar os filhos. A Unicef emitiu um alerta afirmando que “o fechamento das escolas atinge principalmente crianças marginalizadas, que correm perigo de perder aprendizado, sistema de suporte, alimentação e segurança”. A OMS informou que um estudo com 191 países não mostrou relação entre abertura das escolas e taxas de infecção. Quatrocentos pediatras brasileiros assinaram um manifesto pedindo volta das aulas para o bem da saúde mental das crianças. Mas, para a presidente da Apeoesp, sindicato dos professores das escolas públicas de São Paulo, “falar em volta às aulas agora é só para agradar aos empresários da educação”.

Não deveria, mas parece loucura esperar algum heroísmo dos sindicalistas. “Entendemos o perigo da doença, mas decidimos correr o risco porque não podemos deixar os estudantes brasileiros na mão”, diriam num mundo imaginário distante. “As crianças não podem continuar sendo penalizadas.” Esse comportamento egoísta não é exclusivo da pandemia. Em São Paulo, estado com o melhor índice educacional do Brasil, metade dos formados no ensino médio na rede pública não sabe fazer uma simples regra de três, segundo o Idesp (Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado de São Paulo) de 2017. O sistema consome bilhões de reais dos pagadores de impostos, consome uma década dos jovens e, no final, não consegue ensinar a eles uma simples regra de três. Um primeiro passo para reverter essa situação seria bonificar os professores cujos alunos têm as melhores notas. Seria um incentivo para se preocuparem com o desempenho. Mas os sindicatos são contra. 

Todo mundo concorda que a educação brasileira é uma lástima, por isso é urgente tentar novos modelos. Um deles é o de voucher: transmitir os recursos da educação direto aos pais dos alunos, para que eles escolham a escola que preferem. Outro é optar por “charter schools”, escolas mantidas por entidades sem fins lucrativos e bancadas com dinheiro público. Mas os sindicatos são contra. Quando o deputado Tiago Mitraud tentou destinar apenas 5% do dinheiro do Fundeb para entidades filantrópicas, sindicatos (sem falar na imprensa e na esquerda em geral) ficaram histéricos. Como se o atual sistema não precisasse de alternativas ou inovação.  “Até quando seremos reféns dos sindicatos docentes”, pergunta Anamaria Camargo, consultora em políticas educacionais, em artigo recente publicado no site do Instituto Libecracia. É exatamente esse o problema: deixamos os grupos de pressão se apropriarem da educação pública. Na Inglaterra dos anos 1980, Margaret Thatcher enfrentou os sindicatos de mineradores, entre outros, para modernizar o país. Precisamos de alguém com coragem suficiente para nos libertar dos sindicatos de professores.

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