‘Quem lacra, não lucra’: Gina Carano é mais uma vítima da perseguição do politicamente correto

Atriz foi demitida após post polêmico comparando atuais desavenças políticas nos EUA com a perseguição aos judeus na Alemanha nazista; colega de elenco, Pedro Pascal, fez publicação parecida e não foi criticado

  • Por Marcos Petrucelli
  • 12/02/2021 09h12
Divulgação Gina Carano interpreta Cara Dune em 'The Mandalorian'

“Get woke, go broke” é a expressão em inglês para o nosso já conhecido “quem lacra, não lucra”. E esse é o recado que muitos pelo mundo, particularmente fãs da aclamada série “The Mandalorian”, estão mandando para a Disney+ e LucasFilm após ambas as companhias terem sumariamente demitido a atriz Gina Carano. A série perdeu, assim, um dos nomes mais importantes do elenco e provavelmente a personagem mais adorada pelo público, ao lado de Grogu (também conhecido como Baby Yoda) e, evidentemente, o próprio Mandaloriano (interpretado por Pedro Pascal, de quem falarei mais à frente). Em resumo, os motivos do afastamento de Gina Carano não poderiam ser expressões maiores da hipocrisia contemporânea: a cultura do cancelamento, o politicamente correto. O que de correto, aliás, não possui absolutamente nada. Trata-se apenas de uma etiqueta fajuta, que vende a mesma credibilidade de etiquetas marcadas com $1,99, made in China.

Gina Carano é somente mais uma vítima da perseguição implacável por parte de uma sociedade esquizofrênica, que, a partir de seu hermetismo intelectual, acredita ter criado o mais perfeito e justo tribunal. Aquele que julga qualquer um que não siga a sua cartilha das boas maneiras progressistas – o que vale dizer, não pense, não concorde e não compactue dos mesmos ideais –, sob pena de ser banido e escorraçado da sociedade. É um bilhete para o inferno, apenas de ida. Gina Joy Carano é uma texana que hoje tem 38 anos de idade, mas que na década passada conquistou o mundo como uma das principais lutadoras de MMA. Linda, atlética, campeã e adorada, ganhou uma oportunidade em Hollywood e fez sua estreia no cinema em “A Toda Prova”. De lá para cá, estrelou produções sem muita relevância, até que seu nome foi anunciado no elenco de um spin-off da Saga “Star Wars” produzido pela Lucasfilm e Disney. A primeira temporada de “The Mandalorian” chegou ao público em 12 de novembro de 2019, agradando não apenas os nostálgicos de “Star Wars”, mas sobretudo atraindo novas gerações de fãs. Gina surgiu então como a personagem Cara Dune, a partir do quarto episódio da série. Destemida, corajosa, encrenqueira e boa de briga, Cara Dune também se apresentava uma pessoa de confiança e leal. O sucesso foi imediato e a personagem caiu nas graças do público.

Estamos na era das redes sociais, portanto Gina Carano, uma mortal de carne e osso, está entre nós. Até o início desta semana, Gina tinha mais de 1 milhão de seguidores. No instante em que esse texto está sendo escrito, no entanto, a atriz já perdeu mais de 300 mil seguidores. São os tais justiceiros sociais, os canceladores e assassinos de reputações que não aceitam e não assimilam o conceito de liberdade de expressão, ainda mais quando é a dos outros. Não é de hoje que os juízes das redes sociais pegam no pé de Gina. Já a chamaram de homofóbica e anti-LGBT porque ela simplesmente não concorda com a utilização do pronome neutro no tratamento de gênero, como se fosse um crime querer manter a tradição da norma culta de um idioma. Gina jamais escondeu sua tendência à direita, em se tratando de política, quando apoiou publicamente Donald Trump e os republicanos. E por isso quiseram condená-la à masmorra sob a denominação de antidemocrática. Mas precisavam de algo mais para o cancelamento definitivo. Nesta semana, Gina Carano fez uma publicação em sua conta do Twitter dando conta de que “os republicanos na América de hoje são perseguidos como foram os judeus na Segunda Guerra”.

A comparação de Gina Carano pode até ter sido exagerada, mas é de uma tremenda má fé considerá-la antissemita. Ocorre que, para os progressistas de bom coração que apoiam todas os ditadores genocidas do mundo (mortos e vivos), o problema não é aquilo que se fala; mas quem fala. Assim, volto ao ator Pedro Pascal, que igualmente só viu os holofotes brilharem com toda a luz em sua direção por causa da série “The Mandalorian”. Pascal é quem está debaixo da pesada armadura do personagem herói que conquistou lugar de honra na antologia das séries de TV. O ator também está nas redes sociais e, bem antes de se tornar o Mandaloriano, ele publicou em sua conta do Twitter a mesmíssima comparação feita agora por Gina Carano.

Sim, é exagerada. Mas Pascal, anti-Trump e democrata, foi incluído na lista dos “quem fala”. Para ele serve o conceito de que é apenas a opinião de um ator e cidadão, que tem garantida sua liberdade de expressão constitucionalmente. Ele tem todo o direito de se manifestar, enquanto outros não têm alternativa a não ser concordar. O mais triste e preocupante é que esse comportamento, essa maneira distorcida e seletiva de se observar o mundo, está contaminando todos os setores da sociedade. A indústria do entretenimento, do cinema, sempre tida como aberta e resiliente, é justamente a que se apresenta irredutível em aceitar as diferenças. Assim vai cancelando talentos, pessoas como todos nós que têm algo a dizer. Mas essa indústria, formada por muitos justiceiros, só não percebe que também está se aniquilando. Apenas dois exemplos: os jornalistas americanos Ben Shapiro e Dave Rubin, ambos judeus, comentaristas políticos e seguidos nas redes sociais por milhares de pessoas, foram esclarecedores: “Cancelaram Gina Carano. Estou cancelando minha assinatura da Disney+”. Traduzindo: “Get woke, go broke”.

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