Amanda Klein e Fábio Piperno são dois jornalistas bons de briga

Ambos enfrentam sozinhos três ou quatro dos melhores analistas dos programas da Jovem Pan, e, se não conseguem sair vitoriosos, pelo menos não terminam como perdedores

  • Por Reinaldo Polito
  • 28/04/2022 09h00
Reprodução/Jovem Pan News Frame do Jornal da Manhã com Amanda Klein na tela, o microfone da Jovem Pan à direita e uma tarja discorrendo sobre a briga entre o deputado Daniel Silveira e o STF Amanda Klein fala sobre o caso Daniel Silveira no "Jornal da Manhã"

Alguns ouvintes e telespectadores dos programas jornalísticos da Jovem Pan dizem que ficam irritados quando ouvem os comentários de Amanda Klein e Fábio Piperno. E – se preparem para esta notícia – vão ficar irritados por muito tempo, pois os dois conquistaram já lugar de destaque e respeito no jornalismo brasileiro. Sobre a Amanda, embora nem sempre concorde com o que diz, já tive oportunidade de escrever um texto elogiando a sua coragem e disposição para enfrentar simultaneamente, sem nunca perder o equilíbrio, vários adversários. Em muitos casos, a tropa ficava cansada da peleja, enquanto ela mostrava ter gás para qualquer prorrogação. Hoje vou falar dos dois.

Durante muitos anos desenvolvi um exercício em sala de aula que exigia muito da habilidade argumentativa dos alunos. No treinamento que faziam para aprender a participar de debates, cada um defendia uma ideia que não era sua. Por exemplo, se fosse contra a pena de morte, teria de encontrar argumentos para defender a sua implantação no país, e vice-versa. Dessa forma todos desenvolviam competências para refutar posições contrárias, pois sabiam como os opositores organizariam o raciocínio. Não é nada novo. Os sofistas também se valiam dessa estratégia para mostrar que a verdade de cada um sempre poderia ser provada. Até hoje, quando uma pessoa usa premissas falsas para apoiar suas teses diz que está sofismando.

Nos programas de grande audiência da Jovem Pan, esses dois comentaristas, Amanda e Piperno, merecem ser aplaudidos, ainda que suas posições ideológicas desagradem à maioria. Para confirmar que grande parcela das pessoas é contrária às causas que defendem, basta ver as enquetes que são respondidas por milhares de ouvintes. Quase sempre o resultado é mais de 90% contra a opinião dos dois. Muitos perguntam: como é que eles, tão inteligentes, bem-preparados, bem-informados, articulados e comunicativos podem, às vezes, defender ideias tão absurdas? Jamais vou afirmar que estejam mentindo, mas fica evidente que só se valem do lado da verdade que interessa aos seus objetivos. É um contraponto essencial para a análise das diversas faces de uma mesma questão, prevalecendo aí a importância da pluralidade no discurso democrático.

Por mais sólida que seja a argumentação contrária, por mais convictos que estejam os debatedores com os quais digladiam, em todas as ocasiões conseguem encontrar um ponto, ainda que pareça insignificante à primeira vista, para estabelecer o confronto. Para desespero dos seus oposicionistas, tanto um quanto outro, em todas as oportunidades, se apresentam munidos de pesquisas recentes, defendidas pelos mais respeitados especialistas e com exemplos históricos que reforçam cada um de seus argumentos. Nunca se rendem. Jamais confessam que poderiam estar enganados.

É evidente que, pelo preparo da Amanda e do Piperno, em muitas situações sabem que estão apoiando causas inconsistentes. São inteligentes demais, por exemplo, para saber que existem qualidades e defeitos tanto na direita quanto na esquerda. Para não sair do figurino que envergaram, entretanto, permanecem fiéis ao seu posicionamento. Sei que aqueles que não concordam com as causas abraçadas pelos dois ficam contrariados e até procuram motivos para saber como eles conseguem permanecer no ar com essa atitude. Na verdade, agem como se fossem advogados de defesa ou de acusação, destacando o que enxergam de melhor no lado que adotam e de pior no que contestam.

Piperno só mostra sua imparcialidade quando comenta futebol. É excelente comentarista esportivo. Mesmo sendo palmeirense, consegue analisar com propriedade e isenção o desempenho de todos os times. Assim como faz com a política, se apresenta amparado com dados e estatísticas que impressionam e provocam admiração. E fala tudo de memória. Por isso, ao ouvir os comentários dos dois, se não concordar com eles, pelo menos aproveite os exemplos de cada um para aprimorar a sua comunicação. Observe que, na maioria das vezes, eles sozinhos enfrentam três ou quatro dos melhores analistas dos programas jornalísticos da Pan, e, se não conseguem sair vitoriosos, pelo menos não terminam como perdedores. Siga pelo Instagram: @polito.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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