Com economia em alta, EUA enfrentam falta de motoristas e entregadores de aplicativos

Segundo uma pesquisa da consultoria McKinsey, feita com 25 mil trabalhadores da economia de bicos, o maior problema é que estes serviços não oferecem estabilidade

  • Por Samy Dana
  • 28/05/2021 14h59
ROBERTO CASIMIRO/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO Homem andando de bicicleta com uma bag laranja No Brasil, entregadores eram 950 mil em dezembro, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

Nos últimos dez anos, eles se tornaram parte da paisagem nas cidades. Dirigindo para plataformas como Uber e 99 aqui no Brasil, e para o Lyft nos Estados Unidos, ou fazendo entregas para os aplicativos de comida como iFood e Rappi, motoristas e entregadores formam uma multidão em cada país onde atuam. Com a economia patinando, 1,25 milhão de pessoas já dirigiam para aplicativos no Brasil em 2019, ano do último levantamento feito pelo IBGE. Já os entregadores eram 950 mil em dezembro, também segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Mas nos Estados Unidos este contingente começou a diminuir. Com a economia americana voltando com força, e a escassez de mão de obra no mercado de trabalho, estão faltando também motoristas de aplicativos. A previsão oficial é de que a economia americana deve crescer 6,5% neste ano, mas os últimos dados vêm surpreendendo, e já se fala de uma alta de 10% do Produto Interno Bruto (PIB).

A taxa de desemprego, que chegou a atingir quase 15% em abril de 2020, caiu para 6,1%. E as empresas passaram a enfrentar a falta de empregados qualificados. Jornadas híbridas de trabalho, em casa e no escritório, e aumentos de salário estão sendo usados para manter a equipe. Mesmo gigantes como Google e Apple vêm gastando mais com salários de trabalhadores com menos qualificação. Amazon e Mcdonald’s, grandes empregadores deste tipo de mão de obra, foram obrigados a pagar mais para não perder funcionários. A repercussão é ainda maior na chamada economia de bicos. Surgidas em meio a mudanças provocadas pela tecnologia em vários setores do PIB, estas plataformas sempre foram vistas como uma válvula de escape para a alta do desemprego criado pelas mudanças na economia. Eram dadas quase como perenes diante das previsões de que o desemprego tecnológico chegou para ficar. E colocaram no debate econômico termos como precarização, o trabalho mal remunerado sem nenhum direito, além do valor recebido.

Mas com a economia americana crescendo em um ritmo chinês, não estão conseguindo competir com as empresas. Segundo uma pesquisa da consultoria McKinsey, feita com 25 mil trabalhadores da economia de bicos, o maior problema é que estes serviços não oferecem estabilidade. Seis em cada dez motoristas e entregadores americanos entrevistados disseram preferir um emprego fixo a fazer bicos e ter mais liberdade de horários. Com um desemprego de 14,8 milhões de pessoas, anunciado nesta quinta-feira, 27, pelo IBGE, é um cenário que parece irreal para os brasileiros. Mas, a depender do ritmo, um fenômeno que pode se repetir em mais países com a recuperação da economia. Não se sabe quanto deve durar, se é temporário ou permanente, mas é um drible nas previsões sobre o futuro do emprego.

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