Trabalhar um dia por semana já eleva a autoestima e representa risco 30% menor à saúde mental

Pesquisa da Universidade de Cambridge mostrou que redução de jornada no Reino Unido não desmotivou trabalhadores; pelo contrário, eles eram os menos estressados

  • Por Samy Dana
  • 09/04/2021 08h00
Pixabay homem escrevendo em uma folha de papel branca em cima de uma mesa com um notebook aberto No ano passado, 9,6 milhões de britânicos tiveram a jornada reduzida, com até 95% dos salários pagos pelo governo

Para quem perde o emprego, o impacto emocional negativo chega a ser maior do que uma separação. Falta de trabalho, indicam décadas de estudos, é ruim para a saúde mental e pode levar a depressão, ansiedade e a problemas na autoestima. Mas, segundo pesquisa recente da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, basta um dia de trabalho para a pessoa se sentir mais produtiva e feliz. No ano passado, 9,6 milhões de britânicos tiveram a jornada reduzida, com até 95% dos salários pagos pelo governo. Os autores do trabalho, cinco psicólogos, buscaram referências em três grandes pesquisas com 70 mil trabalhadores sobre trabalho e bem-estar. Eles também entrevistaram mais de 13 mil pessoas e, então, compararam as respostas.

O programa do governo garantiu que nenhum trabalhador perderia renda. Mas havia o temor de que, trabalhando menos, as pessoas pudessem se tornar menos produtivas, desmotivadas e sofrer mais de depressão, entre outros problemas. O trabalho, afinal de contas, tem para muitas pessoas um papel central na vida. Não é difícil ouvir que alguém vive para trabalhar, ou que é workaholic, viciado em trabalho. Longas e extenuantes jornadas de 14 horas por dia são a rotina em alguns setores, como o financeiro, aponta a revista The Economist desta semana. Seria de se esperar que, para muitas pessoas, menos trabalho significasse menos motivação. Porém, mesmo com a jornada reduzida, os trabalhadores estavam entre os menos estressados, e tiveram uma marca próxima daqueles que seguiram trabalhando normalmente, além de bem acima dos que estavam desempregados.

Mas os dados mais interessantes envolvem o efeito que o trabalho em si tem sobre as pessoas. Como aponta outro estudo de Cambridge, de 2019, trabalhar faz bem, não importa quanto. Mesmo trabalhando apenas oito horas por semana, isto é, um dia, ex-desempregados com uma ocupação recente já apresentavam risco 30% menor à saúde mental. O curioso é que as oito horas por semana são a linha divisória do bem-estar. Trabalhar menos não melhora a autoestima. E trabalhar acima de oito horas por semana, na média, também não faz ninguém se sentir melhor. É lógico que nenhuma economia de hoje tem como prosperar com as pessoas trabalhando só um dia por semana. Mas, em um mundo em que novas tecnologias, como a inteligência artificial, dizimam empregos, os estudos sugerem que muitas pessoas continuarão produtivas mesmo com uma jornada menor, desde que possam seguir trabalhando.

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