Constantino: Enquanto alguns se sacrificam pelo presidente, Flávio faz escárnio com o bolsonarismo

Polêmica compra de mansão por parte do senador foi tema de debate entre comentaristas do programa ‘3 em 1’, da Jovem Pan, desta terça-feira, 2

  • Por Jovem Pan
  • 02/03/2021 18h31
Gabriela Biló/Estadão Conteúdo Homem de terno preto e gravata azul clara olhando para a esquerda diante de um fundo cinza Flávio Bolsonaro comprou mansão de quase R$ 6 milhões

Após a divulgação de notícias sobre a compra de uma mansão de quase R$ 6 milhões em Brasília, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) afirmou, em vídeo, que adquiriu a propriedade no começo do ano com recursos da venda de um imóvel no Rio de Janeiro e de uma franquia de chocolates na capital fluminense. Ele disse, ainda, que a maior parte do valor da mansão foi financiada por um banco em taxa “aprovada conforme meu rendimento familiar” e que o caso foi apenas uma “simples compra e venda”. “Lamento que a imprensa exponha o endereço onde eu moro, exponha a minha família em função disso. Já avisei ao GSI, o órgão responsável aqui no governo pela segurança da família do presidente, para que intensifique a segurança em torno da minha residência”, pontuou. O senador é investigado por suspeita de lavagem de dinheiro por meio da venda e compra de imóveis no caso das rachadinhas da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), que apura um suposto esquema de desvios de recursos dos salários de assessores. O valor do imóvel é quase quatro vezes maior do que o patrimônio declarado por ele no ano de 2018. Naquele ano, Flávio disse que tinha bens em um valor total de R$ 1,7 milhão, incluindo dois imóveis e participações em uma loja de chocolates. A polêmica em torno do filho de Jair Bolsonaro foi tema de debate entre comentaristas do programa “3 em 1”, da Jovem Pan, nesta terça-feira, 2.

Rodrigo Constantino fez papel de “advogado do diabo” ao lembrar que a maior parte dos bens catalogados durante a campanha eleitoral são declarados a preço de compra, podendo valer muito mais na prática. Ainda assim, ele vê as afirmações feitas pelo senador com desconfiança. “Ele vai ter que apresentar a origem desses recursos todos, porque é óbvio que causa algum tipo de choque. É um senador que está na vida pública desde sempre, não é um empresário, não é alguém que ficou rico e foi para a política, e está obviamente ostentando. É uma casa de bacana, como diz a turma da esquerda. Ele se referir a uma ‘simples compra e venda de imóvel’, já é afrontoso. Acho que o senador perdeu qualquer elo com a realidade. Ele está desconectado da realidade da população”, afirmou, questionando se qualquer um com o mesmo patamar de renda do senador tem as mesmas condições de juros para financiar o imóvel. Para ele, mesmo que o filho de Jair Bolsonaro prove que tudo foi feito dentro da legalidade, esse não é o momento certo para fazer uma “extravagância” do tipo.

“Vamos aceitar a premissa de que tudo foi dentro da legalidade e que ele tem como demonstrar a origem, o que já parece algo suspeito. Ele é alguém acusado de rachadinha, peculato, envolvido em uma investigação e que vem protelando seu encontro com a Justiça dentro de todos os subterfúgios legais que estão à disposição dele, ele está usando isso, e no mínimo, o mínimo que alguém teria que pensar é o seguinte: como é que o sujeito faz uma coisa dessas numa hora dessas? É de um descaso, é um escárnio em relação ao próprio bolsonarismo. Tem um monte de gente se sacrificando pelo pai dele, pelo governo, para defender as agendas, para defender um monte de coisa, tem um deputado inclusive que foi preso por confrontar o STF de forma veemente, enquanto ele está lá negociando uma ‘simples compra e venda’ de uma casa de seis milhões de reais. É um negócio realmente impressionante”, afirmou.

Marc Sousa afirmou ter dúvidas de que “um trabalhador comum” tenha acesso a taxas de juros tão baixas quanto a de Flávio Bolsonaro, que gira em torno de 5% ao ano. “É aquela velha história da máxima de Julio Cesar: não basta ser honesto, tem que parecer honesto. Essa história cheira mal, sim”, pontuou. Ele lembra que até o momento o valor de entrada de R$ 3 milhões não foi completamente esclarecido e não é compatível com o valor declarado durante a campanha. “Um homem público que é senador e além do mais é filho do presidente da república precisa ter uma vida cristalina. É uma escolha que ele fez quando assumiu um cargo público e quando se pertence a uma família que tem como um dos seus membros o presidente da República”, disse, lembrando que as atitudes dele podem refletir no pai dele, que até o momento não se pronunciou sobre o assunto.

Diogo Schelp afirmou que a taxa de juros é uma das questões mais importantes dentro de toda a história da casa. “Ele conseguiu um financiamento camarada junto ao Banco Regional de Brasília, para bancar o restante da mansão, e os juros são tão camaradas que certamente vai ter fila de clientes a partir de agora no Banco Regional de Brasília querendo as mesmas taxas, o que seria justo. Não se pode privilegiar só porque ele é senador da república”, afirmou. O jornalista concordou com Constantino sobre o timing errado para conquistar o que ele classificou como “sonho da mansão própria”. “Um senador da República que ainda está lutando na Justiça para se livrar de um processo por corrupção com dinheiro público, justo no momento em que os pagadores de impostos começam a sentir um cheirinho de pizza no ar com essa decisão recente do STJ que anulou a quebra do sigilo dele, isso sim é ultrajante”, pontuou.

Confira o programa “3 em 1” desta terça-feira, 2, na íntegra:

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