Josias: Bolsonaro mostra ‘obsessão em tornar tudo em trampolim para reeleição’ ao falar de vacina
Comentário do presidente relacionando vacina desenvolvida no Instituto Butantan com ‘morte, invalidez e anomalia’ e fala sobre ‘ganhar’ foi debatida no programa 3 em 1
A paralisação dos testes da vacina CoronaVac, desenvolvida com tecnologia chinesa pelo Instituto Butantan, em São Paulo, após a morte de um voluntário por evento adverso grave foi vista como uma vitória pelo presidente Jair Bolsonaro nas redes sociais na manhã desta terça-feira, 10. Em resposta a um seguidor no Facebook, o perfil oficial de Bolsonaro afirmou: “Morte, invalidez e anomalia… Esta é a vacina que o Doria queria obrigar a todos os paulistanos a tomá-las. O presidente disse que a vacina jamais poderia ser obrigatória. Mais uma que Jair Bolsonaro ganha”. O governador de São Paulo, por sua vez, esclareceu que o efeito adverso não tinha relação com a vacina e afirmou que “o único adversário é o vírus”. O assunto foi tema de debate dos comentaristas do programa 3 em 1, da Jovem Pan, nesta terça.
Para Josias de Souza, a fala de Bolsonaro mostra uma fixação na luta contra seu adversário político, João Doria, que já deu sinais de querer concorrer à presidência no ano de 2022. Ele afirma que uma discussão que deveria ser meramente técnica se tornou um “empreendimento político” que não se restringe ao Brasil, mas ganha “contornos dramáticos” no país. “Faltou explicar o que é que ganha o presidente com eventuais embaraços ao desenvolvimento de uma vacina num país em que o vírus já produziu mais de 162 mil mortes”, questionou. “É preciso perguntar o que ganha o presidente com essa sua obsessão em transformar tudo em trampolim para o seu projeto de reeleição. Não ganha nada o presidente, não ganha nada o país”, pontuou.
O comentarista Paulo Figueiredo Filho acredita que a discussão de valor plenamente técnico se tornou um “FlaxFlu” dentro da política envolvendo Doria e Jair Bolsonaro. Para ele, porém, a mídia e as redes sociais estão usando a morte de alguém para “capitalizar politicamente” contra o presidente. “A grande polêmica na internet não está tanto na paralisação da vacina ou não, está muito mais na declaração do presidente. A maior parte da imprensa está criando um escarcéu em cima da declaração, claramente uma declaração infeliz, mas claramente uma declaração mal interpretada”, afirmou. Ele disse, ainda, que a posição central do presidente de não acreditar plenamente em um imunizante fabricado com tecnologia chinesa está correta.
Thaís Oyama afirmou que a falta de comunicação entre os órgãos ficou clara durante a coletiva de imprensa da Anvisa e que, independente de ter sido feita intencionalmente ou não, um comitê independente vai analisar o ocorrido para decidir pela paralisação ou continuação dos estudos. “O comitê independente vai fazer esse parecer, vai encaminhar para a Anvisa e daí eles vão tomar a sua decisão, que me parece bem claro, a decisão de retomar os testes da vacina. Esperemos que isso seja feito em um prazo bastante razoável, porque não se trata por exemplo como aconteceu no caso da vacina de Oxford, como aconteceu no caso da vacina da Johnson, de doenças que tinham causas inexplicáveis e inexplicadas. Aqui me parece bastante claro que foi um evento que não teve qualquer relação com a vacina, então esperemos que isso se resolva logo”, afirmou. “Sobre o comentário do presidente Bolsonaro: é tão infeliz que eu vou me reservar ao direito de não comentar, só lastimar”, finalizou.
Assista ao programa 3 em 1 desta terça-feira, 10, na íntegra:
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