‘A corrupção financia a política no Brasil’, diz Carlos Fernando Lima, ex-procurador da Lava Jato
Advogado participou do programa ‘Direto ao Ponto’ desta segunda-feira, 19, e falou sobre o cenário político atual do país, heranças da Lava Jato e voto auditável
A corrupção é um tema discutido no Brasil há muitos anos. Em entrevista ao programa ‘Direto ao Ponto‘, da Jovem Pan, nesta segunda-feira, 19, o advogado e ex-procurador da Operação Lava Jato, em Curitiba, entre 2014 e 2018, Carlos Fernando Lima, explicou que a corrupção é atuante desde a redemocratização e financia os partidos políticos no país. “A ideia da Constituição era não roubar, não deixar roubar e colocar na cadeia quem roube. Infelizmente nós temos uma substituição das velhas lideranças da redemocratização por fazedores de dinheiro e nosso sistema eleitoral privilegia quem faz o dinheiro e comanda os partidos políticos. Temos campanhas caríssimas que precisam ser financiadas e são financiadas pelo dinheiro público, seja ilícito ou fundões bilionários que são criados. Nosso sistema tinha que ser mais econômico, mais barato. O controle sobre os partidos precisam ser mais democratizados e precisamos ter mais transparência”, comentou. Perguntado sobre o que a Lava Jato deixou de herança no combate à corrupção, o procurador foi claro.
“Restou a história, porque na verdade nada do que ela revelou pode ser apagado. Os fatos estão aí e, por incrível que pareça, todos os personagens tentam desfazer a Lava Jato, mas não conseguem se desfazer dos fatos que ela mostrou como a corrupção. Ela financia a política no Brasil e esse é o maior legado que temos”, explicou. Carlos Fernando também foi perguntado sobre as decisões a favor do ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva, que foi alvo da operação de Curitiba. “Como instrutor de procuradores eu dizia que o sistema é injusto. O sistema vai, de alguma forma, derrubar todo o trabalho mais cedo ou mais tarde, e essa foi minha função na Lava Jato, tentar evitar as armadilhas. Mas não existe possibilidades porque o nível de criatividade no Judiciário para essas soluções é muito grande. A solução agora foi a suspeição de Sergio Moro. O que acontece é que poderosos no Brasil não são punidos”, disse.
Fundo eleitoral e voto auditável
O procurador falou brevemente sobre o tema da última semana: o fundo eleitoral. Na última quinta-feira, dia 15, o Congresso aprovou um aumento do fundo eleitoral para as eleições 2022, o que acusou muita discussão e uma promessa do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de vetar a medida. Para Carlos Fernando, é necessário mudar toda a estrutura eleitoral do país para que haja melhoria. “A solução está em partidos transparentes e uma quantidade menor, porque a questão de como se financia é importante se debater, mas estamos financiando caciques políticos. Não estamos trabalhando com dinheiro privado. Os partidos políticos são públicos quando pegam dinheiro e são privados quando prestam contas”, afirmou.
Carlos também deu sua opinião sobre o voto auditável, bandeira defendida pelo presidente. “Nós não temos historicamente qualquer denúncia minimamente crível de qualquer violação ou sistema de manipulação de votos. Os defensores dessa tese inclusive foram eleitos com essas urnas, exatamente da maneira que estão sendo realizadas há muito tempo. Eu fiz eleições em sistema de voto manual e sei as dificuldades que isso traz. Creio que o interesse por traz disso é questionar o resultado e, se trouxermos para uma crise institucional de descrença na nossa democracia, isso é muito grave. Porque são pessoas sem critério moral que usam como algum golpe contra a democracia”, concluiu.
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