Correspondente de Guerra, André Liohn vê Brasil sob risco de conflitos no futuro
Fotojornalista falou durante o ‘Direto ao Ponto’ como uma guerra poderia acontecer no Brasil, relembrou um sequestro na Síria em 2011 e debateu o papel do jornalismo na sociedade
O Brasil está próximo de um cenário de guerra civil? O tema foi debatido na noite desta segunda-feira, 13, no programa ‘Direto ao Ponto‘, com o convidado André Liohn. Fotojornalista e correspondente de guerra, o brasileiro de 47 anos cobriu os principais conflitos armados do mundo, escreveu o livro “Correspondente de Guerra” ao lado do jornalista Diogo Schelp, comentarista da Jovem Pan, e neste ano ganhou um documentário sobre sua vida: “Você Não é Um Soldado”, dirigido por Maria Carolina Telles. Na entrevista, André fez um alerta ao povo brasileiro. Para ele, o país se encaminha para conflitos internos se não mudar sua dinâmica política. “O Brasil está próximo de um conflito onde, em princípio, podemos ter um governo autoritário de uma ou outra ideologia. Um governo autoritário que pode usar, tanto do poder da polícia como do poder do Estado, para suprimir manifestações e ações contrárias. Quando esses governos chegarem a uma situação autoritária podemos ter algo como a Venezuela“, citou.
Convivendo diariamente com ameaças e violência, André foi questionado sobre os ataques que jornalistas têm sofrido no Brasil. Ele classificou a situação como ‘terrível’, mas afirmou que entende quem critica o trabalho da imprensa. “Mimimi esse termo quem inventar foram os políticos, não é da imprensa. Estamos fazendo nosso trabalho. Essas agressões são terríveis. Eu vejo equivalência (entre violência no governo PT e no governo atual). A sociedade entende que pode cada vez mais atacar a imprensa, porque nós jornalistas não estamos fazendo bem nosso trabalho. Nós não temos tomado conta de nós mesmo. Estamos vivendo um momento que nós estamos comprando lados e a sociedade tem razão em nos criticar, em não acreditar em nós”, disparou. Natural de Botucatu, em São Paulo, André contou que decidiu fazer o que faz ao vivenciar a violência na infância.
Apesar dos horrores aos quais já presenciou, ele ainda se sensibiliza com as coberturas que faz. “Recentemente estava no Panamá acompanhando os migrantes e entre a Colômbia e o Panamá existe uma floresta, uma das mais fechadas do mundo. Lá tem grupos paramilitares e do narcotráfico e agora tem um fluxo enorme de cidadãos comuns. Para mim foi uma das histórias que mais me abalou, quase cheguei ao ponto de querer parar com isso. Está cada dia mais difícil. Parece que os veículos de jornalismo estão perdendo um pouco aquele poder de serviço social, fundamental da sociedade. Isso tem me desanimado bastante. E ver aquelas pessoas que até semanas atrás tinham suas vidas normais e agora vivendo na absoluta miséria, foi muito pesado”, declarou.
Sequestro na Síria e dicas para quem quer ser correspondente
É unanimidade entre correspondentes de guerra um caso de sequestro ou violência entre grupos armados. André Liohn contou durante o programa sobre quando foi preso por um grupo rebelde na Síria, formado por desertores do presidente Bashar Al-Assad. “Eu fui levado por um grupo que não queria que eu estivesse lá. Quando eles souberam que o exército do Assad estava chegando, o único que não deveria estar lá era eu. Eles me bateram muito, fui jogado no chão e chutado, depois mantido numa casa e apanhei bastante. Tortura psicológica também, mas felizmente isso tudo aconteceu no começo do conflito, em dezembro 2011, e a pessoa que negociou para eu estar lá também negociou para eu sair. Na época eu paguei 3 mil dólares para sair. Eu saí e naquele momento eu falei ‘nunca mais vou voltar para Síria’, porque se eles eram bons eu não queria conhecer os maus. Foi naquele momento que começava o Estado Islâmico“.
Perguntado sobre quais dicas daria para alguém que quer se tornar jornalista de guerra, André foi enfático. “Eu falo que precisam ser bons jornalistas locais, hoje as pessoas nem pensam no jornalismo local. É um grande problema porque sociedades inteiras que estão sendo abandonadas. Mas ainda assim eu digo ‘busquem ser grandes jornalistas locais’ e construir uma carreira. O problema é que a sensação de que hoje você pode tirar uma foto ou escrever um texto e isso ser visto por milhares de pessoas engana, isso faz alguns pensarem que quando viralizam já são jornalistas de guerra. Ir para a guerra é um pressuposto, o mérito é fazer um trabalho que corresponda”, finalizou.
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