‘Não temos um plano para a Amazônia desde o governo Sarney’, diz chefe-geral da Embrapa Territorial
Para Evaristo de Miranda, a visão que se construiu sobre a Amazônia no exterior é ‘completamente equivocada’: ‘Brasil precisa mostrar qual é a situação da região da forma menos manipulada possível’
Desde que o governo de Jair Bolsonaro entrou no poder, no início de 2019, a política ambiental brasileira vem sendo alvo de críticas, tanto nacionais, quanto internacionais. Recentemente, Bolsonaro foi criticado pelo presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden, que levantou a possibilidade da imposição de sanções ao Brasil por causa da destruição da floresta. Em entrevista ao programa Direto ao Ponto, da Jovem Pan, nesta segunda-feira, 14, o chefe-geral da Embrapa Territorial, Evaristo de Miranda, afirmou que a visão que se construiu sobre a Amazônia no exterior é “completamente equivocada”. Para ele, algumas alternativas para se avançar na questão ambiental são a regularização fundiária e montar um plano para a região, o que não existe desde 1990, época do governo de José Sarney, quando foi criado o Ibama. “Nós sempre tivemos, desde a Coroa Portuguesa, depois com os militares. Mas não temos mais um plano para a Amazônia desde Sarney”, apontou. Segundo Miranda, o ideal seria informar anualmente a situação da região, incluindo dados do quadro ambiental e agrário. “O governo federal deveria montar esse plano. Hoje, as pessoas publicam fragmentos sobre a Amazônia, você não tem uma visão sistemática. A nação precisa mostrar qual é a situação da forma menos manipulada possível, quais são os dados da Amazônia, e um plano para onde nós vamos”, disse. O chefe-geral da Embrapa Territorial foi sabatinado pelo apresentador do programa, Augusto Nunes, por Tobias Ferraz, jornalista do Canal Rural e apresentador do Projeto Nação Agro, Romualdo Venâncio, editor da revista “Plant Project”, Vera Ondei, coordenadora de comunicação digital DBO e editora online da DBO Rural e Paulo Cardoso, criador do Mais Floresta, site criado para colaborar com o crescimento do setor florestal brasileiro.
De acordo com Miranda, a Amazônia Legal — área formada pelos Estados do Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins, e Maranhão — tem, em média, 30 mil áreas desmatadas — a imensa maioria de pequena extensão. Dentro disso, 10% a 12% são fora do meio rural. “Não dá para colocar a culpa do desmatamento nos agricultores. São 28 mil áreas desmatadas, e 1 milhão de agricultores. É menos de 3% que desmatam e vemos uma acusação generalizada”, ressaltou o pesquisador. Além disso, ele afirmou que, entre os países de mesmo tamanho, ou seja, com mais do que dois milhões de km² em extensão territorial, o Brasil é o que mais preserva as suas florestas — 30% do território, enquanto nos outros países o percentual é de 10%. “Há um desconhecimento geral sobre a situação e uma incapacidade de comunicação sobre isso entre o governo, o agronegócio, agricultores e cooperativas. Quem nos ataca são organizações criadas para se comunicar, como as ONGs”, continuou. Ele observou, ainda, que há uma “porção muito pequena” de queimadas que acontecem dentro da floresta, e que quase 90% delas ocorrem nas áreas já desmatadas.
Assim como o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, Miranda também disse que a estiagem e o excesso de calor neste ano estão entre os principais responsáveis pelas queimadas ocorridas na região do Pantanal e da Amazônia. “Esse ano foi atípico. Um agricultor que coloca fogo para limpar a área, ele acha que vai parar no córrego, e não parou porque estava muito seco. Tivemos muito incêndio criminoso, mas muito incêndio que começou em estradas também”, afirmou. Segundo dados divulgados pela Embrapa Territorial em setembro, não houve aumento nas queimadas no Brasil em relação ao ano passado, ao contrário da Argentina, cuja alta foi de 185% e do Paraguai, cujo aumento foi de 90%, conforme os dados do satélite de referência da NASA, totalizados pelo Inpe. “A Argentina teve um percentual bem maior do que o Brasil de queimadas, mas ninguém ouviu falar nisso. O interesse é enorme pelo nosso País”, observou o pesquisador. De acordo com ele, há interesse em acabar com os incêndios, mas a questão não será resolvida “tratando os agricultores como criminosos e botando o exército planetário em cima deles”. “Os agricultores precisam de tecnologia, dinheiro e crédito para ajudá-los”, complementou.
Dados do Inpe são ‘mentira’
No dia 30 de novembro, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgou novos dados sobre o desmatamento da Amazônia, mostrando que houve um crescimento de 9,5% em comparação ao ano passado. Os dados são referentes ao período entre agosto de 2019 e julho de 2020 e também mostram que a área atingida pelo desmatamento na região foi de 11.088 km². No último balanço, entre agosto de 2018 e julho de 2019, a área desmatada foi de 10.129 km². Para Miranda, os números divulgados pelo Inpe são “mentirosos”. Segundo ele, a área desmatada em 2019 foi de 10.896 km², e o crescimento entre o ano passado e este foi de apenas 1,8% — ou 192 km. Já em 2018, o número foi de 7.229 km² — 51% menor do que no ano seguinte. “Isso [dados do Inpe] é mentira. Houve uma redução. O desmatamento aumentou 51% entre 2018 e 2019. Você podia esperar que ia aumentar 30%, 40% em 2020, e foi para 1,8% o crescimento”, disse Evaristo, citando algumas ações tomadas pelo governo Bolsonaro, como a criação do Conselho da Amazônia.
O chefe-geral da Embrapa Territorial disse, ainda, que espera um desempenho bom para o agronegócio brasileiro em 2020, com um crescimento aliado à tecnologia. “Não é expandindo e nem desmatando”, observou. Miranda elogiou, ainda, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, pelo “ótimo trabalho”. “O agro não parou durante a pandemia. Quase pararam o agro, mas a ministra teve um papel essencial. O agro não foi tão afetado assim, foi um setor que gerou emprego e riqueza, 8% de crescimento pelo menos. Assegurou alimentos, algodão para fazer máscaras, álcool… O setor foi capaz de atender durante a pandemia porque não parou”, finalizou
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