‘Vamos vacinar o Brasil todo este ano’, garante ministro Eduardo Pazuello

Ministro da Saúde do governo Bolsonaro falou sobre Covid-19 e vacinação no programa ‘Direto ao Ponto’, da Jovem Pan, desta segunda-feira, 1

  • Por Jovem Pan
  • 02/02/2021 00h29 - Atualizado em 02/02/2021 08h30
MATEUS BONOMI/AGIF - AGÊNCIA DE FOTOGRAFIA/ESTADÃO CONTEÚDO Ministro foi o entrevistado do programa 'Direto ao Ponto'

O General Eduardo Pazuello, atual ministro da Saúde do Brasil, foi o entrevistado do programa “Direto ao Ponto” desta segunda-feira, 1º. O ministro conversa com a Jovem Pan durante um momento delicado para a pasta que comanda: hoje, ele precisa lidar com a dificuldade para colocar em prática a campanha nacional de vacinação e a escassez de leitos hospitalares e de cilindros de oxigênio no Amazonas, que gerou a abertura de uma investigação da Polícia Federal sobre uma possível negligência por parte dele. O programa desta segunda foi comandado pelo apresentador Augusto Nunes e teve na bancada Leda Nagle, jornalista e apresentadora do Canal da Leda Nagle; Marina Machado, jornalista especializada em saúde; Lívia Zanolini, apresentadora do “Tá Explicado”, da Jovem Pan, e Fabio Zanini, colunista da “Folha de S.Paulo”.

Durante a conversa, o ministro mostrou otimismo em relação à vacinação no país, que considerou como “exitosa” e foi categórico ao afirmar: “Nós vamos vacinar o Brasil todo este ano”. Ele afirmou que a compra de 350 milhões de doses de imunizantes já foi oficializada e anunciou a chegada de doses do Instituto Serum, na Índia, e das primeiras 14 milhões de doses negociadas no Covax Facility, no mês de fevereiro. “O processo tende a acelerar naturalmente porque nós temos a maior estrutura de vacinação em massa no mundo, que é o nosso Programa Nacional de Vacinação”, recordou. Segundo ele, a visão do Governo Federal é de que a vacina não deve ser obrigatória. “Acredito que a gente vai ter um salto de vacinação agora no mês de fevereiro que vai passar tudo que tem por aí no mundo”, afirmou, considerando a comparação do Brasil com outros países, como Israel e Uruguai, “uma loucura”.

Questionado sobre o momento no qual anunciou a aquisição de doses da CoronaVac e foi desautorizado por Bolsonaro, ainda no mês de outubro, Pazuello esclareceu que tudo não passou de um mal entendido. “Faltou talvez a explicação clara para ele da minha parte que eram dois tipos de vacina: a vacina importada, que nós nem estávamos tratando naquela época, e a fabricação da vacina, com o aumento do parque fabril, com a fase três, trabalhada pela Fiocruz”, recorda. Segundo ele, o país sempre tratou as negociações com o Butantan de forma normal e na ocasião não considerou deixar o cargo que ocupa. “Quem te coloca na missão é quem te tira. Não vou pedir para sair. Nunca pedi para sair de nada”, afirmou. Para ele, o cargo como uma missão e quando concluí-la ele voltará ao seu posto nas Forças Armadas.

Com duas vacinas sendo aplicadas no país até o momento e a previsão da autorização para uso emergencial de outras em breve, o ministro afirmou que a responsabilidade majoritária da garantia de que os brasileiros receberão doses do mesmo imunizante na data certa é de outras esferas governamentais. “Quem executa a vacinação é o município. Cabe ao município nessa execução fazer o registro correto da vacina e marcar a data do retorno para aquela pessoa tomar a segunda dose com aquela vacina”, explicou. Pazuello garantiu, porém, que uma plataforma ligada ao SUS computa as informações dos imunizados para garantir que a vacinação não seja feita de forma errada.

Caos em Manaus

Nos próximos dias, Pazuello deverá prestar depoimento à Polícia Federal, que abriu investigação contra ele por suposta negligência na administração da crise da saúde no Amazonas. Perguntado sobre a responsabilidade do Governo Federal no caso, ele afirmou que tudo será esclarecido à PF. “Posso te adiantar que não houve omissão em nada. Pelo contrário, fomos proativos o tempo todo”, afirmou. Ele disse que o acompanhamento da curva de óbitos e casos é feito em todas as capitais e disponibilizado diariamente. “A primeira subida radical vai da última semana de dezembro para a primeira semana de janeiro. Sobe vertiginosamente e acompanha na primeira semana de janeiro e na segunda semana de janeiro”, explicou. Segundo Pazuello, de olho na subida da curva, ele fez contato com Manaus ainda no fim de dezembro. “Foi me chegando no final do ano apreensões. Liguei para o governador, liguei para secretários, todos estavam observando a subida, mas não estavam entendendo, naquele momento, que aquilo ali iria explodir em uma semana”, disse. “Nós nos antecipamos para evitar que ficasse ruim”, afirmou. Entre as ações listadas pelo ministro, estava a nomeação de uma médica como secretária para ir até o estado avaliar a situação da saúde.

“O trabalho dela foi de três dias de avaliação. Quando ela retornou, no dia seis, ela nos trouxe a seguinte posição: a curva estava subindo vertiginosamente e nós precisaríamos oferecer todo o apoio ao governo do estado. O governador veio pessoalmente e nós sentamos, todos os secretários e o governador, e tratamos do que nós podíamos fazer para apoiá-lo. Até o momento, nem o governador, nem a Maira [secretária enviada para o estado], nem ninguém, ninguém nos trouxe nenhuma situação de oxigênio. Ninguém trouxe falta de oxigênio, ninguém trouxe demanda, nada. Os nossos apoios seriam de pessoal, de medicamentos, estrutura, disponibilização de leitos… Os apoios normais que o ministério faz”, afirmou, alegando que o ministério só tem competência no nível de projetos e recursos. “O ministério da Saúde nunca foi oficiado sobre falta de oxigênio por White Martins. Isso é uma informação errada. A White Martins informou ao estado e essa informação nem teria por que vir para o ministério. O Ministério da Saúde não tem competência sobre a infraestrutura de oxigênio. Nós compramos oxigênio por intermédio dos estados e municípios”, afirmou. Segundo ele, a informação sobre crise com o oxigênio só chegou ao Governo Federal a partir do dia 8 e do dia 9, quando o estado trouxe o ofício enviado pela empresa.

Pazuello refutou a informação de que a falta de oxigênio foi responsável pela morte de pacientes em Manaus e garantiu que apenas uma auditoria definirá a motivação dos óbitos. “O que você tem que compreender é que a elevação da curva, vertiginosa, a partir de uma nova cepa, de uma nova linhagem de vírus, com maior contaminação, isso leva a uma reta exponencial de subida”, afirmou. Ele lembrou que nenhuma outra capital brasileira teve resposta semelhante e disse que no dia 8 de janeiro foi acionado pelo secretário de saúde do estado pedindo que a pasta auxiliasse no transporte de oxigênio entre Belém e Manaus. O ministro afirmou que não vê ligação entre a decisão do STF que proibiu intervenção do Governo Federal nos estados e municípios e o caos em Manaus. “O Ministério da Saúde, na lei do SUS, ele não tem competência na gestão dos estados e municípios. Nós não fomos proibidos de fazer nada nos estados e municípios”, pontuou. Invocando o espírito militar, ele instigou um tom de união ao falar das medidas tomadas em parceria com estados e municípios. “Acho que a maioria absoluta, dos políticos, dos governadores, dos secretários, nós estamos unidos nas ações contra a pandemia”, afirmou. Pazuello disse que chegou a ser questionado por aliados do governo sobre se todos seriam tratados de forma igualitária e respondeu que sim. Segundo ele, a reação de opositores ao perceberem que estão sendo tratados como todos os outros é positiva. “Independentemente da bandeira, da cor, da ideologia, estamos aqui para salvar as vidas de brasileiros”, disse.

Atendimento precoce e cloroquina

Questionado sobre a polêmica envolvendo a indicação do uso de cloroquina para tratar a doença, o ministro salientou que as propagandas do governo falam em “atendimento precoce” e garantiu que em momento nenhum o tratamento precoce foi aconselhado pela pasta. “A orientação anterior: ‘fique em casa e só procure o médico quando tiver faltando ar’, isso aí é atestado de óbito para as pessoas”, afirmou. “O que é que eu determinei? Que o ministério não fizesse protocolos nem recomendações de uso e se em caso o médico fosse administrar aquele medicamento, atenção para as doses ideais, atenção para o momento ideal de usar. Nós não recomendávamos usar [hidroxicloroquina], ao contrário da primeira gestão, na fase mais aguda da doença. O ministério orienta, não determina, e coloca que quando o médico assim prescrever ele fique atento às doses. O ministério da saúde é completamente a favor do atendimento precoce. É diferente o atendimento do acompanhamento”, disse. Ele afirmou, ainda, que os médicos têm independência na hora de indicar os medicamentos ao paciente e disse que o aplicativo polêmico era um piloto de código aberto que foi retirado imediatamente do ar. “O objetivo dele é o diagnóstico, auxiliar o diagnóstico e apresentar as orientações do ministério quanto a posologia, quanto às doses de todos os medicamentos que tem no mercado”, pontuou.

Confira o programa “Direto ao Ponto” desta segunda-feira, 1, na íntegra:

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