Bolsonaro tira foco do importante no controle da pandemia ao citar remédio sem comprovação, diz infectologista

Presidente citou remédios para curar Covid-19 e disse que procuraria Marcelo Queiroga para falar sobre estudos envolvendo droga proxalutamida

  • Por Jovem Pan
  • 18/07/2021 12h42
Pixabay/Creative Commons pote de remédios aberto com comprimidos no chão Médica afirmou que apenas coquetel de anticorpos foi aprovado pela Anvisa até o momento

A médica da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Raquel Stucchi, conversou com o Jornal da Manhã, da Jovem Pan, neste domingo, 18, sobre as falas de Jair Bolsonaro citando medicamentos contra a Covid-19. Em conversa com a imprensa na saída de um hospital em São Paulo, o presidente disse que pedirá ao Ministério da Saúde um estudo sobre a efetividade da proxalutamida contra a doença. Segundo ela, se o remédio tivesse comprovação científica ele já estaria sendo utilizado. “Mais uma vez é um desvio de foco do que é importante para o controle da pandemia. Temos estudos iniciais sem nenhum dado ainda que nos dê esperança de que ele possa ter alguma ação no combate da Covid, mesmo nos casos leves”, afirmou. Segundo Stucchi, até o momento, o que se tem de mais “avançado” em relação a um possível tratamento precoce da doença são os anticorpos monoclonais, que tiveram permissão da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para serem utilizados ainda no início da infecção, mas ainda não são distribuídos no Sistema Único de Saúde.

“Todas essas outras medicações nós ainda não temos dados, então a gente precisa esperar, nós devemos conviver com a Covid por décadas, possivelmente, então temos que aguardar que estudos sejam desenhados, estudos bem feitos”, apontou. Ela confirmou, ainda, dados do Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos citados por Bolsonaro que diziam que pessoas obesas eram mais propensas a ter casos graves da Covid. Apesar da atenção dobrada da equipe médica aos que têm comorbidades, a médica reforçou o fato de que pessoas jovens e que não têm problemas de saúde anteriores também são vulneráveis à doença.

Stucchi lembrou que medidas de isolamento social, uso de máscara e higienização da mão ainda são efetivas contra a doença. “Essas medidas continuam sendo obrigatórias mesmo com o avanço da vacinação no nosso meio”, relembrou. A especialista também comentou sobre os números de pessoas com Covid-19 assintomáticas no Brasil e sobre um estudo que mostram efeitos possíveis da “covid longa” nesta população. A médica lembrou que é difícil adivinhar o percentual de pessoas assintomáticas no país por causa da falta de testagens em massa ou em pessoas que tiveram contato com positivados. “Alguns sintomas acabam dificultando muito e atrapalhando muito a qualidade de vida da pessoa no seu dia a dia”, lamentou.

Confira o “Jornal da Manhã” deste domingo 18, na íntegra:

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