Convite para evento sinaliza que EUA veem democracia sólida no Brasil, diz Manuel Furriela

Segundo o professor de relações internacionais, participação do governo brasileiro na Cúpula pela Democracia Virtual sinaliza uma boa relação entre as duas nações, apesar da falta de afinidade pessoal entre Bolsonaro e Biden

  • Por Jovem Pan
  • 09/12/2021 10h34 - Atualizado em 10/12/2021 12h22
EFE/EPA/SHAWN THEW - 16/08/2021 Joe Biden falando em microfone diante de bandeiras dos Estados Unidos Aposta do professor de Relações Internacionais Manuel Furriela é de que Joe Biden deve passar a se posicionar de forma mais assertiva contra desrespeito aos direitos humanos e à democracia em outros países do mundo

Começa nesta quinta-feira, 9, a Cúpula pela Democracia Virtual, promovida de maneira virtual pelo governo americano de Joe Biden. Apesar de alguns países não terem sido convidados, o Brasil foi chamado e vai participar. Segundo o professor de relações internacionais da FMU Manuel Furriela, o convite para o governo brasileiro sinaliza uma boa relação entre as duas nações, apesar da falta de afinidade pessoal entre os presidentes Bolsonaro e Biden. Furriela ainda argumenta que os Estados Unidos (EUA) vê uma democracia forte no Brasil, com instituições sólidas e que, por isso, mantém uma relação pragmática entre os Estados. “Há uma indicação positiva e pragmática em relação ao Brasil. Nós sabemos que não há uma afinidade pessoal entre o Joe Biden e o nosso presidente. Bolsonaro claramente indicou que apoiava Donald Trump. Mas há um pragmatismo na relação entre os dois países e isso é muito positivo. O governo Biden tem críticas ao governo brasileiro em relação a algumas questões. Em relação ao meio ambiente as críticas são mais ácidas. Mas o governo americano claramente está indicando que o Brasil é uma democracia sólida, e realmente é, que o governo brasileiro foi eleito, e realmente foi, então os aspectos relacionados ao escopo dessa reunião são atendidos pelo governo brasileiro e pelo Estado brasileiro”, afirmou Furriela.

“Existem divergências, elas vão continuar existindo entre governos, mas isso não pode condenar a relação entre os Estados. O Brasil e os Estados Unidos são democracias sólidas, são Estados que têm uma relação muito antiga, e o governo brasileiro do presidente Bolsonaro tem respeitado todas as prerrogativas, independente de críticas a alguns aspectos”, continuou o professor, ressaltando a importância das relações internacionais baseadas na história construída entre as nações, e não por governos específicos. Para Furriela, o disrcuso do presidente Bolsonaro na Cúpula deverá demonstrar a solidez das instituições brasileiras. “Nós temos um regime constitucional, temos leis, normas, em relação ao processo eleitoral, temos um processo eleitoral fiscalizado por instituições sólidas. O Brasil tem muito a mostrar num processo como esse. Problemas pontuais existem, mas eles não mancham a reputação do Brasil como Estado e em relação as suas instituições. Acredito que o governo brasileiro, até pela linha da nossa democracia, vai ter um bom discurso nesse sentido”, opinou.

Furriela destacou ainda o que significou os EUA não convidarem nações como China, Cuba, Venezuela, Arábia Saudita e Rússia para participar da Cúpula. “O governo americano nega que tenha deixado de convidar alguns países, como China e Rússia, além de alguns outros da América Latina, por conta de uma indicação de que nesses países não haveria democracia. Mas, na verdade, é uma crítica. A partir do momento que o governo americano decide convidar certos grupos e pessoas, com certeza está indicando uma afinidade. O governo venezuelano não foi convidado, mas o maior opositor do Maduro, o Guaidó, foi chamado para participar. Então, com certeza é uma indicação”, comentou.

E continuou a abordar possibilidades de ação do governo americano para os próximos dias: “Biden já tinha incluído na sua agenda que iria retomar críticas ao desrespeito aos direitos humanos, às questões em relação à democracia, por exemplo em relação à China. Essa não era uma agenda que tinha Trump, que tinha uma crítica muito forte à China, e acertada com relação a questão de comércio internacional, mas não a essas questões relacionadas à democracia e direitos humanos. Então, Biden traz agora, a partir dessa reunião, uma retomada da agenda. E essa agenda vai trazer críticas à Arábia Saudita, à China, à Venezuela, à Cuba com relação à democracia e direitos humanos, que são princípios que os Estados Unidos sempre utilizaram em seus governos quando criticavam os outros Estados”.

“A China é um país muito importante, cada vez mais, no contexto internacional, mas ela tem muitos problemas relacionados com respeito aos direitos humanos e não é um país democrático. As lideranças não são escolhidas em processo democrático. Lógico, a democracia não está ligada somente a eleições, mas é um dos seus maiores indicadores, porque a partir do momento que a população não tem liberdade de escolha dos seus líderes, com certeza, se tem um problema na democracia. Está muito claro que essa reunião vai mostrar que o que Biden propôs na sua campanha, a retomada desses valores americanos, agora vem em críticas a vários países que, internacionalmente, tem problemas diretamente ligados com os temas da conferência. O governo americano vai, a partir de agora, ser mais assertivo e vai trazer de volta críticas, não só à China, mas Venezuela, Cuba. Apesar de Cuba ter tido uma aproximação durante a gestão do democrata Obama, a partir de agora Joe Biden vai retomar essa crítica. Cuba não é uma democracia”, finalizou Furriela.

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