CPI da Covid-19 reage a declarações de Bolsonaro e Renan pede apoio de Lira e Pacheco
Relator do colegiado pediu que os presidentes da Câmara e do Senado ‘definitivamente apoiem os trabalhos da comissão’; presidente afirmou que não vai responder questionamentos dos senadores
A CPI da Covid-19 voltou a reagir a declarações do presidente Jair Bolsonaro contra o trabalho da comissão e o relator lamenta o que chama de “escatologia”. Na quinta-feira, 8, durante live semanal, o mandatário afirmou que estava “cagando” para a investigação dos senadores. Ele acrescentou, dizendo que o colegiado não traz nenhuma contribuição ao Brasil. Bolsonaro ainda fez ataques ao presidente da comissão, Omar Aziz; ao vice-presidente, Randolfe Rodrigues; e ao relator, Renan Calheiros, que rebateu. “Disse que eu nunca vi uma palavra só que sintetizasse um governo tanto quanto esta. Aliás, se o governo estava com dificuldade para encontrar um slogan, definifitavamente o encontrou”, afirmou. Calheiros citou pesquisas em favor dos trabalhos da comissão. Segundo levantamento da XP/Ipespe, mencionado pelo senador, 63% dos entrevistados aprovam os resultados da CPI e 69% atribuem a corrupção na compra de vacinas ao governo federal. O relator cobrou de Arthur Lira e Rodrigo Pacheco um apoio mais enfático à CPI da Covid-19. “Novamente fazer um apelo a presidente da Câmara dos Deputados, que não tem perdido oportunidade para falar mal da Comissão Parlamentar de Inquérito, a exemplo do presidente da República, e fazer um apelo ao presidente do Senado para que definitivamente apoiem os trabalhos da comissão, nós vamos adiante. Não vamos investigar instituição militar, longe de nós, nós temos responsabilidade institucional. Mas nós vamos investigar o que aconteceu nos porões do Ministério da Daúde”, disse.
Na oitiva desta sexta, o consultor William Santanna apontou erros em notas fiscais do contrato da Covaxin, com valor de um R$ 1,6 bilhão, que é investigado pela Polícia Federal, Ministério Público e Tribunal de Contas da União. William Santana foi mencionado por uma servidora da saúde como quem alertou divergências. De acordo com ele, o documento fiscal, chamado de “invoice”, apresentava erros, como a previsão de pagamento antecipado. “A Dimp, a divisão de importação é a área onde trabalho, recebeu da empresa citada um e-mail do dia 16/3, foi o primeiro e-mail que recebemos da empresa. Este e-mail tinha em anexo o contrato e solicitava providências para abertura da licença de importação. A primeira parcela teria que ser entregue em 17 de março e já estava em atraso. Eles fizeram um primeiro contato, mandaram o primeiro e-mail no dia 16, mas o e-mail que veio a documentação chegou no dia 18”, afirmou o consultor, que reiterou que a Covaxin não possui registro na Anvisa e o processo de compra foi suspenso, depois das denúncias.
Ao detalhar as tratativas com a Precisa Medicamentos, William Santana relatou erros básicos. “Já havia identificado os primeiro item, o nome do ministério estava errado, havia muito erro de grafia. Não havia descrição de qual aeroporto a carga chegaria, porque preferencialmente chega em Guarulhos. Tanto eu quanto o despachante ficamos confusos porque a invoice não dizia se a vacina viria em frasco, em caixa. Não estava claro”, esclareceu o depoente, que é consultor da Organização Pan-Americana da Saúde, que atualmente está na área de importação do ministério. William Santana confirmou ser subordinado a Luis Ricardo Miranda, que relatou pressões atípicas para a compra da Covaxin. Segundo o consultor, cabe a ele revisar contratos, não negociar compra ou fechar acordos. “São etapas distintas, uma é de contratação, firmação de contrato, assinatura das partes, é outro setor alheiro à área que eu trabalho”, disse.
Durante a sessão, membros da CPI reclamaram de uma suposta obstrução de informações do Ministério da Saúde. Além disso, eles tentavam comparar o documento fiscal da Covaxin apresentado pelo depoente com aquele utilizado pelo ministro Onyx Lorenzoni, em pronunciamento no Palácio do Planalto, no dia 23 de junho. Renan Calheiros acredita que Onyx apresentou uma versão falsa. E pede a convocação do ministro da Secretaria-Geral da Presidência. “Para que ele venha depor sob o crime de falsidade ao exigir perante a nação, para confundir a investigação dessa comissão, um documento que sequer existe, falso”, disse. William Santana relatou que, após o primeiro documento fiscal com erros, em 18 de março foram apresentadas mais duas versões e em todas elas também constavam equívocos. Nesse momento, o consultor foi interpelado pelo senador Flávio Bolsonaro (PP). Ele mostrou o que seria a origem da primeira invoice, afirmando que, na verdade, o documento teria sido emitido no dia 19 e, portanto, o depoente estaria enganado. No entanto, William confirmou ter visto o documento no dia 18.
A senadora Simone Tebet (MDB) não se mostrou convencida com as explicações dos governistas acerca das suspeitas de corrupção. Para ela, existe materialidade nas denúncias. “Existem três invoices, uma delas chegou antes do encontro com o presidente da República. William, um consultor, afirma categoricamente, inclusive para o filho do presidente da República, ‘eu tenho certeza que foi dia 18’, e por mais do que o senador Flávio tenha apresentado uma informação importante para a comissão que há no banco de dados a data do dia 19, nós temos que saber de onde partiu isso”, disse. Senadores do grupo majoritário da CPI, que reúne oposição e centro, começam a mirar as investigações no ex-secretário executivo do Ministério da Saúde, Elcio Franco. Ele foi o número dois na pasta na gestão de Eduardo Pazuello. Em recentes declarações, membros da CPI veem o coronel com forte influência em todas as áreas em que há suspeitas de irregularidades na negociação de vacinas.
*Com informações do repórter Levy Guimarães
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