Crise política coloca agronegócio em alerta máximo; produtores temem alta do dólar
Especialista diz que cenário é de ‘ganhadores e perdedores’, com resultado positivo nas exportações e negativo para o mercado interno, que sofre com aumento dos insumos
A comida no Brasil, que já não estava barata, ficou mais cara ainda por causa da atual crise política. O setor do agronegócio está em alerta máximo, produtores de arroz, feijão, legumes, frutas e verduras temem a alta do dólar. Segundo o professor do Instituto de Ensino e Pesquisa de São Paulo (Insper), Marcos Janker, o risco é de perdas se nada for feito. “É preocupante sim, todos setores estão preocupados e o agro tem que estar muito preocupado porque ele depende de estradas funcionando, ferrovias, portos e mesmo abastecimento doméstico. Essa insegurança não é boa para ninguém”, pontua. O enfraquecimento do real e novas altas na inflação são os primeiros sintomas no aumento no preço dos alimentos. A Confederação Nacional da Agricultura (CNA) diz que, nos últimos 12 meses, o preço dos alimentos acumulou alta de 15,27%. Há uma semana, a saca do feijão carioca de 60 quilos estava em média R$ 276, o que representa alta de 40% em relação ao ano passado, segundo o Instituto Brasileiro de Feijão. No Paraná, maior Estado produtor de feijão do país, o custo aumentou 34%, segundo a secretaria de Agricultura e Abastecimento (seab). A saca do alimento custava R$ 71 em 2020, agora passa dos R$ 95.
Diante da incerteza política, existem dois lados a serem considerados no setor do agronegócio. Quem exporta está comemorando os números. Agora, quem atua no mercado interno está sofrendo com a alta dos insumos, já que tudo é baseado na cotação do dólar. E ainda tem mais uma crise a ser estancada: a hídrica, que também impacta diretamente nos negócios, explica Marcos Janker. “Assim como aconteceu em toda a economia, a Covid-19 produziu ganhadores e perdedores. O setor de varejo, de supermercados cresceu, a comida dentro de casa cresceu. Mas a parte de restaurantes, alimentação fora de casa caiu. Dentro do agro, quem exporta se deu bem, mas quem trabalha só com mercado interno ou precisa de produtos cotados em dólar acabou sendo prejudicado.”
“Também houve um importante aumento no custo dos insumos, principalmente fertilizantes, o preço da terra também subiu. Está havendo muita dificuldade de aquisição de máquinas, então diria que o cenário é de ganhadores e perdedores”, completa Janker. A partir do próximo dia 15 de setembro, começa a nova temporada de colheita do agronegócio. A estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) é de uma safra igual ou superior a 290 milhões de toneladas. Os números incluem soja, milho, algodão, arroz e feijão.
*Com informações do repórter Maicon Mendes
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