Dia mundial do combate à corrupção acontece nesta segunda, mas Brasil não tem motivos para comemorar

  • Por Jovem Pan
  • 09/12/2019 07h07 - Atualizado em 09/12/2019 08h00
EFE/Joédson Alves EFE/Joédson Alves Para especialistas, fim da prisão após condenação em segunda instância é preocupante

Especialistas afirmam que não há muito o que comemorar neste 9 de dezembro, dia internacional de combate à corrupção. Isso porque, segundo eles, houve um retrocesso no Brasil depois que o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que é inconstitucional a prisão após condenação em segunda instância. A decisão foi tomada no mês passado, por seis votos a cinco, e beneficiou cerca de cinco mil presos, segundo o Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

O procurador de Justiça de São Paulo e presidente do Instituto Não Aceito Corrupção, Roberto Livianu, explica por que o posicionamento do STF é negativo. “Os processos vão levar 12, 15, 18, 20 anos para termos efetividade. Portanto isso gerará, nas pessoas, a sensação de insatisfação, de fracasso, de frustração, e dificultará as delações premiadas.”

Tramitam no Congresso Nacional duas matérias que querem permitir a prisão após condenação em segunda instância: uma delas é um projeto de lei que corre no Senado Federal e que está na pauta de discussão da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) desta terça-feira (10). A outra é uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição), cuja comissão especial na Câmara dos Deputados foi instalada na semana passada.

Apesar da mudança de entendimento do STF, o cientista político Sérgio Praça lembra da importância da Operação Lava Jato, que está prestes a completar seis anos em março. “A operação, de fato, trouxe aos agentes políticos e empresariais envolvidos em corrupção um medo real de punição por seus atos. Então quaqluer pessoa que cogite, hoje, um esquema corrupto, estará se arriscando muito mais – mas muito mais mesmo – do que nos anos 1980, 1990, e primeira década do novo século. Então nesse sentido considero que a Operação Lava Jato foi um sucesso”, avalia.

De acordo com o presidente do Instituto Não Aceito Corrupção, Roberto Livianu, o combate à corrupção nos níveis federal e estadual está avançado. O maior desafio, porém, está no âmbito municipal, que não possui controle interno. “Sem controle interno dificulta-se a prevenção, sem controle interno nós temos mais corrupção. Precisamos avançar, precisamos estruturar todo esse conjunto de instrumentos, precisamos de mais transparência”, diz

Em outubro, o instituto Não Aceito Corrupção realizou uma pesquisa com 1.037 cidades brasileiras. No entanto, apenas um terço delas respondeu o levantamento. Desse total, só 24% disseram ter as quatro funções de controle à corrupção. São elas: ouvidoria, auditoria, corregedoria e secretaria.

É importante ressaltar, porém, que não basta os municípios terem apenas as estruturas. De acordo com o instituto, é preciso que elas tenham independência e autonomia, por meio de mandatos.

*Com informações da repórter Nicole Fusco

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