Dificuldade de acesso à gruta complicou o resgate de vítimas do desabamento, afirma bombeiro

Militares não foram informados do treinamento realizado na cidade de Altinópolis, no interior de São Paulo, e precisaram percorrer 1,5 Km por uma trilha para socorrer as pessoas soterradas

  • Por Jovem Pan
  • 01/11/2021 11h34
Divulgação/Corpo de Bombeiros de SP Desmoronamento em gruta no interior de SP Ao menos 15 bombeiros civis ficaram soterrados na ocorrência; nove já foram a óbito

Nove pessoas morreram na madrugada do último domingo, 31, após o desabamento de uma gruta em Altinópolis, no interior de São Paulo, durante um treinamento realizado para bombeiros civis. O major Rodrigo Leal, comandante interino do 9º grupamento de bombeiro militares concedeu entrevista ao vivo ao Jornal da Manhã nesta segunda-feira, 1º de novembro, para comentar o ocorrido. Segundo ele a causa da morte deve ter sido o próprio desabamento, mas a Polícia Civil fará uma investigação. Ele apontou as principais dificuldades encontradas no resgate, como para chegar à gruta, se comunicar e o próprio horário da ocorrência. “Era realizado um treinamento por bombeiros civis na gruta e, na madrugada, por volta das três horas da manhã, houve um desabamento que atingiu uma parte dessas pessoas que estavam fazendo o treinamento. O Corpo de Bombeiros Militar foi acionado, nos deslocamos de Ribeirão Preto até Altinópolis para dar início ao atendimento. O atendimento foi complicado porque não tínhamos acesso, não conseguimos chegar com as viaturas até a gruta. Tínhamos que caminhar cerca de 1,5 quilômetro por uma trilha até acessar essa gruta, levando nossos equipamentos, para realizar o atendimento. Conseguimos retirar uma das vítimas com vida e, infelizmente, os outros nove vieram a óbito”, afirmou o major.

Ele ainda elencou outras dificuldades encontradas no atendimento. “A ocorrência se deu pela madrugada, houve dificuldade de acesso, dificuldade de visualização, essas foram os principais problemas que a gente teve lá, de comunicação também, e tivemos que realizar todo o aparato de logística, junto com as outras agências, Polícia Militar, uso do helicóptero da PM, a própria prefeitura de Altinópolis nos auxiliou bastante. Nós trabalhamos todo o dia todo e, às vezes, nesse tipo de casos, podemos encontrar alguém vivo, mas infelizmente não foi o caso dessa ocorrência”, pontuou o major.

Para Rodrigo Legal, houve falta de planejamento na escolha da gruta para a realização do treinamento. Ele também criticou o fato de bombeiros civis estarem fazendo o treinamento, quando a função é pedida para bombeiros militares, em situações de resgate. “Há que se fazer uma avaliação de condução climática, do tipo de local onde esses treinamentos são feitos. O bombeiro militar utiliza as cavernas do Petar [Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira], em São Paulo, que é um outro tipo de caverna, onde a ocorrência de desabamento, a probabilidade é bem menor (…) A função do Bombeiro Civil é atuar em locais mais fechados, como, por exemplo, um shopping, uma empresa. E cabe ao Bombeiro Militar fazer o atendimento de emergência e urgência de todas as ocorrências, incêndios, salvamento, resgate, atendendo à população. O Bombeiro Civil teria uma atuação mais privada, digamos assim, e o Bombeiro Militar atua atendendo a comunidade, a sociedade. Pela missão dos bombeiros civis, eu não vejo muita utilidade nesse tipo de treinamento [que era realizado na gruta no momento do acidente]. Mas cabe uma discussão em âmbito nacional para verificar e definir o papel do bombeiro civil e do bombeiro militar para que evitemos esse tipo de ocorrências no futuro”, disse. Ele ainda afirmou que os bombeiros militares não sabiam da realização do treinamento e se solidarizou às famílias das vítimas.

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