Escolas fechadas escancaram desigualdade e especialistas cobram ação rápida por volta às aulas
Segundo o levantamento do Datafolha, os mais atingidos e com menor acesso ao retorno fazem parte de famílias com alta vulnerabilidade
Especialistas, pais e autoridades cada vez mais estão conscientes da necessidade da reabertura das escolas, mas admitem que o abismo na educação brasileira é cada vez maior, sobretudo na rede pública. O que fica mais evidente com a retomada gradual das aulas presenciais é que, além das perdas na aprendizagem, a pandemia do coronavírus também escancarou a desigualdade entre crianças e adolescentes Brasil afora. Isso porque, mesmo com as portas abertas, a proporção de alunos mais pobres que tiveram a oportunidade de voltar à escola é menor que a metade da registrada entre estudantes com maior renda. A conclusão é de uma pesquisa Datafolha encomendada pela Fundação Lemann e pelo Instituto Itaú Social. O estudo foi realizado entre abril e maio, com jovens do ensino fundamental e médio de escolas públicas. Segundo o levantamento, os mais atingidos e com menor acesso ao retorno fazem parte de famílias com alta vulnerabilidade. O abismo também é regional. Enquanto 40% dos estudantes do Sudeste e do Sul tiveram acesso a escolas reabertas, mesmo que parcialmente, a região Norte tem índice de 6%; no Nordeste, são 11%.
Segundo a presidente do Conselho Nacional de Educação, Maria Helena Guimarães de Castro, as instituições precisam traçar estratégias urgentes para levar as crianças e adolescentes às salas de aula. “É muito importante que as redes públicas de ensino mapeiem esse aluno, planejem uma busca ativa, façam a identificação desses alunos, estabeleçam o diálogo com essas famílias, uma comunicação para que eles voltem com a expectativa de que é possível recuperar, retomar e que eles terão novas oportunidades na medida que eles voltem às aulas. Esse é um ponto essencial”, diz a presidente do CNE. Maria Helena Guimarães de Castro reforça que os prejuízos aos alunos que não voltarem às escolas são incalculáveis. “Não tem hipótese desses alunos terem uma vida melhor, uma vida mais saudável, mais oportunidades de vida, se eles não retomarem os estudos. Então a valorização da educação como um bem que tem valor universal para todas as famílias, independentemente da renda, cor, classe social e de qualquer outro tipo de adversidade. O direito a educação precisa ser garantido para todos”, afirma. Os dados ainda mostram que há insegurança entre as famílias para o retorno. Quatro em cada dez estudantes que tiveram à disposição escolas reabertas, mesmo que parcialmente, não foram às unidades. O medo da pandemia aparece como o principal motivo.
*Com informações da repórter Letícia Santini
Comentários
Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.