Esporte de alto rendimento está longe de ser ambiente ‘saudável’ para a mente, dizem especialistas

Dona de quatro ouros olímpicos e considerada a favorita no Japão, americana Simone Biles abandonou as finais da ginástica para cuidar da saúde mental; Adriano Imperador apoia a atleta: ‘Seja feliz’

  • Por Jovem Pan
  • 29/07/2021 09h03
YURI HIROSHI/ENQUADRAR/ESTADÃO CONTEÚDO A ginasta Simone Biles, dos Estados Unidos, se apresenta durante a ginástica feminina nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 Desistência de Simone Biles reacendeu a discussão sobre a pressão psicológica imposta aos atletas de alto nível

A desistência da ginasta americana Simone Biles durante as Olimpíadas de Tóquio reacendeu a discussão sobre a pressão psicológica imposta aos atletas de alto nível, sobretudo às mulheres. Dona de quatro ouros olímpicos e considerada a favorita para garantir mais medalhas no Japão, Biles acabou abandonando finais dos Jogos para cuidar da saúde mental. A atitude, considerada corajosa por especialistas, não é isolada. O campeão das piscinas, Michael Phelps, e a tenista japonesa, Naomi Osaka, ajudaram a reduzir o tabu quando passaram a falar abertamente sobre ansiedade, depressão e até a luta contra pensamentos suicidas. Segundo o psiquiatra Rodrigo Ramos, o esporte de alto rendimento está longe de ser um lugar psicologicamente saudável.

“O que prejudica muito a saúde mental de um atleta é o holofote. Quando você está na alta performance, o holofote aumenta demais, então se ele já tinha disciplina, essa disciplina aumenta por três, porque o mundo inteiro olha para ele. Esse holofote excessivo aumenta demais a carga de estresse do atleta”, comenta o profissional. Da mesma forma, a terapeuta e coach de atletas, Gisa Azeredo, reforça que a pandemia agravou o quadro de ansiedade e intensificou a pressão psicológica sobre os competidores. “Tem um país inteiro que está ali: ‘olha, você precisa trazer uma medalha, a gente precisa de você’. Pensa o fardo, o peso que é para um atleta. Haja saúde mental.”

O psiquiatra Henrique Bottura, mestre em psicologia do esporte pela Unesp, chama a atenção para a forma com que os atletas estão acostumados a lidar com os sentimentos. “O atleta ele é alguém que está habituado a suprimir as suas emoções em prol do objetivo maior, que é o resultado. Portanto, ele não pode ficar à mercê das emoções e sentimentos o tempo interior. Então ele inibe o medo. Ele sente um angústia, mas mantém essas emoções mais contidas para atingir o resultado”, pontua. Nesta quarta-feira, 28, o ex-jogador de futebol, Adriano Imperador, apoiou a decisão de Simone Biles de abandonar as finais por equipes e individual geral da ginástica artística. Em uma publicação nas redes sociais, Adriano disse saber exatamente o que a ginasta está passando e pontuou: “não deixe as pessoas te crucificarem. Seja feliz e cuide da cabeça! Passei por isso e até hoje sou questionado”.

*Com informações da repórter Letícia Santini

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