Falta de álcool anidro pode aumentar preço dos combustíveis e causar desabastecimento de etanol
Especialista explica que escassez pode ser causada por uma série de fatores e postos de gasolina devem repassar aumentos nos preços nas bombas
O setor de combustíveis tem enfrentado dificuldades diante da crise causada pela pandemia. Donos de postos de gasolina e consumidores têm sentido os impactos no bolso. Na semana passada, após 2 meses sem cobrar o pagamento do PIS/Cofins, o governo anunciou o fim da isenção do tributo, o que gerou revolta entre os empresários do ramo. Agora, os donos de postos se preocupam com a escassez do álcool anidro, composto misturado à gasolina. Com a falta do insumo, o preço dos combustíveis pode aumentar. André Marra é proprietário de postos de gasolina na capital paulista e diz que o aumento nos compostos, de forma geral, não impactam só os empresários, mas também o consumidor. Ele explica que os postos não conseguem absorver os aumentos sozinhos e por isso precisam repassar o preço. A falta de transparência no setor também é apontada como algo problemático por ele.
“Os importadores e os produtores de combustíveis são obrigados a informar à própria ANP o preço deles de aquisição e de venda. No meio do caminho nós temos as distribuidoras, que por algum motivo não são obrigadas a informar nem a aquisição e nem o preço de venda. Nós, postos, somos obrigados todo o dia a estampar o preço de venda para os consumidores. Eu, como dono de posto, gostaria de ter a oportunidade de também informar não só aos consumidores, mas para a imprensa, para todo mundo, o preço que eu compro os combustíveis”, afirmou. O diretor executivo da Associação Brasileira de Revendedores de Combustíveis Independentes e Livres, Rodrigo Zingales, afirma que a escassez do anidro pode ser um reflexo da atuação do mercado, baseado nos interesses das usinas. “Uma usina de açúcar e álcool está capacitada para produzir açúcar, etanol hidratado e, eventualmente, o etanol anidro. O que acontece é: se o preço do açúcar internacional está alto, a usina vai preferir produzir açúcar ao invés de etanol”, analisa.
Baseado nos levantamentos da Esalc, Rodrigo explica que o aumento do açúcar esta semana foi pequeno enquanto do etanol teve uma elevação mais significativa. “O que a gente pode subentender deste aumento é que eventualmente algum grande grupo econômico teve algum problema na produção, ou então ofertou menos etanol no mercado, ou então tomou uma decisão de aumentar os preços. Ao aumentar os seus preços, os demais agentes desse mercado acabaram seguindo o líder deste mercado, gerando um aumento generalizado no mercado internacional”, explica. Rodrigo considera importante que o governo adote medidas de incentivos para que as próprias usinas considerem mais vantajosa a produção de etanol do que a de açúcar.
*Com informações da repórter Camila Yunes
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