Covid-19: Falta de transparência na produção de vacina russa preocupa ciência, explica infectologista

O médico afirma que uma das preocupações é com o rigor da agência reguladora da Rússia

  • Por Jovem Pan
  • 11/08/2020 10h26 - Atualizado em 11/08/2020 10h28
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REUTERS/Dado Ruvic/Illustration/File Photo Mulher olhando frasco de vacina contra Covid Embora autoridades do país garantam a eficácia do imunizante, infectologistas e até mesmo a Organização Mundial de Saúde (OMS) pedem cautela sobre o assunto

A falta de transparência nas etapas para produção da vacina russa contra a Covid-19 traz preocupações para a ciência, explica o infectologista e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Edimilson Migowski. Segundo ele, o desenvolvimento do imunizante é uma questão “mais complexa” que envolve questões políticas, econômicas e técnicas e requer transparência. “Para fazer uma pesquisa é necessário publicar os dados e etapas para que se tenha confiança. Então, neste momento, não temos conhecimento sobre essas etapas, então fica difícil opinar [sobre a vacina]”, explica. O infectologista afirma que uma preocupação é com o rigor da agência reguladora da Rússia, citando que a falta de conhecimento sobre esse processo preocupa os cientistas.

“No Brasil, se o presidente quiser licenciar um medicamento a Anvisa não vai licenciar, mas não sabemos se é a mesma coisa na Rússia. Não sabemos se o presidente [Vladimir Putin], com o poder que ele tem, pode impor uma decisão sobre a agência reguladora. Então essa falta de transparência no processo da vacina torna o mundo da ciência ressabiado em relação a esse novo produto”, ressalta o médico, em entrevista ao Jornal da Manhã, da Jovem Pan. O anúncio sobre o registro da primeira vacina foi feito pela Rússia nesta terça-feira, 10. Embora autoridades do país garantam a eficácia do imunizante, infectologistas e até mesmo a Organização Mundial de Saúde (OMS) pedem cautela sobre o assunto. O motivo, realmente, é o completo desconhecimento sobre as etapas utilizadas para a testar a eficácia da descoberta.

“Para testar uma vacina tem a fase pré-clínica, depois uma etapa com animais, depois a fase 1 que envolve poucos voluntários, seguida pela fase 2 com um número maior de testagem, que é quando começa a ver se os voluntários produzem os anticorpos. Então, na fase 3 da pesquisa você envolve um número ainda maior de pessoas, mas pelo que vimos nas reportagens, essa fase 3 não foi atendida de uma forma plena”, avalia o infectologista. Segundo ele, “por mais que os pesquisadores envolvidos tenham sido eficientes no desenvolvimento da vacina”, é complicado afirmar, como feito pelo presidente Vladimir Putin, que a vacina traz um prologado efeito de imunização, porque o período estudado é curto para ter a certeza sobre a eficácia. “Você dizer que tem uma proteção de longo prazo é complicado, o que faz com que a gente tenha uma postura mais conservadora. Não estou dizendo se a vacina é ruim ou boa, estou dizendo que não tenho elementos ainda suficientes para tomar uma posição segura sobre o assunto”, finaliza o professor a UFRJ, destacando a necessidade de considerar a eficácia e, principalmente, a segurança da vacina.

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