Há pesquisadores na lista que nunca foram convidados para reuniões com o governo, diz cientista

Plano Nacional de Imunização da Covid-19 foi entregue ao Supremo Tribunal Federal neste sábado

  • Por Jovem Pan
  • 14/12/2020 09h16 - Atualizado em 14/12/2020 09h21
EFE/EPA/Bagus Indahono/Archivo Profissional da saúde aplica vacina em paciente Plano Nacional de Vacinação estabelece diretrizes para imunização prioritária contra a doença

Um grupo de pesquisadores brasileiros citados no  “Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19” do governo federal, publicou neste sábado, 12, uma nota declarando completo desconhecimento e estranheza quanto ao planejamento apresentado pelo Ministério da Saúde ao Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo os cientistas, identificados como colaboradores para a elaboração do texto, a proposta não tem aprovação dos especialistas, sendo que alguns, nunca chegaram a participar de reuniões com a pasta da saúde, explica a epidemiologista e professora da Universidade Federal do Espírito Santo, Ethel Maciel. “Alguns colegas que estão na lista nunca nem foram convidados para uma reunião, então isso é um pouco mais grave. Eu participei de várias reuniões com o Programa Nacional de Imunização, mas a nossa surpresa foi que não tínhamos visto o plano [antecipamente], em momento nenhum foi apresentado, nem para opinar ou elaborar”, relata em entrevista ao Jornal da Manhã, da Jovem Pan.

Segundo a epidemiologista, a maior ‘surpresa’ foi ver seu nome vinculado a um documento jurídico, entregue ao Supremo, sem aprovação ou, ao menos, conhecimento prévio sobre a proposta apresentada. “Eu, por exemplo, discordância dos princípios que estão ali. É muito complicado quando você vê o seu nome abaixo da palavra ‘elaboração’, dizendo que você produziu um documento que você critica e nem opinou se seu nome poderia estar ou não li. Foi o nosso maior incômodo e o sentimento de desrespeito” exlica. No sábado, logo após a divulgação pelo Ministério da Saúde, a cientista chegou a dizer, por meio de publicação no Twitter, que “25 anos de pesquisadora” nunca tinha visto situação parecida. “Nós, pesquisadores que estamos assessorando o governo no Plano Nacional de Vacinação da Covid-19, acabamos de saber pela imprensa que o governo enviou um plano, no qual constam nossos nomes e nós não vimos o documento. Algo que nos meus 25 anos de pesquisadora nunca tinha vivido!”

Ethel Maciel cita reuniões com a pasta para discussão e análise de pontos indispensáveis para o planejamento da imunização nacional. De acordo com ela, em 9 de dezembro, pesquisadores tiveram encontro para debate sobre o tema e charam, inclusive, a enviar um documento técnico ao Ministério da Saúde com recomendações. No entanto, as indicações não constam na proposta enviada ao Supremo. “Recomendamos que toas as populações vulneráveis sejam incluidas no plano, o que incluem pessoas privadas de liberdade, quilomboas, indígenas, população ribeirinhas e, em especial pela pandemia, falamos da necessidade de incluir pessoas com deficiências. Essas populações precisam ser protegidas, isso que discutimos com o Ministério. A nossa supresa é que, além delas não estarem no plano, a população privada de liberdade foi retirada [do planejamento prioritário], sendo que ela já estava na elaboração preliminar.”

Neste domingo, 13, em resposta ao comunicado dos pesquisadores, o Ministério da Saúde publicou uma nota esclarecendo que os cientistas foram chamados na condição de “convidados especiais” para debates de “cunho opinativo”, sem qualquer “poder de decisão”. No entanto, Ethel Maciel lembra que alguns especialistas sequer participaram de encontros com a pasta. “Nós estamos com uma reunião marcada para Abrasco. Alguns colegas que sequer participaram de reuniões e os nomes constam nesse processo. Vamos nos reunir para pensar em como agir, o que precisa ser feito. porque para nós o que é muito grave porque é um documento oficil jurídico, então nos causa estranheza”, diz. A reunião com a associação está marcada para esta segunda-feira, às 9h30.

Para finalizar, ao ser questionada sobre o desempenho do governo federal na pandemia, a professora da UFES lembrou que, até o momento, não há uma “resposta efetiva do governo sobre a negociação com o Instituto Butantan“, para possível compra de doses da CoronaVac, assim como é inexistente as diretrizes sobre obtenção de insumos para a imunização. “O Brasil tem urgência que as respostas sejam dadas. A sociedade tem pressa e, hoje, a arma mais potente que temos [contra a Covid-19] é a vacina. Não é possível estabelecer uma data [para vacinação] porque não temos aprovação da Anvisa, mas é possível dizer que em 48h ou em um semana após aprovação iremos começar a imunização. É isso que precisamos saber. Nós estamos prontos? Temos os insumos necessários? É preciso esclarecer para a sociedade em quanto tempo teremos as seringas, como serão distribuídas. Temos lacunas importantes.”

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