‘Inicialmente, objetivo da vacina não será eliminar Covid-19’, diz diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações

Segundo Renato Kfouri, discussão sobre a imunização compulsória só faz sentido quando o programa visa a erradicação de uma doença, o que não será a finalidade em um primeiro momento

  • Por Jovem Pan
  • 19/12/2020 11h40
EFE/EPA/BIONTECH SE Vacina sendo aplicada Governo disse que vai iniciar a primeira etapa da imunização cinco dias após a aprovação de uma das vacinas pela Anvisa

O infectologista e diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBI), Renato Kfouri, afirmou, em entrevista ao Jornal da Manhã, da Jovem Pan, neste sábado, 19, que a discussão sobre a obrigatoriedade da vacina contra o coronavírus é “vazia” e “sem sentido”. Por 10 votos a 1, o Supremo Tribunal Federal (STF) definiu nesta quinta-feira, 17, que é obrigatória a vacinação contra a Covid-19, mas ninguém será vacinado a força. A União, os municípios, os 26 estados e o Distrito Federal estão liberados a criar leis para aplicar sanções a quem não quiser tomar a vacinar. “A vacinação compulsória só faz sentido quando você fala em programas de imunização que visam eliminação ou erradicação de uma doença. Por exemplo, queremos eliminar a poliomelite e o sarampo, então as estratégias de vacinação em massa se impõem para que a gente consiga atingir um objetivo em saúde publica. O objetivo da vacinação da Covid-19, pelo menos em um primeiro momento, não será eliminar, mas sim diminuir os casos graves”, explicou Kfouri.

O infectologista pontuou ainda que, antes de começar a discutir a vacinação obrigatória, é necessário ter vacina para todos, o que não vai acontecer no Brasil. Como a expectativa do Ministério da Saúde é vacinar cerca de 150 milhões de pessoas no ano que vem, quase 70 milhões de brasileiros ainda devem estar aguardando em 2022. “Discutir vacinação compulsório neste momento tira foco do que é mais importante”, disse o especialista. Kfouri comentou, ainda, sobre a recente decisão do governo de iniciar a primeira etapa da imunização cinco dias após a aprovação de uma das vacinas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “Claro que queremos celeridade nesse processo, mas algumas coisas é difícil você estipular prazos. A Anvisa recebe solicitação de registro, e ela tem o direito e o dever de checar se todas as informações são adequadas, se os estudos foram feitos, as práticas clínicas, se os dados suportam as indicações da bula, visitar a fábrica do produtor, solicitar mais dados… é difícil você estipular um prazo sobre um processo que pode ser dinâmico, e ter o risco de ter produtos sem licença adequada”, destacou.

Ele concordou, no entanto, com a determinação da Câmara dos Deputados e do STF de que a Anvisa deve autorizar vacinas aprovadas por outras autoridades sanitárias internacionais, como as dos Estados Unidos (FDA) e da União Europeia (EMA). “Se uma agência americana ou europeia já fez isso, não há necessidade do retrabalho. Mas fico preocupado com prazos de atividades que são mais técnicas. Espero que o bom senso prevaleça, e que tenhamos produtos licenciados com segurança”, disse o especialista, ressaltando que não tem uma preferência de vacina.

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