Lapso de memória, fadiga e insônia: Sequelas mudam a vida de recuperados da Covid-19

Estudo da Unicamp aponta que 90% dos pacientes que apresentam as alterações tiveram casos leves da doença

  • Por Jovem Pan
  • 03/12/2020 11h26 - Atualizado em 21/04/2022 01h58
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EFE/EPA/MURTAJA LATEEF O estudo da Unicamp fará um acompanhamento por cinco anos dos pacientes para entender se esses danos causados pela doença são momentâneos ou permanentes

Fadiga, perda de olfato e paladar, dores de cabeça, problemas para dormir. Os sintomas da Covid-19 já são conhecidos pela maioria das pessoas, mas o que muita gente não sabe é que eles podem piorar ou aparecer apenas tempos depois do fim da doença. Foi o que aconteceu com a infectologista Simone Sena, que contraiu o vírus no fim de maio, quando estava trabalhando em um hospital de campanha. Depois de ter cumprido a quarentena em casa, com poucos sintomas, é que os problemas começaram a aparecer. No primeiro dia sem isolamento, Simone teve um lapso de memória e esqueceu praticamente tudo que havia feito; ela também passou a sofrer de insônia.  As dores no corpo foram aumentando até chegar às pernas; a visão também começou ao ficar alterada: em poucos dias, a médica já não andava e nem enxergava direito. “Eu fiquei internada por quatro dias, fiquei internada para investigação para descartar trombose e para iniciar o tratamento dessas sequelas que eu adquiri”, conta.

Demorou 45 dias para que Simone conseguisse retomar alguma atividade. Mesmo assim, ela ainda tem algumas limitações. “Eu tive que me adaptar a essa nova realidade. Eu consegui voltar a trabalhar depois de 45 dias, que eu consegui realmente andar, porque era uma dificuldade de levantar a mão, amarrar a máscara. Se é um corredor muito extenso, que tenho que ir e voltar várias vezes eu ainda não consigo. Ainda tenho dor, fraqueza, ainda faço fisioterapia duas vezes na semana. A visão depois de 90 dias eu recuperei completamente. Na questão de refração, para longe eu ganhei 2,5 graus e para perto eu ganhei 3 graus.”

Cerca de seis meses depois do diagnóstico positivo para a Covid-19, Simone toma medicamentos para dormir e para as dores que sente; ela também ainda está com 50% do paladar comprometido. Para entender as sequelas da doença nos pacientes, a Universidade Estadual de Campinas, em São Paulo, está fazendo um estudo com quase duas mil pessoas que contraíram o vírus. Segundo a professora de neurologia da Unicamp e coordenadora do estudo, Clarissa Lin Yasuda, 90% dos pacientes que apresentam sequelas tiveram casos leves da doença. Além disso, essas pessoas com sequelas, em sua maioria, não fazem parte do grupo de risco: tem entre 37 e 40 anos, em média. “As pessoas queixam, principalmente, de fadiga, dor de cabeça, alteração de memória e isso se confunde alterações cognitivas, de funcionamento mental mesmo. Alguns persistem com um pouco de alteração de cheiro ou paladar, eles tem muita alteração de sono, com muita sonolência diurna, muita ansiedade, muito sintoma depressivo. Alguns pacientes específicos que tem outros sintomas neurológicos mais raros, mas tem gente que tem tremor, teve alteração de força, tem gente em um quadro em que a pressão parou de controlar, é um espectro muito grande de sintomas raros em pessoas previamente saudáveis”, explica. Clarissa Lin Yasuda alerta que, assim como no caso de Simone, muitas pessoas que contraíram a Covid-19 não estão conseguindo retomar suas atividades e voltar ao trabalho.  A neurologista explica que ainda não é possível prever por quanto tempo essas sequelas vão continuar nos pacientes. O estudo da Unicamp fará um acompanhamento por cinco anos dos pacientes para entender se esses danos causados pela doença são momentâneos ou permanentes.

*Com informações da repórter Beatriz Manfredini

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