Palco de crises e embates, ‘cercadinho’ do Alvorada marcou segundo ano do governo Bolsonaro

Até junho, apoiadores e jornalistas acompanhavam, lado a lado, as falas do presidente da República

  • Por Jovem Pan
  • 31/12/2020 08h46
Mateus Bonomi/Estadão Conteúdo Ao longo de 2020, houve um clara mudança no perfil das pessoas que vão ao Alvorada para se encontrar com Bolsonaro

Os rumos da política brasileira passaram muitas vezes, ao longo de 2020, pelo chamado “cercadinho” montado pelo presidente Jair Bolsonaro no Palácio da Alvorada. Muitas das declarações mais polêmicas do presidente, que tiveram impacto em áreas como política externa e economia, foram dadas a apoiadores nas conversas que aconteciam na saída e chegada à residência oficial. Desde o “cala boca” a jornalistas, até ataques ao presidente da OAB e a esposa do presidente francês, Emmanuel Macron, e o famoso “e daí?”, em relação ao número de mortos pela pandemia, aconteceram no local.

A questão é que o cercadinho começou a gerar mais prejuízos do que benefícios, chegando a ser chamado inclusive de “fábrica de crises”.  As críticas à imprensa, muitas vezes, transformaram o local em um palco de agressões — levando veículos de comunicação a abandonar a cobertura para proteger os profissionais. A situação, inclusive, virou um livro escrito pelo oficial da reserva da aeronáutica, Emílio Kerber. “Ele falava com a população, escutava e depois falava para a imprensa sobre a agenda positiva do governo. O ritual demorava uns 10 minutos e, muito do que ele falava, acabava sendo distorcido ou grande parte da imprensa pegava a frase e criava uma polêmica em cima disso. E a agenda positiva do governo era deixada de lado.”

Até junho, apoiadores e jornalistas acompanhavam, lado a lado, as falas de Bolsonaro. A estratégia só mudou após uma intervenção do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República e da chegada do ministro das Comunicações, Fábio Faria. A partir daí, o encontro do presidente com os apoiadores passou a acontecer em um “ambiente controlado” dentro do Palácio e sem a presença da imprensa — o que evita questionamentos tidos como indesejados.

A mudança abriu a possibilidade para que os apoiadores tivessem mais tempo com Bolsonaro, que chegou a ameaçar acabar com o cercadinho diante da quantidade de pedidos pessoais que passou a receber. Sem acesso às falas do presidente com os apoiadores, jornalistas que cobrem o Palácio do Planalto passaram, então, a acompanhar a chegada do vice-presidente da República, Hamilton Mourão, criando assim uma espécie de segundo cercadinho em Brasília.

Os comentários diários do general acabaram por incomodar Bolsonaro, que, em determinado momento, fez questão de deixar clara a insatisfação com o vice. Fato é que, ao longo de 2020, houve um clara mudança no perfil das pessoas que vão ao Alvorada para se encontrar com Bolsonaro. Antes eles eram, em grande maioria, apoiadores do governo e da ideologia defendida pelo presidente. Hoje são curiosos e visitantes que, por estarem em Brasília, aproveitam a oportunidade para tentar conhecer de perto o chefe do executivo federal.

*Com informações do repórter Antônio Maldonado

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