Possível compra de vacinas pela rede privada de saúde preocupa especialistas

A avaliação é que a oferta do imunizante contra a Covid-19 nas clínicas particulares vai agravar as desigualdades existentes no país

  • Por Jovem Pan
  • 06/01/2021 06h03 - Atualizado em 06/01/2021 09h44
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EFE/EPA/HOTLI SIMANJUNTAK/Archivo Clínicas privadas de vacinação estão negociando a compra de 5 milhões de doses do imunizante indiano contra a Covid-19

O anúncio de que clínicas privadas de vacinação estão negociando a compra de 5 milhões de doses do imunizante indiano contra a Covid-19 gerou críticas por parte do setor da saúde. Na segunda-feira, 04, uma comitiva formada por representantes de clínicas particulares de vacinação embarcou para a Índia, para negociar a compra da Covaxin. Em nota, a Associação Brasileira das Clínicas de Vacinas afirmou que a medida tem como objetivo ampliar a imunização no Brasil e contribuir com o governo na cobertura vacinal. Essa, porém, não é a avaliação dos especialistas, que afirmam que, embora não haja entrave legal, a medida esbarra em questões éticas.

Na avaliação de Walter Cintra, professor da Fundação Getúlio Vargas, a disponibilização de um imunizante na rede privada vai agravar as desigualdades existentes no Brasil. “Nós estamos em um momento da pandemia, onde a população que mais está sofrendo os impactos da pandemia, em outras palavras, que está mais ficando doente e mais morrendo, são exatamente a população mais pobre, a população mais vulnerável”, opina. Para o professor Gonzalo Vecina Neto, da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, as clínicas privadas podem cooperar com o governo federal. No entanto, isso deve acontecer de acordo com o que for determinado por ele. “O Estado pode pegar as vacinas e falar: ‘iniciativa privada, me ajude a vacinar”. E a iniciativa tem que perguntar: ‘Como?’. ‘Como eu mandar, eu, Estado’. Então, primeiro, você vai vacinar os grupos de risco que eu determinar. Você pode cobrar pela vacina? Não, eu estou dando para você vacinar.”

Produzida pelo laboratório Bharat Biotech, a Covaxin está na fase três de testes, quando a eficácia precisa ser comprovada. O uso emergencial da vacina foi aprovado pelo governo indiano no domingo, 03, sob críticas de que a decisão foi “apressada”. Segundo a nota publicada pela ABCVac, a expectativa é que o resultado dessa etapa seja divulgado em janeiro. Com isso, o laboratório deve entrar com o pedido de registro na Anvisa, Agência Nacional de Vigilância Sanitária, em fevereiro. O imunizante precisa ser aprovado pela agência reguladora para ser distribuído no Brasil. Por meio de nota, o Ministério da Saúde afirmou que as clínicas particulares devem seguir a ordem dos grupos prioritários, como consta no plano nacional de imunização.

https://www.youtube.com/watch?v=o6Wban5fAJY

*Com informações da repórter Nicole Fusco

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