Represália contra produtor faz surgir novas denúncias contra assédio em Hollywood

  • Por Jovem Pan
  • 06/11/2017 06h00 - Atualizado em 06/11/2017 11h01
EFE EFE Astros e produtores de Hollywood perdem cargos após repercussão de casos de violência sexual contra colegas

As acusações de assédio sexual e estupro contra o produtor Harvey Weinstein geraram uma avalanche de denúncias a vários poderosos da indústria cinematográfica em Hollywood.

Depois do primeiro escândalo, no dia 5 de outubro em uma matéria do The New York Times, várias atrizes e atores famosos se manifestaram publicamente para denunciar casos de abuso por profissionais da área. A imprensa internacional batizou o fenômeno de “Harvey Weinstein Effect” (Efeito Harvey Weinstein, em tradução livre).

O que espanta é a repercussão dos casos, já que a violência sexual em Hollywood não é novidade. A publicitária e feminista Luise Bello trabalhou em campanhas contra o abuso sexual. Ela acredita que hoje há um espaço mais aberto para discussões sobre o tema: “Definitivamente estamos vendo os resultados de um trabalho de conscientização sobre direitos das mulheres que foi potencializado pela internet nos últimos anos”.

“Se hoje essas mulheres têm coragem de vir a público é porque confiam na rede de proteção que o feminismo oferece atualmente”, declara.

O poderoso produtor Harvey Weinstein foi demitido da própria empresa, expulso da Academia do Oscar e excluído do Sindicato dos Produtores. Ele é acusado de assédio e estupro por mais de oitenta atrizes, com casos até dos anos 1970.

A lista de famosas que denunciaram o magnata é longa, e inclui nomes como Angelina Jolie, Lupita Nyong’o, Lena Headey, Ashley Judd e Gwyneth Paltrow.

A atriz italiana e diretora Asia Argento conta que, após ser convidada para uma festa da produtora de Harvey que não existia, foi deixada sozinha com ele em um quarto de hotel, onde foi estuprada. A modelo brasileira Juliana De Paula revelou que foi vítima dos assédios do produtor de Hollywood e teve que usar um caco de vidro para se defender.

As abordagens foram muito parecidas: na maioria das vezes eram atrizes ou funcionárias que participavam de alguma produção da empresa e eram surpreendidas por Harvey de roupão, que pedia para receber massagens e carícias íntimas em seu quarto.

As polícias de Nova York e Londres investigam várias denúncias contra o produtor, que pode ser preso.

O “Harvey Weinstein effect” também atingiu o diretor e roteirista James Toback que tem mais de trezentas acusações de agressão sexual. O vencedor do Oscar, Kevin Spacey, foi acusado de assediar o colega Anthony Rapp, quando o rapaz tinha apenas catorze anos.

Rapp contou que em uma festa na casa de Kevin, o ator teria o levado para a sua cama e tentado fazer sexo com ele. Spacey soltou uma nota no Twitter dizendo que não se lembrava do ocorrido, pediu desculpas e aproveitou para se assumir gay, uma revelação que taxada de oportunista por críticos e também prejudicial para a comunidade LGBT.

Além do relato do astro de Star Trek, Kevin Spacey também foi acusado de assédio sexual pelo documentarista Tony Montana.

Spacey interpreta Frank Underwood na premiada série “House Of Cards”, da Netflix, mas se depender do serviço de streaming vai perder o papel. Além de se recusar a filmar a sequência do seriado com Kevin no elenco, a Netflix anunciou que cancelou “Gore”, um filme estrelado pelo ator que já estava na fase de pós-produção.

“A perda de privilégios, de cargos e patrocínios que esses homens estão sofrendo é importante, porém mais importante ainda é que respondam judicialmente pelos crimes que cometeram”, destaca Luise Bello. A publicitária complementa: “Pedidos de desculpa via Twitter e assessoria de imprensa não os exime de responder perante a lei”.

No Brasil, em março deste ano, o ator Zé Mayer foi acusado de abuso pela figurinista Su Tonani, da Rede Globo. Ela retirou a queixa após a repercussão do caso. Na época, mulheres de várias produções da emissora fizeram a campanha “mexeu com uma, mexeu com todas”, contra o assédio. Atualmente, algumas atrizes boicotam o retorno do ator à TV, que estava previsto para 2018.

*Informações da repórter Marcella Lourenzetto

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