Resposta do Irã deve ser ‘proporcional’ e mirar americanos ou aliados, diz professora da USP

  • Por Jovem Pan
  • 04/01/2020 09h16 - Atualizado em 04/01/2020 09h16
EFE/EPA/STRINGER Mariestela Basso afirmou que é muito difícil que aconteça, no entanto, uma Terceira Guerra Mundial

A professora de direito internacional da Universidade de São Paulo (USP), Mariestela Basso, afirmou, neste sábado (4), que o “silêncio” do Irã até o momento – que  ainda não respondeu, em forma de ataque, ao bombardeio efetuado pelos Estados Unidos, que culminou na morte do mais importante general iraniano, Qassem Soleiman – significa que o país ainda está pensando em uma resposta “proporcional” ao assassinato.

“Qual seria a resposta proporcional para o Irã, contra o ataque que aniquilou seu segundo homem mais importante historicamente, desde 1979?”, questionou a professora, em entrevista ao Jornal da Manhã. De acordo com ela, é provável que os líderes do país se reúnam com aliados, como a Rússia e a China – que repudiaram o ataque dos EUA – para discutir qual medida de retaliação será tomada.

“O Irã não saiu já tomando atitudes ou atacando, então ele está pensando, inclusive com seus amigos regionais – Rússia e China inclusas -, qual será a medida tomada. À luz do direito internacional, a reação tem que ser com uma força correspondente, como em legítima defesa. Se foi atacado com uma faca, precisa reagir com uma faca, não pode entrar com uma metralhadora, por exemplo. Então a resposta tende a ser proporcional”, explicou.

“O Irã ou vai atacar alvos americanos – pode ser embaixadas, pessoas, núcleos militares, propriedades americanas onde há militares. Pode fazer essa resposta pontual ou dar uma bem maior, que é atacando um país aliado dos Estados Unidos, como Israel. Israel seria mais loucura, mas podem pegar um aliado menor, como a Arábia Saudita”, disse, relembrando que o país já sofreu um ataque em setembro do ano passado, quando teve uma refinaria atacada por milicianos, provavelmente patrocinados pelo Irã.

“Terceira Guerra Mundial”

Questionada sobre a possibilidade de acontecer uma Terceira Guerra Mundial, Basso classificou como algo “muito difícil” e algo que não deve ser “a primeira preocupação”. Segundo ela, para tomar uma atitude desse tipo, o presidente norte-americano, Donald Trump, precisaria da autorização do Congresso americano, que tem a maioria de parlamentares democratas – e, por isso, contrários à sua posição.

“Ontem, a presidente da Câmara, Nancy Pelosi, já disse que o Trump extrapolou os poderes ao mandar matar o homem mais importante militarmente do Irã sem autorização do Congresso, então ele não conseguiria uma autorização para entrar em uma guerra”, afirmou.

A professora ressaltou, no entanto, uma das prováveis motivações do presidente norte-americano ao autorizar a morte de Soleiman. “Ele precisava tomar uma atitude para ter o clamor nacionalista dos americanos, uma vez que está na iminência de ter um impeachment julgado e às vésperas das próximas eleições. Ele precisava mostrar que é o cara, que está cuidando dos americanos e que matou uma pessoa mais importando do que Osama bin Laden, que foi morto durante o governo de Barack Obama.”

E o Brasil?

Sobre a resposta do Brasil ao conflito – o presidente Jair Bolsonaro afirmou que o Brasil é favorável a qualquer medida que vise combater o terrorismo no mundo -, Basso disse que o país deveria diminuir ainda mais a retórica. “É melhor desaparecer, minimizar ao máximo e não se meter na briga de gato grande”, avaliou, relembrando que os soldados brasileiros estão acostumados a missões humanitárias e que não faria sentido enviá-los em uma possível guerra.

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