Seis a cada dez imigrantes inscritos no Cadastro Único de SP estão desempregados, diz estudo

Maioria vem da Bolívia (34,8%), do Haiti (13%), da Angola (8,8%) e da Venezuela (7,7%) e está em idade de trabalho — entre 15 e 59 anos

  • Por Jovem Pan
  • 21/05/2021 10h28 - Atualizado em 21/05/2021 15h54
Priscilla Torres/Estadão Conteúdo Segundo a pesquisa, mais de 40 mil imigrantes estão inscritos no Cadastro Único da capital paulista

Em 2010, Vensan Ialá veio de Guiné Bissau, na África, para estudar no Brasil. Ele se formou em letras na Unesp de Assis, no interior de São Paulo, com habilitação em inglês e especialização em literaturas africanas de língua portuguesa. Além disso, também fez curso técnico de teatro e moda. Apesar do esforço nos estudos, ele nunca conseguiu ser contratado na área. “Na minha área é muito difícil, mesmo com diploma. Acho que tem várias condicionantes e isso acaba dificultando, o fato de eu ser estrangeiro, de eu ser imigrante africano também. Eu dei aula na Missão Paz para alunos imigrantes de países que não são falantes de português. Mas já enviei currículo em várias escolas, instituições. Em lugar público é muito burocrático, né?”

Para sobreviver, ainda mais depois da pandemia da Covid-19, quando os trabalhos como ator e modelo também diminuíram, Vensan abriu uma loja online de camisetas sobre o continente africano. Segundo um estudo da Prefeitura de São Paulo, 6 em cada 10 imigrantes inscritos no Cadastro Único da cidade estão desempregados. Entre os motivos para o índice alto, podem estar a diferença linguística, a regularização migratória, a revalidação de diplomas e até xenofobia. A maioria vem da Bolívia (34,8%), do Haiti (13%), da Angola (8,8%) e da Venezuela (7,7%) e está em idade de trabalho, ou seja, tem entre 15 e 59 anos. Os imigrantes também tem um grau de escolaridade maior em relação a população da cidade, mas mesmo assim tem dificuldade em arranjar emprego. O Coordenador de Políticas para Imigrantes da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania, Vinicius Duque, explica que, mesmo quando estão trabalhando, normalmente se encontram na informalidade.

“Outro ponto que chama a atenção é a condição desse emprego desses 40%. Quando a gente olha para esse universo, enquanto a população brasileira tem registro maior em CLT, 80% do grupo que está empregado entre os imigrantes é na informalidade. É uma condição mais afetada, mais precarizada. Por isso é importante tentar incluir políticas que atendam as necessidades específicas dessas pessoas.” Segundo a pesquisa, mais de 40 mil imigrantes estão inscritos no Cadastro Único da capital paulista, 12% do total da população do grupo residente na cidade. Entre eles, 52% estão na faixa de extrema pobreza — com renda familiar de até R$ 89 — ou de pobreza, com renda entre R$ 89 e R$ 178. Para tentar driblar o problema, a Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania tem oferecido cursos para imigrantes, além de material informativo tanto para eles quanto para empregadores.

*Com informações da repórter Beatriz Manfredini

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