O Fim da Picada: Brasil tem tecnologia, mas falta dinheiro para diagnósticos

  • Por Jovem Pan
  • 24/12/2015 08h37
Betina Carcuchinski / PMPA Aedes aegypti

Apesar da guerra contra o mosquito da dengue parecer inglória no Brasil, há países do mundo que conseguiram erradicar o Aedes aegypti, que também transmite zika e chikungunya. Mas para isso, os governos precisaram adotar medidas duras e impopulares para cortar o mal pela raíz.

O que o Brasil poderia aprender com Cuba e Cingapura é o tema do quarto capítulo da série de reportagens O Fim da Picada, que a Jovem Pan leva ao ar nesta semana. Por Carolina Ercolin.

Em três ocasiões, o Aedes aegypti chegou a ser erradicado no mundo: primeiro, em meados do século passado em uma campanha continental nas Américas. Na década de 80, Cuba conseguiu conter o mosquito por meio de um esforço militar vertical e com extenso uso de pesticidas. E terceiro caso de sucesso foi o de Cingapura.

No centro da estratégia asiática, estão três pilares: pesado investimento em controle; coleta e análise de informação estratégica; e punição ao desleixo. Lá, por exemplo, os funcionários do governo têm autoridade para entrar sem autorização judicial em residencias e emitir multas pesadas ao cidadão que tiver água parada em casa. Em última instancia, a negligência pode levar à cadeia.

O presidente da Sociedade Brasileira de Dengue e Arboviroses, Artur Timerman, ressalta, porém, que os países citados são ilhas têm uma “urbanização muito menos caótica que a das grandes cidades do Brasil”.

Antonio Moron, professor da unifesp, também vê constrastes urbanos e geográficos que limitam as ações no Brasil. Ele apela à “consciência sanitária do cidadão”. “Antes da multa, a gente tem que convencer as pessoas a se protegerem”, convoca.

Dúvidas

Junto com o surto, o zika vírus trouxe uma legião de perguntas sem respostas, como a real extensão da situação do vírus em São Paulo, a possibilidade de recorrência do zika e a chance de transmissão do vírus no primeiro semestre da gravidez.

Todas essas questões são de médicos, pesquisadores. E se há dúvidas entre eles, imagine o que passa pela cabeça da população? E principalmente, das grávidas… aterrorizadas com a associação do zika à microcefalia e outros problemas neurológicos. Até agora, a única certeza que a dona de casa Almerinda Goes tem é que toda água parada no vaso de flor pode virar um ninho do mosquito.

As respostas, insuficientes, tem chegado a conta gotas porque dependem de estudos. E apesar da urgência que o Brasil tem em dominar tecnologia para um teste rápido e em larga escala para diagnosticar e conhecer a fundo os estragos causados pelo vírus, as coisas seguem em marcha lenta.

Sem a comprovação científica, quase 3 mil casos estão na lista de “suspeitos”. E o que falta para chegarmos lá? O presidente da Sociedade Brasileira de Dengue e Arboviroses, Artur Timerman, avalia que é necessário um teste sorológico, que poderia ser feito, já que “a plataforma já existe”. “O que falta é dinheiro”.

Esforço

Ainda que com diculdades financeiras, mas preocupados com o provável avanço do zika vírus em São Paulo, cientistas paulistas organizaram uma força-tarefa sem precedentes.

O esforço, que reúne um batalhão de cerca de 300 pesquisadores, contará com a participação de virologistas do Senegal para aplicar, nos estudos sobre a nova doença, uma técnica inovadora usada na África contra o Ebola.

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