Bandidos usaram arma de R$ 200 mil em ataque a banco em Botucatu, diz coronel da PM
Em entrevista ao Pânico, o coronel José Vicente da Silva Filho falou sobre o ataque desta quarta-feira (29)
O ataque a uma agência bancária na cidade de Botucatu, no interior de São Paulo, na noite desta quarta-feira (29), contou com organização sofisticada que envolveu cerca de 40 bandidos e armamento pesado. Em entrevista ao Pânico, da Jovem Pan, nesta quinta-feira (30), o ex-Secretário Nacional de Segurança Pública José Vicente da Silva Filho disse que os criminosos portavam armas utilizadas em ataques aéreos e contra tanques de guerra. Segundo ele, que também é coronel da reserva da Polícia Militar de São Paulo, agentes encontraram munição de metralhadora .50. “Ela tem alcance de até 7 quilômetros, faz um estrago monumental. Uma arma dessas custa R$ 200 mil no Paraguai. Poucas quadrilhas têm isso”, disse.
O coronel explicou que o ataque foi minuciosamente organizado pela quadrilha, mas só foi possível por uma falha na inteligência da PM paulista, que não previu a ação. Por outro lado, ele também culpou a Polícia Federal pela falta de controle nas fronteiras para impedir que armamento pesado como o utilizado pelos bandidos em Botucatu chegue ao Brasil. “A Polícia Federal está devendo mais protagonismo nas fronteiras”, lamentou. “Se chega muamba, claro que chega arma pesada.”
José Vicente também condenou as ações do governo federal contra o crime organizado. O ex-secretário avalia que o governo não cumpriu o que o presidente Jair Bolsonaro prometeu na campanha. “O governo está devendo muito de todo aquilo que prometeu”, disse, lembrando que a principal preocupação do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro era com crimes de corrupção, chamados crimes do colarinho branco, mas que a população está preocupada com a criminalidade nas ruas. “Não houve inovação, os recursos acabaram congelados”, reclamou. “A ação do governo até agora é pífia”, disse o coronel.
Ataque em Botucatu
O ataque começou por volta das 23h30 e se estendeu por três horas. Durante a intervenção da polícia ontem à noite houve muitos tiros. Dois policiais ficaram feridos e foram levados ao Hospital da Unesp, onde continuam internados. A ação durou pelo menos três horas. Os bandidos chegaram à cidade em vários veículos e atacaram, em ação orquestrada, diversas agências bancárias na região central. Eles usaram explosivos para invadir os imóveis, mas a polícia ainda não sabe se algum dinheiro foi levado. Um vídeo registrado por moradores mostra o momento de uma destas explosões. Policiais militares da área trocaram tiros com a quadrilha. Agentes do GOE, o Grupo de Operações Especiais da Polícia Civil, e PMs da ROTA foram acionados e seguiram para a cidade.
Segundo informações da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, até o momento, foram apreendidos fuzis, veículos, dinheiro e munições, que estão sendo contabilizados e periciados. Um criminoso trocou tiros com policiais militares na manhã de hoje (30) e foi detido. Com ele, os policiais militares apreenderam um fuzil e um colete. Os bandidos agiram coordenadamente para atacar três agências na região central da cidade. Em outras duas agências foram encontrados explosivos não detonados. O Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) foi acionado e auxilia nas buscas, assim como o Helicóptero Águia. A ocorrência está em andamento pela Delegacia de Investigações Gerais (DIG) do município.
Segundo a prefeitura de Botucatu, o ataque seria uma retaliação à incineração de cerca de 600 quilos de drogas apreendidas na região. Mas, para o coronel José Vicente, a ação está relacionada com as operações policiais contra o tráfico de drogas como um todo. Ele destacou que, por causa da pandemia e da queda de circulação das pessoas nas ruas, a polícia teve mais liberdade para a repressão à venda de drogas, o que acabou diminuindo os ganhos do crime organizado. “Quando as bocas ficaram na mira da polícia, houve uma queda muito grande nas finanças do crime”, explicou. Para repor as perdas, os bandidos precisam de ataques a bancos como o desta quarta. “Já era previsível que isso acontecesse”, afirmou.
Apesar do choque, José Vicente disse que ataques como o de Botucatu são cada vez mais raros. “É um caso que assusta, mas são cada vez mais raros. [Os ataques] São complicados de serem organizados”, explicou. Além disso, os bancos estão se preparando melhor para esse tipo de situação. Uma das medidas mais efetivas é um sistema que mancha as cédulas de caixas eletrônicos explodidos, o que dificulta que as notas voltem ao mercado e facilita a identificação delas. “Os ataques estão mais raros, mas ainda são muito perigosos para policiais e moradores”, alertou.
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