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Comercialização de armas dispara e pátria armada espera vender muito mais em 2021

Brasil, São Paulo, SP. 27/05/2008. Estande da empresa fabricante de armas Taurus montado na International Security Fair (Exposec), feira internacional de segurança realizada no Centro de Exposições Imigrantes, na zona sul de São Paulo.

Já comprou seu revólver hoje? É preciso. A sociedade precisa se armar para se defender. As lojas de armas estão abertas à sua espera. E a venda tem aumentado muito. Facilita-se no preço. Trata-se de um setor que não pode reclamar de nada. Dados da Polícia Federal revelam que o Brasil terminou 2020 com 179.771 novas armas registradas, 90% a mais que a soma do ano anterior. É o maior patamar desde 2009, quando a PF iniciou essa contagem. Em 2019, os registros chegaram a 94.064 novas armas, 84% maior do que os registros efetuados em 2018. Quer dizer: o aumento é constante, a cada ano. As armas de fogo estão na ordem do dia. Como se dizia antigamente, “um negócio da China”! Mas o presidente Jair Bolsonaro não se mostra contente com esses números, dizendo que ainda é pouco, porque o cidadão tem que se armar. Ao mesmo tempo, a importação de armas pelo Brasil também aumentou de maneira significativa, com os incentivos e flexibilização do governo.

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De acordo com dados do Sistema de Comércio Exterior, vinculado ao Ministério da Economia, a importação de revólveres, pistolas, carabinas e espingardas por pessoas físicas, jurídicas e órgãos públicos chegou a 181 mil unidades em 2020. Somando as 59 mil armas que entraram no país em 2019, o número de importação no atual governo chega a 240 mil, superando o total importado nos últimos 22 anos. Em dezembro, Bolsonaro zerou a alíquota para a importação de revólveres e pistolas, que é de 20%. Mas o ministro do STF Edson Fachin suspendeu a medida que passaria a valer a partir de janeiro de 2021. Justificando sua decisão, Fachin citou o “risco do aumento dramático da circulação de armas de fogo e a gravidade dos efeitos potencialmente produzidos”. O presidente não se mostra satisfeito com o aumento de 90% das vendas de armas de fogo em apenas um ano. Quer mais. O entusiasmo do presidente de armar a população não arrefeceu em nada. Pelo contrário. Quanto mais armas de fogo, melhor. O presidente informou que, nos próximos dias, deverá editar mais dois ou três novos decretos para favorecer os colecionadores, atiradores e caçadores. Adiantou que vai pautar um projeto enviado à Câmara dos Deputados em 2019, que facilitará o porte de armas no país.

O Sistema Nacional de Armas inclui aquelas registradas em nome de civis, entre eles cidadãos comuns, policiais federais e policiais civis. Em 2020, o governo federal editou cerca de 30 atos normativos para facilitar, cada vez mais, o acesso às armas de fogo pela população. Fora isso, o governo aumentou de 2 para 4 as armas que cada cidadão pode ter e ainda autorizou a compra de muito mais munição. De abril até dezembro de 2020, o governo revogou três portarias sobre fiscalização e rastreamento sobre essas armas nas mãos da população. Nesta segunda-feira, 11, o Exército informou que essas portarias ainda estão sendo examinadas. A coordenadora de projetos da ONG Sou da Paz, Natália Pollachi, discorda da ideia de que mais armas nas mãos da população seria uma forma de combater a violência e tornar a sociedade mais segura. Isso não existe. É exatamente o contrário, porque grande parte dessas armas compradas legalmente acaba nas mãos dos bandidos. Estudos brasileiros e internacionais – conforme diz Natália – revelam que tantas armas acabam por aumentar o número de homicídios, especialmente porque as pessoas estão sujeitas a momentos de um descontrole qualquer e acaba cometendo um assassinato.

A população armada foi uma promessa de Bolsonaro em sua campanha eleitoral. Para ele, o cidadão tem o direito de possuir uma arma para se defender. Pontos a favor do armamento da população são muitos, destacando que o Brasil já realizou referendo em que a maioria manifestou desejo de ter um revólver, uma pistola ou até mesmo um fuzil. Chegou-se a dizer que, atualmente, somente as “pessoas de bem” andam desarmadas. Há os que garantem que os criminosos terão receio de cometer um assalto ou invadir uma casa, por exemplo, e que arma em casa é um fator em favor da democracia, como nos Estados Unidos, onde todo cidadão tem o direito de possuir uma em casa para se defender. No Congresso Nacional, a chamada bancada da bala aplaudiu o crescimento da venda de armas à população, mas os estudiosos do assunto alertam para o crescimento da violência no país a médio prazo.

A consultora da Comissão Nacional dos Direitos Humanos do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, Soraia Mendes, observa que esses números promovem uma cultura de guerra e violência no país e que o crescimento do armamento da população significa algo brutal. Já a deputada federal Kátia Sastre afirma que o cidadão de bem tem o direito de se armar. Kátia é a policial militar que matou em São Paulo um bandido que ia assaltar várias mães que esperavam seus filhos na porta da escola. Aproveitou os 15 minutos de fama e elegeu-se deputada. Ela afirma que a população é refém da criminalidade e que carregar uma arma é sinal de amor, de cuidado com que mais amamos. Bem, nem tanto ao céu, nem tanto à terra. As armas estão por aí nas lojas especializadas para quem quiser e tiver condições psicológicas de ter uma em casa. Pátria armada!  

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