Rodrigo Constantino: Eterno clima de guerra é prejudicial a quem tem como missão construir

  • Por Jovem Pan
  • 06/02/2019 07h21
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Alan Santos/PR O tempo dirá qual vertente do governo Bolsonaro será a dominante: se a ala “jacobina”, que mergulhou numa “cruzada” contra todos os inimigos reais e imaginários, ou se a ala liberal

Há um fenômeno em curso, que explica parcialmente a vitória de Bolsonaro, que é a reação à ameaça vermelha representada pelo PT. Ou seja, um fator ideológico de anticomunismo, legítimo, mas que pode se tornar contraproducente se a parte for confundida com o todo.

Explico: Bolsonaro não venceu pelo fator ideológico, ou ao menos não só por ele, como os “jacobinos de direita” querem acreditar. Houve um esgotamento com a “velha política”, o desespero com a situação econômica, o cansaço com a criminalidade. E enquanto “mitar” nas redes sociais com discursos mais ideológicos pode gerar certo regozijo nessa turma, a verdade é que será preciso governar para mitigar tais problemas. E isso exige maturidade.

O tom de antagonismo, que define a postura mais pelo que ela ataca com virulência do que pelo que ela luta para construir, pode ter sua utilidade, mas não deveria ser o predominante. A verdade é que existe uma ala grande do novo governo que se fez com base apenas no combate ao inimigo, mas que deixa muito a desejar na hora de apresentar propostas concretas do que colocar em seu lugar, e como fazê-lo.

A atividade política em si está em xeque, e a negociação, o diálogo e a composição, marcas da vida política, andam ameaçadas num clima de desconfiança geral. Esse ambiente tóxico e jacobino pode ajudar a expurgar parte da “velha política”, mas cabe a pergunta: ele ajuda a construir uma nação melhor?

Destruir o que está podre não é o mesmo que colocar algo sólido e melhor em seu lugar. Os jacobinos derrubaram o Antigo Regime, mas o que colocaram em seu lugar? Um adolescente revoltado pode fazer um baita estrago num cômodo velho com seu taco, mas isso não significa que restará uma estrutura melhor.

A política – ainda necessária – não deve ser confundida com as redes sociais. O xingamento de um filósofo, a treta entre dois ícones ideológicos, até mesmo algumas derrotas importantes da “velha política” não representam, necessariamente, a vitória de um novo Brasil, mais livre e próspero. Para tanto será preciso aprovar as reformas. E para isso será fundamental ter maturidade política, capacidade de articulação e sabedoria para se engolir alguns sapos, definindo prioridades.

O eterno clima de guerra é prejudicial a quem tem como missão construir em vez de destruir. O tempo dirá qual vertente do governo Bolsonaro será a dominante: se a ala “jacobina”, que mergulhou numa “cruzada” contra todos os inimigos reais e imaginários, ou se a ala liberal, que luta para deixar um legado positivo.

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