Rodrigo Constantino: Fala de Paulinho da Força é típico ‘sincericídio’

  • Por Rodrigo Constantino
  • 03/05/2019 10h34 - Atualizado em 03/05/2019 12h04
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Luiz Guarnieri/Brazil Photo Press/Folhapress Luiz Guarnieri/Brazil Photo Press/Folhapress O cálculo político sempre fez parte do pragmatismo de deputados. Estão ali, afinal, para se manter no poder, na maioria dos casos

Os partidos do chamado “centrão” discutem a aprovação de uma reforma da Previdência que não garanta a reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PSL), afirmou Paulinho da Força, deputado federal pelo Solidariedade e ligado à Força Sindical.

“[Uma economia de] R$ 800 bilhões, como ele [Bolsonaro] falou, garante de cara [a reeleição do presidente]. Nos últimos três anos de mandato ele teria R$ 240 bilhões para gastar, ou seja, garantiu a reeleição”, afirmou.

A fala de Paulinho é um típico “sincericídio”. Ele diz a verdade, o que muitos ali pensam, mas não têm coragem de dizer, ou não podem dizer por motivos óbvios. O cálculo político sempre fez parte do pragmatismo de deputados. Estão ali, afinal, para se manter no poder, na maioria dos casos. Poucos são os que demonstram efetivamente senso de dever público e patriotismo.

Logo, é compreensível que deputados não queiram dar de bandeira para adversários reformas que sabem serem positivas para a economia. É compreensível, mas não é aceitável. É uma traição ao país. É um ato covarde, mesquinho, míope. É um pragmatismo antipatriótico, que trai o discurso mentiroso de muitos, de que a reforma é “impopular” e afeta os mais pobres.

Todos deveriam estar unidos em prol do Brasil, que corre o risco de naufragar sem uma reforma profunda. Desidratar a reforma de Paulo Guedes só para atingir Bolsonaro é um ato de traição. O único argumento “legítimo” para isso seria uma preocupação sincera com uma eventual escalada autoritária do governo.
Explico: se a ala mais radical dentro do governo, comandada pelos filhos do presidente, tratam aliados próximos como Bebianno e Mourão da forma que todos viram, então como vão tratar ícones da “velha política” depois da aprovação da reforma? Hoje Bolsonaro até faz afago a Rodrigo Maia e ao Congresso, mas muitos sentem que se trata de necessário jogo de cena.

O bolsonarismo depende do conflito constante e do ataque ao establishment, pois seu discurso é o da antipolítica, mesmo vindo de um deputado que teve sete mandatos. É o que mobiliza sua base militante. Os deputados temem, portanto, que uma vez aprovada a reforma sejam massacrados pelos aliados do presidente, e talvez por ele mesmo.

Há alguma razão nesse receio. Mas ele não pode justificar uma traição à Pátria. Que se aprove a reforma, pois o Brasil precisa dela. E, depois, que se enfrente o risco autoritário, se ele realmente surgir.

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