Banda de Ipanema comemora 50 anos com mais um desfile de pré-carnaval
Ao som do Parabéns pra você e dos eternos sambas e marchinhas, tocados pelos seus quase 70 músicos, a Banda de Ipanema, que comemora este ano 50 carnavais, organizou neste domingo (23) um desfile pela orla do bairro, encerrado com banho de mar à fantasia. Seguindo uma tradição que se manteve no carnaval carioca até a década de 80, os foliões vestiram fantasias de papel crepom ou roupas de praia para o banho de mar após o desfile, entre os postos 8 e 9 da Praia de Ipanema.
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Foi a segunda apresentação da banda – a primeira ocorreu no sábado passado – na comemoração do cinquentenário. Fundada por Albino Pinheiro e outros boêmios do bairro, como Ferdy Carneiro e os cartunistas Jaguar e Ziraldo, em 1964, no mesmo ano em que os militares tomaram o poder no Brasil, a Banda de Ipanema é há décadas uma das tradições do carnaval carioca. Seus desfiles, duas semanas antes e no sábado e na terça-feira de carnaval, arrastam multidões pelas ruas do bairro.
“Somos o primeiro bem imaterial tombado do Rio”, lembra, com orgulho, Cláudio Pinheiro, irmão de Albino e hoje o “general” da banda. Segundo ele, o bloco não nasceu com o propósito de resistência ao regime militar, mas acabou se tornando um espaço democrático, de crítica política e deboche, mas sobretudo de ironia bem carioca.
Símbolo máximo dessa irreverência é o lema “Yolhesman Crisbelles”, presente na faixa que sempre está à frente dos desfiles da banda. A expressão, de origem controversa, foi tirada por Albino da pregação de um evangélico que vendia bíblias na Central do Brasil. Ninguém sabia o que a enigmática frase significava, mas assim mesmo, durante o regime militar, os agentes da repressão pensavam tratar-se de uma crítica à ditadura.
Além de incorporar o espírito boêmio e a atmosfera artística de Ipanema, a banda manteve aceso, durante muito tempo, o carnaval de rua na zona sul da cidade. Anos antes do surgimento de outras congêneres e da explosão do número de blocos a partir do final da década de 80, era na Banda de Ipanema que todos os grupos sociais podiam brincar juntos o carnaval: jovens, velhos, famílias, travestis, gays, pessoas de todas as classes sociais.
De acordo com Cláudio Pinheiro, uma tradição de que a banda não abre mão é do repertório. “Sempre valorizamos a boa música brasileira e não só a composta para o carnaval”, disse. No desfile deste domingo, por exemplo, a banda alternava marchinhas com músicas como Descobridor de Sete Mares, de Tim Maia, o chorinho Tico-Tico no Fubá e o frevo Vassourinhas.
Também fazem parte do repertório desse carnaval sucessos de Dorival Caymmi, Aracy de Almeida e Lupiscínio Rodrigues. “São três nomes cujo centenário é comemorado em 2014. Nós sempre lembramos dos centenários dos grandes nomes da música brasileira em nossos carnavais”, destacou Pinheiro.
A importância da Banda de Ipanema é reconhecida pelos turistas que visitam o Rio. De férias na cidade, o cirurgião-dentista João Carlos Felício, da cidade de São José do Rio Preto (SP), assistia pela primeira vez a um desfile do bloco. “Eu conheço toda a história da banda e agora estou podendo vê-la de perto”, disse.
A Banda de Ipanema volta a sair no sábado (1º de março) e na terça-feira de carnaval (4), com concentração a partir das 16h na Rua Gomes Carneiro. Na segunda-feira (3) haverá a Bandinha infantil, às 15h, na Praça General Osório.
Edição: José Romildo
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