García Márquez deixa em Cuba escola dedicada ao cinema, uma de suas paixões
Raquel Martori
Havana, 17 abr (EFE).- O escritor colombiano Gabriel García Márquez, fiel a uma de suas mais célebres frases: “após escrever, o cinema é meu”, deixa em Cuba um de seus mais importantes projetos realizados, a Escola Internacional de Cinema e Televisão (EICTV).
Em 1985, García Márquez deu vida em Havana à Fundação do Novo Cinema Latino-Americano (FNCL) com a missão fundamental de “unificar” o novo cinema da região e seu “fomento”, segundo explicou então em uma das poucas entrevistas que costumava conceder.
“É óbvio que uma Fundação não pode inventar um movimento cinematográfico como é o do novo cinema latino-americano. O que acontece é que nós nos demos conta de uma coisa que é evidente. E que existe. É uma explosão de um cinema novo e o que estamos tentando fazer é impulsioná-lo, de introduzir esse movimento no mercado”, disse à revista cubana “Bohemia”.
A FNCL foi a entidade patrocinadora do centro batizado como a “Escola de Três Mundos” em sua ata de inaguração em dezembro de 1986.
A escola, seu principal projeto acadêmico, está destinada a formar profissionais do cinema, da televisão e de outros meios audiovisuais.
“Gabo” disse em uma ocasião que seu trabalho pessoal como presidente da Fundação tinha sido “mais de organização, mais de passar o chapéu, de conseguir coisas difíceis de conseguir”.
Aos fundos facilitados pela Fundação se uniram os donativos de personalidades, instituições e governos como o de Cuba que construiu a sede da escola em San Antonio de los Baños, a cerca de 37 quilômetros de Havana.
Na colaboração de organismos e instituições internacionais como a Unesco, a Sociedade Geral de Autores da Espanha e a Agência Espanhola de Cooperação ao longo destes anos se somaram às contribuições de equipe técnica e professores.
A Escola foi planejada por “dez cabeças” que, segundo García Márquez, a conceberam “atípica”, “não burocrática, prática e não teórica” e seu primeiro curso abriu com uma matrícula de 260 alunos de 25 países e um quadro de 130 professores.
Seu primeiro diretor foi o cineasta argentino Fernando Birri, que a comparou com “uma fábrica e um laboratório”.
Mas García Márquez, uma vez revelou em um artigo jornalístico que antes de se entregar à escrever romances que o tomaram famoso, foi para Roma com a esperança de “aprender a magia secreta” do roteirista italiano Cesare Zavattini (1902-1989), a quem considerava junto a Vittorio de Sicca “as duas maiores estrelas do neo-realismo”.
Talvez essa experiência foi a que tenha o levado a reconhecer o roteiro de um filme como “a prova de fogo da letra escrita” e essa lembrança o levou a presidir na Escola de San Antonio de los Baños a oficina chamada de “Como contar um conto”.
Durante duas semanas, o autor de “Cem anos de solidão” e “O amor nos tempos do cólera” foi o professor de um seleto grupo de estudantes com os quais elaborava a estrutura dramática, discutia a ideia, trabalhava a sinopses, o argumento e os personagens de seus projetos de roteiros.
Até 2009, o romancista manteve esse espaço nas salas de aula do centro docente pelo qual passaram personalidades do cinema como os americanos Francis Ford Coppola, Robert Redford, George Lucas, o francês Constantin Costa Gavras, o húngaro István Szabo e o bósnio Emir Kusturica, entre outros.
Neste ano, a EICTV completa 25 anos com um registro de 744 graduados, 38 deste no verão (hemisfério norte) procedentes de 18 países da Ásia, África e América Latina, especializados em direção, documentário, roteiro, edição fotografia, som e produção.
É a graduação de número 20, fruto de um projeto que segundo seus promotores consolidou a formação de jovens cineastas procedentes do Brasil, Nicarágua, Chile, Venezuela, Panamá, República Dominicana, Argentina, Portugal, Espanha, Reino Unido, Itália e França, entre outros países.
Em uma dessas graduações em que participou, García Márquez manifestou “satisfação” porque “a imensa maioria dos que saíram da Escola estão trabalhando em cinema ou televisão, não são desertores, não renunciaram”. EFE
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