“A gente ensaiava na rua e dançava na cadeia”, diz rapper Thaíde sobre regime militar
Rapper Thaíde participa do Pânico
Rapper ThaídeApresentador do programa “A Liga”, da Rede Bandeirantes, o rapper Thaíde foi um dos primeiros a lançar o break, estilo de dança hip hop, no Brasil, nos anos de 1980. “Começamos na rua. Depois, com a falta de espaço, fomos para a estação São Bento. O rap era o funk falado. A gente fazia muito pela diversão, pelo amor, pra aprender o que estava fazendo”, disse o rapper, que já foi preso muitas vezes por dançar no centro da cidade. Thaíde ressaltou que ainda existe um sistema ditatorial mascarado. “Ainda existe um regime disfarçado. A gente costumava dizer que ensaiava na rua e dançava na cadeia”, ironizou sobre a rigidez do regime militar ao Pânico No Rádio nesta quarta-feira (27).
Thaíde já foi preso anteriormente por ter ingressado na vida do crime quando era jovem. Ele relembrou o primeiro caso em que fez uso de uma arma de fogo: “minha saudosa mãe tinha um 38 ‘de brinquedo’. Com dois amigos, a gente ficou naquilo ‘vamos ver se você tem coragem’. A gente foi pra uma esquina, tinha uma senhora negra passando e apontei o revólver pra ela. Assim que eu apontei a arma, a senhora ‘quebrou minhas pernas’, porque abriu a bolsa e mostrou que só tinha papel. E começou a chorar”.
Consciente do tema que está polemizando o meio político sobre a redução da maioridade, o rapper e apresentador acredita que não se pode diminuir a idade penal de 18 para 16 anos sem antes não oferecer condições de o jovem ter direito a melhores condições de educação e saúde. “Além de Fundação Casa, qual alternativa o governo ofereceu pra essa garotada?”, questionou Thaíde. “Sou contra qualquer tipo de violência, por isso não posso me posicionar a favor da redução da maioridade antes de saber que há serviços de educação e saúde para os jovens aqui fora. Não adianta as pessoas falarem que querem justiça se estão sendo injustas. Não tem um curso ou uma escola onde eles possam aprender”.
O apresentador também reconheceu que os sistemas carcerários não reintegram o jovem detento na sociedade de maneira eficaz, mas apenas o graduam mais ainda no crime. “O jovem é condenado. Quando ele sair de lá, vai estar profissional do crime. Os que estão aqui fora estão se preparando para entrar na cadeia e se profissionalizar no crime. Eu só estou dizendo que aqui fora não tem preocupação com que ele caia lá dentro”, disse Thaíde sobre o descaso do governo com o jovem brasileiro.
Apesar da situação política e social no país não dar indícios de progresso, o apresentador acredita que o cenário pode mudar para melhor e acredita. “Uma dica para quem não vê melhora no Brasil: mude de país. Quem tem essa ideia negativa, não vai contribuir para que seu país melhore”, pontuou.
O programa “A Liga”, que procura mostrar com drama e humor várias maneiras de se contar uma mesma notícia, já tem episódios gravados para serem exibidos, o que deve acontecer depois da segunda temporada de “Masterchef”, atualmente no ar. Neste sábado, Thaíde participa do lançamento do grupo Z’África, no SESC Belenzinho, em São Paulo.
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