Lado F: Mobilização artística e a construção de um mercado cultural sustentável

  • Por Jovem Pan
  • 22/06/2015 17h48
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Silvio Luiz/Jovem Pan

Recentemente aconteceu no MIS a Sacola Alternativa, uma feira de selos e produtores que representam o atual cenário indie brasileiro. Com apenas duas edições, o evento já é uma data importante para o circuito de música autoral de SP e boa oportunidade para músicos e produtores ampliarem seu networking e desenvolverem parcerias com profissionais de outras regiões do país que movimentam o mercado da música alternativa. Entre as atrações me chamou atenção uma palestra mediada por jornalistas responsáveis por grandes blogs de música, profissionais que acompanharam o nascimento da cena independente nacional e todas as mudanças ocorridas no mercado fonográfico desde o surgimento da internet e o crescente avanço da cibercultura. Pioneiros do jornalismo musical para web no Brasil, que iniciaram suas carreiras em veículos tradicionais da imprensa e migraram para os blogs iniciando a mídia independente. Para a surpresa de muitos presentes a conversa era de que nunca houve um cenário para a música autoral tão forte e diverso como o de hoje, e que em nenhum tempo foi tão bom para se ter uma banda e tocar pelo país. Contudo a conclusão dos palestrantes não foi otimista; embora o momento seja de efervescência para o circuito nacional de música autoral, ainda não há perspectivas de sustentabilidade para o mercado da música independente e o artista precisa se conformar e encontrar alternativas para suprir sua renda.

É verdade que a cena indie ganhou força nos últimos anos e cada vez mais temos exemplos de festivais e eventos que movimentam público para novos artistas. Programações em SESCs e curadorias de diversos centros culturais aos poucos vêm sendo pautadas por músicos e produtores que constituem e apoiam as novas gerações do independente brasileiro. Naturalmente ainda existe um caminho a ser traçado por todo músico antes de desfrutar deste concorrido e estimado circuito, no qual se paga bem e as condições para o show são ideais; palco, iluminação e backline em um nível profissional. Na maior parte dos casos esta conquista é resultado de muito tempo e suor investidos no estúdio, no palco e em atividades que demandam outras competências além das musicais. O fato é que existe uma lacuna histórica em nosso país e faltam produtores culturais e profissionais habilitados a buscar fontes de financiamento para produção artística no Brasil. Apesar do reconhecimento internacional e do indubitável nível técnico que a arte brasileira possui, existe um deficit na parte de gestão e administração deste setor que hoje está condicionado e refém da política dos editais.

Atualmente são poucas as bandas que desde o início de suas carreiras conseguem articular em torno do seu trabalho uma equipe estruturada a fim de comercializá-lo. Temos os serviços de agenciamento e assessoria de imprensa oferecidos por produtoras especializadas no segmento independente, mas são poucas que fazem isso bem e consequentemente a concorrência para se trabalhar com elas é grande. Por isso o músico de hoje precisa desenvolver capacidades de produtor e gerenciar sua carreira ao menos em uma primeira fase, até que tenha um trabalho artístico consistente, com aceitação da imprensa e uma base mínima de fãs que o apoie nas mídias sociais e frequente seus shows. Para aí sim ter um produto interessante e encontrar profissionais mais qualificados para inserí-lo no mercado institucional da música independente.

Uma das formas para o novo artista ampliar seu alcance é iniciar a produção de uma noite em parceria com alguma casa que tenha afinidade com o seu trabalho. Esta prática permite que a banda esteja em constante atividade, e não se distancie por muito tempo do palco, já que este ainda é o lugar mais efetivo para o artista iniciante fidelizar ou fazer um fã. É também boa hora para estabelecer parcerias com outros músicos, contribuir para a circulação de bandas de outros estados e trocar público com elas. Criar uma noite e projetar-se como o artista residente anfitrião, recebendo um convidado diferente a cada edição. Obtendo assim uma moeda de troca para articular com outros agitadores culturais e encontrar seu espaço na cena.

Portanto o músico que quer seguir carreira artística atualmente, precisa assumir um papel multidisciplinar, postura de produtor e tomar a frente de todas as etapas de realização de sua música. Trabalhar para que todos os serviços antes oferecidos pelas gravadoras sejam realizados profissionalmente, através da lógica do mercado independente. Por meio de parcerias construtivas desenvolver uma cadeia produtiva e alimentá-la sempre que possível, dando a sua contribuição para a manutenção de um mercado cultural sustentável.

Ou seja, o desafio que hoje se concentra na busca pela estabilidade de um mercado em construção, pode ter solução na mudança de mentalidade do músico. Muitos dos festivais de música independente que temos hoje, nasceram da iniciativa de artistas que buscavam condições melhores para suas apresentações e acabaram crescendo como produtores. A mobilização em prol da causa indie já acontece e não é novidade, e foi justamente a responsável por muitas das conquistas que as novas gerações da música brasileira desfrutam hoje. Sendo assim temos que elevar a concepção do artista e do músico para a de um profissional liberal que fomenta a economia criativa do país e tratar com mais seriedade a profissão daqueles que optam por viver da arte. O mercado independente está em ascensão para aqueles que tem visão e iniciativa empreendedora. O músico precisa estar ligado aos novos processos de produção cultural e entender melhor do que ninguém sobre sua atividade, para assim criar alternativas e soluções para a comercialização da sua obra em um novo tempo.

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