Ex-presidente da Fifa e da CBD, Havelange foi dirigente lendário
Filho do belga Faustin Havelange, um comerciante de armas radicado no Rio, Jean-Marie Faustin Goedefroid de Havelange, o João Havelange, nasceu em 8 de maio de 1916, na capital fluminense, e desde muito jovem teve a sua vida ligada ao esporte.
Atleta desde cedo, chegou a ser campeão carioca juvenil de futebol em 1931 com a camisa do Fluminense, seu clube do coração, aos 15 anos de idade. Porém, foi por meio da natação que começou a aparecer pela primeira vez como figura de destaque no mundo esportivo. Em tempos de amadorismo do esporte no Brasil, ele dividiu a vida de atleta por um período com a de estudante de Direito, pela qual se graduou pela Universidade Federal Fluminense na década de 30.
Como nadador, defendeu o Brasil na Olimpíada de Berlim, em 1936, e depois disputou os Jogos de Helsinque, em 1952, como jogador de polo aquático. Quatro anos depois, liderou a delegação brasileira na Olimpíada de Melbourne. Em 1955, por sua vez, foi medalhista de bronze nos Jogos Pan-Americanos da Cidade do México.
E, antes de encerrar a carreira de atleta, Havelange já começou a traçar a sua trajetória como dirigente. Em 1948, na primeira experiência como cartola, ocupou um cargo na Federação Paulista de Natação, quatro anos antes de se tornar presidente da Federação Metropolitana de Natação e vice-presidente da Confederação Brasileira de Desportos, a extinta CBD.
E não demorou para que Havelange se tornasse presidente da CBD em 1956, cargo que ocupou até 1974. A entidade, que cumpria o papel que hoje é da CBF, congregava 24 esportes, entre eles o futebol. No período da sua gestão, o Brasil ganhou as suas três primeiras Copas do Mundo, em 1958, 1962 e 1970.
O sucesso à frente da CBD foi um trampolim para sua chegada à Fifa. E ele presidiu a entidade máxima do futebol mundial entre 1974 e 1998, antes de ser sucedido por Joseph Blatter, seu ex-secretário – o posto é hoje ocupado pelo suíço Gianni Infantino.
Na Fifa, Havelange conseguiu fazer com que um caixa, antes deficitário, passasse a ostentar um patrimônio estimado de US$ 4 bilhões, fato que também levantou suspeitas de corrupção. Ele se tornou o primeiro homem – e único até hoje – de fora do continente europeu a ocupar o cargo mais alto da Fifa.
Considerado um dos maiores dirigentes de todos os tempos, Havelange foi eleito como membro do Comitê Olímpico Internacional em 1963 e seguiu no COI até o final de 2011, quando renunciou ao posto depois de ser acusado de corrupção em um caso envolvendo a agência ISL, que trabalhava com o marketing da Fifa.
Ele pediu demissão do cargo após o Comitê de Ética do COI exigir punições pesadas. Havelange corria o risco de ser condenado e expulso da entidade por corrupção, mas preferiu sair antes, alegando razões de saúde.
Altamente influente como dirigente, Havelange era ex-sogro de Ricardo Teixeira, que em março de 2012 renunciou ao cargo de presidente da CBF. Teixeira teve o nome envolvido no mesmo caso de corrupção da ISL, que ajudou a manchar a reputação do seu padrinho na entidade que dirige o futebol brasileiro.
Em julho de 2011, o dossiê do caso ISL, já encerrado pela Justiça suíça, veio a público e revelou que Havelange e Teixeira receberam R$ 45,5 milhões de suborno relacionado à venda dos direitos comerciais de Copas do Mundo durante os anos 1990.
Na semana seguinte à revelação do dossiê, a Fifa aprovou uma nova versão de seu código de ética, cuja maior novidade foi o fim da prescrição para casos de suborno e corrupção.
Blatter, pressionado a limpar o nome após recentes escândalos de corrupção da Fifa, passou a apoiar a saída de Havelange do cargo, alegando que o ex-presidente da entidade não poderia “continuar após esses incidentes”. E Havelange renunciou, em abril de 2013, ao cargo de presidente de honra da Fifa.
Desde então, estava longe dos holofotes. Em julho chegou a passar um período internado em um hospital por causa de uma pneumonia. Agora, aos 100 anos, faleceu no Rio.
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