Assad propõe acordo de delação e diz ter repassado R$ 100 mi a ex-chefe da Dersa

  • Por Estadão Conteúdo
  • 05/03/2017 12h31
José Cruz/Agência Brasil Na decisão que manda prender Adir Assad

O operador financeiro Adir Assad propôs um acordo de delação premiada à Lava Jato no qual afirma ter repassado cerca de R$ 100 milhões para Paulo Vieira de Souza, ex-diretor da Desenvolvimento Rodoviário S/A (Dersa), entre 2007 e 2010, na gestão José Serra (PSDB). Preso na carceragem da Polícia Federal em Curitiba desde agosto do ano passado, Assad é apontado como o maior emissor de notas frias para lavagem de dinheiro de empreiteiras suspeitas de envolvimento no escândalo de corrupção na Petrobras.

Na negociação, Assad assumiu ter usado suas empresas de fachada para lavar recursos de empreiteiras com obras viárias em São Paulo, entre elas a Nova Marginal Tietê, o Rodoanel e o Complexo Jacu-Pêssego.

Assad disse também como funcionava seu esquema de fornecimento de dinheiro em espécie para caixa 2 de construtoras. Segundo ele, as empreiteiras subcontratavam suas empresas, o valor das notas frias era transformado em dinheiro e as companhias indicavam os beneficiários dos recursos. Entre 2007 e 2012, o “noteiro” movimentou cerca de R$ 1,3 bilhão em contratos fictícios assinados com grandes construtoras.

O operador prometeu revelar detalhes sobre o esquema de Souza na Dersa, como, por exemplo, as características de um suposto imóvel onde o dinheiro em espécie era armazenado. A reportagem apurou que o empresário chegou a afirmar ter conhecimento sobre nomes de políticos contemplados com os repasses oriundos de empreiteiras. Ele, porém, não tratará dessas autoridades em seu acordo porque disse não ter provas para corroborar sua versão, uma vez que apenas lavava o dinheiro e entregava os montantes aos operadores indicados.

Ainda sobre Souza, Assad disse que o conheceu há mais de 15 anos, quando os dois eram triatletas. Afirmou que o ex-diretor da Dersa centralizava todos os repasses das empreiteiras responsáveis por obras na estatal do governo de São Paulo. Segundo Assad, o ex-diretor da Dersa o apresentou a representantes das maiores construtoras do País.

A reportagem apurou que Assad também propôs aos procuradores elaborar um mapeamento sobre o funcionamento do sistema financeiro paralelo das construtoras responsável por abastecer as contas de suas empresas. Outro tema abordado pelo operador foi sobre como firmas sem prestar serviços e sem ter funcionários conseguiram movimentar uma quantia bilionária nos bancos brasileiros.

Defesas – O criminalista Miguel Pereira Neto, que defende Adir Assad, disse que “não é de conhecimento da defesa técnica a existência da colaboração premiada” e negou que tenha sido firmado qualquer acordo de colaboração. O senador José Serra (PSDB-SP) disse que não comentaria o caso. Paulo Vieira Souza, ex-diretor da Desenvolvimento Rodoviário S/A (Dersa), não havia respondido aos questionamentos enviados pela reportagem até a conclusão desta edição. 

Por meio de nota, a Dersa afirmou que, “em todos os empreendimentos mencionados pela reportagem, firmou contratos de obras apenas com os consórcios executores que venceram as respectivas licitações” e não com as empresas de Assad. Ainda segundo a estatal, em 2011, foi criado um departamento de Auditoria Interna e implantado um Código de Conduta Ética, “aprimorando a análise e a fiscalização dos contratos dos empreendimentos de modo permanente e organizado”. 

Conforme a estatal, depois de tomar conhecimento de denúncias envolvendo os empreendimentos Rodoanel Sul, Nova Marginal do Tietê e Complexo Viário Jacu-Pêssego, em 2016, a Dersa “instalou e conduz procedimento apuratório para averiguar possíveis irregularidades”. “A Companhia não compactua com irregularidades e se mantém pronta para colaborar com as autoridades no avanço das investigações”, concluiu a nota da estatal paulista.

Por meio de sua assessoria, a Andrade Gutierrez, em nome do consórcio SVM, disse que não iria se manifestar sobre o tema. A Andrade já assinou um acordo de delação e agora negocia um recall para abordar outras pagamentos irregulares em obras ainda não citadas em sua colaboração. 

Questionada em nome do Consórcio Rodoanel Sul 5 Engenharia, a OAS não respondeu aos contatos da reportagem. A defesa da Delta Engenharia não foi encontrada para comentar os pagamentos para as empresas de Assad. Como revelou a reportagem, Fernando Cavendish, proprietário da Delta, também negocia um acordo de colaboração com a Lava Jato no Rio de Janeiro, no qual promete entregar detalhes sobre irregularidades em obras conquistadas pela empresa, entre elas, a Nova Marginal Tietê citada na reportagem.

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