Acabar com meia-entrada não deixará os ingressos mais baratos, afirma UNE
Extinção de ingressos reduzidos é defendida pelo Ministério da Economia e tema de debate na Agência Nacional do Cinema; entidade estudantil afirma que é preciso mais fiscalização para evitar fraudes
A extinção da meia-entrada para cinemas defendida pelo Ministério da Economia não deixará os ingressos mais baratos, afirma a União Nacional dos Estudantes (UNE). A medida foi colocada em debate pela Agência Nacional do Cinema (Ancine) para discutir os seus impactos no mercado diante da redução da venda de ingressos inteiros nos últimos anos. As discussões estão abertas para contribuições até 13 de agosto. A UNE ainda analisa se participará do debate. “A meia entrada nunca foi obstáculo para a sustentabilidade das atividades culturais, pelo contrário, sempre promoveu e incentivou a formação de plateia. Acabar com a meia-entrada não irá baratear o preço dos ingressos, ninguém acredita nisso”, afirma Iago Montalvão, presidente da entidade estudantil.
A UNE reconhece que há falhas na verificação das carteiras de estudante, e que a falta de rigor na fiscalização gera oportunidades para fraudes. “Infelizmente na maioria das salas de cinema do Brasil essa verificação ainda não é feita, fazendo com que pessoas que não são estudantes e, portanto, não deveriam ter acesso ao direito, paguem a meia-entrada, impactando na receita de quem vende o ingresso”.
A Ancine justifica o debate pelo crescimento de usuários que usam o preço reduzido para ter acesso ao cinema. Segundo dados do Sistema de Controle de Bilheteria (SBC), 80% dos ingressos vendidos em 2019 foram de meia-entrada. Um levantamento feito com mais de 3 mil salas em todo o país apontou que a venda de ingressos na categoria inteira, que era de aproximadamente 30% em 2017, caiu para 21,6% no ano passado. As meias-entradas são dividas em legais, promocionais — por meio de parcerias com bancos ou operadores de telecomunicações, por exemplo—, ou cortesia. Há três leis federais que dão acesso com preço menor para estudantes, jovens de baixa renda, pessoas portadores de deficiências e idosos. A estimativa da Ancine é que 96,6 milhões de pessoas — ou quase metade da população brasileira —, se encaixem em uma dessas categorias. Além disso, há leis editadas por estados e municípios que ampliam o benefício para outros públicos.
Para Montalvão, a análise da Ancine é tendenciosa e não contextualiza a redução de expectadores nas salas de cinema por causa da pandemia do novo coronavírus. “Os impactos causados pela pandemia da Covid-19, agravados pela completa falta de gestão e de projetos para a área e a resiliente crise econômica dá contornos dramáticos ao mercado de entretenimento”, diz. Segundo o presidente da UNE, também falta maior atenção do setor na ampliação de salas de cinema para fora dos grandes centros. “Nesse sentido, política de meia-entrada, nos termos da pactuação original da lei, 40% de meia entrada (inclusive para idosos), e a ampliação da fiscalização para combater as fraudes, são ações concretas para a renovação de público, tão importantes para o mercado de entretenimento”.
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