Candidata do PSL em MG afirma que ministro a chamou pra ser laranja

  • Por Jovem Pan
  • 07/03/2019 09h50 - Atualizado em 07/03/2019 09h51
Reprodução A então candidata Zuleide Oliveira com o atual ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio A então candidata Zuleide Oliveira com o atual ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio

Zuleide Oliveira, candidata a deputada estadual do PSL em Minas Gerais nas eleições de 2018, afirmou ao jornal Folha de S. Paulo desta quinta-feira (7) que o atual ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, a chamou pessoalmente para ser uma candidata laranja do partido. Ela é a primeira a implicar diretamente o hoje ministro no esquema de desvio de dinheiro público por meio de candidaturas de laranjas da sgila do presidente Jair Bolsonaro.

Segundo Zuleide, ela se encontrou com Álvaro Antônio em seu escritório parlamentar, em Belo Horizonte, em 11 de setembro. Na ocasião, ela estava acompanhada do marido e de um amigo. “Acredito, sim, que fui mais uma candidata-laranja, porque assinei toda a documentação que era necessária e não tive conhecimento de nada que eu estava fazendo Fui usada, a minha candidatura foi usada para fazer parte de uma lavagem de dinheiro do partido”, afirmou Zuleide à Folha.

Ela disse que, neste encontro, Álvaro Antônio insistiu para que ela assinasse o requerimento de solicitação da verba, endereçado ao então presidente nacional do PSL, Gustavo Bebianno, demitido no mês passado.

“Ele [ministro] disse pra mim assim: ‘Então a gente vai fazer o seguinte: você assina a documentação, que essa documentação é pra vir o fundo partidário pra você. Para o repasse ser feito, você tem que assinar essa documentação. E eu repasso a você R$ 60 mil, e você tem que repassar pra gente R$ 45 mil. Você vai ficar com R$ 15 mil para sua campanha. E o material é tudo por nossa conta, é R$ 80 mil em materiais'”, contou ela.

De acordo com ela, a possibilidade de ser candidata surgiu no fim de julho com um telefonema de uma assessora de Álvaro Antônio, Cláudia. Ela perguntou se Zuleide não gostaria de sair deputada estadual pelo PSL. Após o convite, ela foi para a convenção estadual do partido, na Câmara Municipal de Belo Horizonte, em 28 de julho, quando teve o primeiro contato com Álvaro Antônio. Após isso, Rodrigo, o assessor do político, passou a enviar mensagens solicitando documentos.

Zuleide acabou tendo o pedido de registro de candidatura indeferido pela Justiça Eleitoral devido a uma condenação em 2016, transitada em julgado, por uma briga com outra mulher. Ela enviou a sentença ao PSL de Minas por e-mail no final de agosto.

“Eles já sabiam que não ia dar em nada [a candidatura, por ser ficha suja]. Hoje eu sei que eles sabiam que não iam aparecer meus votos, que eu não ia conseguir concorrer às eleições porque eu estava com os direitos políticos suspensos. Eles sabiam de tudo isso. Ele quis falar para mim que não ia dar em nada [a condenação não seria problema] pra mim poder preencher a chapa”.

Em 19 de setembro, ela fez uma denúncia ao Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais, mas obteve apenas uma resposta protocolar da Justiça Eleitoral.

Passados cinco meses das eleições, Zuleide ainda não apresentou a prestação de contas à Justiça por se recusar a atender aos pedidos de dirigentes do PSL. A candidata afirma nunca ter ido ao banco ver os extratos.

Ela afirma não saber se algum dinheiro foi depositado porque o controle das contas bancárias ficou, segundo ela, com os dirigentes do partido. “Eu não entendia de nada, eles que fizeram tudo [para registrar a candidatura], eu não tirei uma certidão minha, eles tiraram por lá, eu só enviei meu documento e eles fizeram tudo”, disse.

Zuleide diz que recebeu 25 mil santinhos —em todos eles, Álvaro Antônio aparece dividindo o espaço— em 25 de setembro, em Belo Horizonte. Nem o PSL de Minas nem o PSL nacional declaram à Justiça gastos com a candidata.

Ministro não se recorda de encontros

Por meio de nota, o ministro Álvaro Antônio afirmou não se lembrar de encontros específicos com Zuleide e negou que tenha feito oferta de valores do fundo ou pedido de devolução de dinheiro a ela. “Em setembro, Marcelo Álvaro Antônio recebeu diversos pré-candidatos e eleitores na sede do PSL. Ele não se lembra ter se reunido especificamente com a sra, Zuleide. O ministro jamais ofereceu ou pediu a devolução de qualquer valor, seja do fundo eleitoral ou de qualquer outra fonte, à sra. Zuleide”, diz o texto.

Disse ainda que o PSL forneceu material de campanha aos seus candidatos e que “as despesas do partido foram devidamente declaradas à Justiça Eleitoral na prestação de contas”, não especificando se de forma individual ou coletiva. “O partido respeitou a impugnação declarada pela Justiça Eleitoral da candidatura da sra. Zuleide.”

O ministro reiterou na nota que não houve qualquer candidatura laranja no PSL de Minas Gerais. “A campanha político-partidária da Folha de S.Paulo contra o ministro Marcelo Álvaro Antônio, citado em mais de 100 matérias desde 04 de fevereiro, ultrapassou todos os limites do razoável. Ao julgar, condenar e atacar a honra do ministro, o jornal e os jornalistas agiram de forma leviana e, por isso, estão sendo processados.”

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